No acumulado do semestre, os filés, entre eles os de pescadinha e de abrótia (o bacalhau brasileiro) tem liderado a lista dos produtos mais vendidos, diz Agostinho. Mas quando pinta peixe de época, como a tainha ou o charutinho, aí não tem concorrência. O fator que mais contribui para o consumo ainda é a safra, ou seja, peixe de safra vende mais, provavelmente em função do menor preço, analisa o bagrão da Sepesca. Este ano, no entanto, vendeu-se menos tainha e sardinha que na temporada passada, por conta da safra minguada dos dois pescados.
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O povão do São Viça, o segundo bairro mais populoso da cidade, é de longe o que mais consome os escamosos do caminhão do peixe, diz Carlos de Paula Seára Sobrinho, o Calinho Canela. Em todos os pontos vende bem, mas no São Vicente é um estouro, afirma. No São Roque, um bairro com características de zona rural, é que a venda não deslancha, informa ainda Calinho Canela.
Só no ano passado, cerca de 75 toneladas de pescado foram vendidas pro povão de Itajaí através do caminhão do peixe. Mais de 22 mil pessoas em todas as regiões da cidade compraram escamosos na peixaria sobre rodas em 2010.
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Programa tem orçamento de R$ 150 mil por ano
O objetivo do programa Peixe nos Bairros, criado há cinco anos, é incentivar o consumo de escamosos entre a população da cidade que é considerada o maior pólo pesqueiro da América Latina. Aguinaldo Hilton dos Santos, chefão da Sepesca, faz questão de dizer que a intenção não é fazer concorrência com as peixarias ou com os mercados de peixe do centro, São Vicente ou Cidade Nova. O programa ajuda a fortalecer cada vez mais a cultura do consumo do pescado, ao levar o produto a preço de indústria a todos os bairros, argumenta.
No orçamento deste ano da prefa tão destinados R$ 150 mil pra manter o programa. O dinheiro é usado pra manutenção do caminhão, incluindo o combustível e para bancar o convênio que a prefa tem com o sindicato da Indústria da Pesca de Itajaí e Região (Sindipi). É o sindicato quem contrata o coordenador do programa e mais dois atendentes, além de comprar o peixe direto da indústria a preço de custo.
Itajaí foi pioneira
Desde janeiro deste ano cerca de 50 caminhões atuam em cidades pelo Brasil afora. A ideia de botar uma peixaria num caminhão e sair rodando pelos bairros da cidade pra oferecer pro povão peixe bom e barato, nasceu em Itajaí, que foi a pioneira do programa em parceria com o ministério da Pesca. Em dezembro do ano passado, a city peixeira ganhou um brutus novinho em folha do governo federal e o caminhão que tava pelaqui foi mandado pra Floripa. O novo caminhão é menor e mais ágil e por isso consegue chegar em mais comunidades. Hoje são 45 pontos de venda em Itajaí.
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Charutinho tá sempre na lista de compras de mecânico e dentista moradores de Itajaí
O mecânico Ivonei dos Santos, o Nei, 47 anos, mora no bairro São João, mas ontem estava no Costa Cavalcante, nos Cordeiros, entre o povão que escolhia qual escamosoo iria levar pra casa. Tava passando, vi o caminhão e parei pra comprar, confessou.
Nei teria direito a um cartão fidelidade do programa Peixe nos Bairros, pois frequenta a peixaria ambulante desde que ela começou a rodar pela cidade, em 2006, quando ainda era um projeto piloto. É uma coisa muito bacana, valoriza a comunidade levando sempre peixe bom e limpinho, comenta.
Perguntado sobre qual tipo de peixe costuma levar pra casa, ele solta: Sou de família de papa-siri, sempre compro um charutinho, que é o tradicional e fritinho é muito bom. Mas Nei, que tem uma mecânica especializada em rodas de liga leve no São João, também costuma comprar corvina e filés. E tem a tainha no tempo dela, né!?, lasca ainda.
O dentista Jackson Silva, 38 anos, aproveitou uns minutinhos de folga no postinho de saúde do Costa Cavalcante pra entrar na fila do caminhão do peixe. Eu compro peixe toda semana nas peixarias, mas quando o caminhão está por aqui, facilita bastante, afirma.
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Mas não é apenas a praticidade de encontrar o pescado próximo de onde trabalha que fez o dotô virar cliente do caminhão há mais de um ano: É bem mais em conta, às vezes até 40% mais barato que nas peixarias, diz.
Jackson mora na Fazenda. O que mais compra, revela, são os filés de abrótia, linguado e pescado. Mas também o charutinho, faz questão de dizer o dentista, que é natural de Itajaí.
Tanto pro dentista quanto pro mecânico, a grande sacada do caminhão do peixe é levar um alimento que consideram saudável, praticamente na porta da casa do povão. Peixe é saúde, discursa Jackson. E as pessoas de posses média e baixa podem comprá-lo barato, completa Nei.