As mulheres representam 70% das vítimas da violência doméstica praticada pelos próprios maridos ou por seus ex-companheiros, afirma a dotôra. Os outros 30% dos casos de porradas dentro de casa tem a ver com brigas entre jovens, quase sempre namorados.
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Casos não são levados pra frente
Mesmo com tanta violência, nem 20% dos casos chegam à justiça. O que pra juíza criminal Sônia Mazzetto Moroso é algo alarmante. No ano passado, diz a dotôra, dos cerca de 1500 boletins de ocorrência registrados por pessoas agredidas dentro de casa, apenas 300 foram parar na dona justa.
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Os números demonstram que a mulherada tem medo de levar adiante o processo e botar na cola do maridão ou do ex metido a machão. Pra Sônia Moroso, duas razões explicam esse medo todo: a dependência financeira e o machismo que tá arraigado na sociedade. Existe aquela cultura de que o homem é o patrão e manda. Então, a mulher fica submissa, analisa a dotôra.
Pra ela, um motivo tá ligado ao outro. A partir daí, tem também a questão financeira. Elas não conseguem encerrar esse ciclo porque dependem financeiramente do marido. Isso acaba mantendo o quadro de violência, completa.
ONG protege a mulherada agredida
Por iniciativa da própria juíza, foi criada em Itajaí, em 4 de maio, a ONG Estrela de Isabel. A entidade tá com uma sede provisória no fórum peixeiro e seu objetivo é proteger a mulherada que apanha do marido. As vítimas de violência enquadradas na lei Maria da Penha têm auxílio psicológico e são encaminhadas pra tratamento de saúde ou assistência jurídica, conforme o caso. Os voluntários da ONG atendem de segunda a sexta-feira, das 14h às 18h.
A ONG já ganhou uma baia no centro de Itajaí pra abrigar a mulherada agredida durante um período de 30 dias. Falta só a mobília. Esperamos que saia ainda em 2011, diz a dotôra, que prefere não revelar o endereço do local pra preservar a segurança das futuras hóspedes.
Dona de casa torturada não quer denunciar o ex
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O que aconteceu com a dona de casa E.T.V., 51 anos, dá uma ideia de como é grave essa situação. Ela é uma das centenas de vítimas da violência na região. Na segunda-feira foi ao instituto Médico Legal (IML) de Itajaí fazer o exame de corpo de delito. As lesões no rosto e no pescoço davam a noção do tamanho da violência sofrida.
Há pouco mais de uma semana separou-se do marido, de 41 anos, com quem viveu durante três anos. Ele tinha muitos ciúmes e, por isso, me batia muito, sem dó. Dizia que tava de olho em mim e no que eu tava fazendo , contou. Dona E. relatou ao DIARINHO que depois de amarrar seus braços na cabeceira da cama, o ex passou a espancá-la com tapas e socos no rosto.
Mesmo com toda a tortura sofrida E. já tomou a decisão: até fez o exame pra comprovar a violência, mas não não pretendia oficializar a denúncia contra o agressor. Ele disse que se eu fosse à polícia, pegaria minha filha na saída da faculdade. Para protegê-la, eu não o denuncio, argumentou, completando: Ele está sempre me perseguindo.
Pra advogado, mulherada tem que denunciar
Pro advogado Flávio Schlickmann, membro da comissão de Direitos Humanos da ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Itajaí, a mulherada tem que perder o medo e denunciar as violências sofridas. Quem cala, tá arriscado a apanhar de novo. Não levar em frente uma representação de agressão doméstica é relevar uma violência hoje e futuramente ser vítima de novas agressões, alerta.
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O dotô explica que no caso da lei Maria da Penha, que trata dos casos de violência contra a mulher, não basta um registro de ocorrência na depê pro caso ir pra frente. A vítima precisa fazer o exame de corpo de delito pra comprovar que apanhou e depois voltar na delegacia pra formalizar a representação criminal contra o agressor. Mesmo quando o caso chegar à dona justa, a lei ainda prevê que a vítima pode retirar a queixa formal contra o machão brucutu.
Ciúme e inveja motivam violência
A psicóloga Jacqueline de Oliveira, que estuda a violência doméstica, diz que as reações desencadeadas pela agressão, tanto física quanto verbal, são devastadoras para as vítimas. O psicológico dessas mulheres fica estraçalhado. Elas perdem o chão. Ficam dentro de um buraco e não conseguem mais sair, de tão inferiorizadas, analisa a sabichona.
A maioria das agressões, avalia Jaqueline, é motivada por ciúmes doentios e inveja da posição financeira da companheira. O ato da violência, que varia de acordo com a personalidade do agressor, é verificado com mais frequência em sujeitos incapazes de resolver um problema num conversê. Faz parte da dinâmica do ser humano. Quando ele não consegue colocar através de palavras, transforma em ato, explica. Apesar dessa característica particular, a psicóloga diz que os agressores, geralmente, são pessoas idôneas e bem vistas na sociedade. Talvez por isso muitas mulheres não os denunciem, pois eles as agridem só quando estão bêbados ou drogados. Em sã consciência, são bons maridos, conclui a especialista.
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