Itajaí viverá amanhã uma das maiores batalhas judiciais da sua história. De um lado estão familiares, amigos e parte da sociedade que esperam justiça pela morte de Rafael Rodrigues Mendonça, então com 20 anos, atingido com um tiro em 28 de novembro de 2003 pela polícia Militar ao ser supostamente confundido com um assaltante de banco. De outro, o soldado Hermelino Noé Caetano, 41, um policial até então com ficha exemplar, acusado de ser um dos autores do disparo que atingiu Rafael no momento em que o rapaz levantava as mãos e pedia para não atirarem porque não era bandido.
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O júri popular tá marcado pra começar às 9h da manhã. Um julgamento esperado há sofridos mais de sete anos e meio. Nunca participamos de um julgamento e ainda mais a nosso favor. Esperamos que ...
O júri popular tá marcado pra começar às 9h da manhã. Um julgamento esperado há sofridos mais de sete anos e meio. Nunca participamos de um julgamento e ainda mais a nosso favor. Esperamos que a gente tenha paz e tranqüilidade e que o acusado receba a pena no final, disse ontem ao DIARINHO o vigilante Edson Braz Mendonça, 55 anos, pai de Rafael.
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A sensação de paz que a família do rapaz morto espera encontrar não era ontem a que o soldado Noé vivenciava. Estou preocupado. Muito preocupado, admitiu ao DIARINHO.
A juíza Sônia Moroso, da 1ª vara criminal de Itajaí, não tem dúvidas do tamanho do pepino que terá que descascar. Será um júri muito trabalhoso e um dos maiores que Itajaí já teve pela repercussão popular, limitou-se a dizer, sem querer comentar qualquer outro aspecto do julgamento.
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Uma das determinações da juíza é que não haja qualquer manifestação dentro do tribunal de quem for assistir ao júri. Ou seja, nada de camisetas com dizeres, por parte de familiares e amigos de Rafael, e de fardas, por parte dos policiais que irão dar seu apoio ao soldado Noé.
Ontem, a juíza começou a distribuir as 220 senhas para quem foi autorizado a assistir ao tribunal.
Oficial também é acusado mas ainda não foi a júri
Esse vai ser um julgamento histórico não apenas pela repercurssão social. É que o processo, além de levar uma eternidade pra ser concluído, tá baseado numa investigação cheia de falhas e contradições. Além disso, há um outro suspeito do crime, o hoje tenente-coronel Almir da Silva, que na época era capitão e recebeu tratamento diferenciado durante as investigações.
Rafael foi morto pouco depois do meio dia de 28 de novembro de 2003, quando a polícia caçava dois bandidos de São Paulo que assaltaram o posto do banco do Brasil que funcionava dentro do porto. As contradições começam pelas declarações dadas pelos policiais, desmentidadas por eles próprios mais tarde. Uma delas - a que mais revoltou - era a que Rafael eram um dos assaltantes e que a polícia só atirou porque reagiu aos tiros disparados pelos bandidos.
Não foi difícil descobrir que Rafael tinha saído do shopping Itajaí e se dirigia à J. Macedo, antigo Moinho Peônia, que fica na rua Blumenau e onde trabalhava. Naquele dia, o rapaz havia sido promovido no trampo. Isso, sem contar que as investigações apontaram que nenhuma bala foi disparada pelos bandidos.
As armas usadas pelos policias na ação não foram recolhidas na hora para perícia. A PM levou duas semanas pra entregar os três revólveres e a submetralhadora MT12 para serem periciadas. Os peritos, por sua vez, não souberam apontar de qual das armas saíram os tiros e se limitaram a dizer que foi de uma arma de calibre similiar à submetranca que Noé usava.
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Promotora que pediu pra arquivar o caso, procurador geral do Ministério Público que mandou reabrir e o indiciamento do oficial Almir como suspeito vários anos depois do crime ainda fazem parte das esquisitices que fizeram parte da história da apuração da morte de Rafael e que culminou no julgamento do primeiro suspeito, na quarta-feira desta semana.