A servente Janaina Noronha de Oliveira, 33 anos, perdeu tudo na última enchente. Assim que recuperou os móveis e roupas, ela fez questão de construir um segundo andar na casa, pro caso de novos alagamentos. E a providência foi válida. Na madrugada de ontem, ela e o marido subiram todos os móveis pro segundo piso antes que a água invadisse a casa.
Pela manhã, quando enfim a rua Caçador começou a ficar alagada, Janaina já estava isolada no segundo andar com a família. Nós vamos ficar aqui em cima torcendo pra que a água não nos alcance, comentou, abraçada à filhinha caçula. Enquanto Janaina observava a movimentação dos moradores do Bambuzal deixando suas casas, ela aguardava o retorno do marido, que tinha saído pra comprar comida.
Passou pra conferir
Quando o assunto é enchente, a zeladora Ana Paula da Silva, 31, se diz calejada. Ela subiu todos os móveis e foi com a família pro apartamento de uma amiga. Mesmo assim, ontem de manhã ela resolveu dar um pulinho no Bambuzal pra conferir como estava a situação. E se impressionou com a rapidez com que a água subiu. Era 10h30 quando Ana Paula saiu de vez da casa e deixou os pertences lá, sem saber como os encontrará quando a água descer. Quando eu cheguei de manhã, começou a entrar água. Num instante já tava na altura do meu joelho, daí tive que sair, contou a zeladora.
De olho no rio
Moradores de tudo quanto é bairro se amontoaram na beira do rio Itajaí-mirim, entre as comunidades Nova Brasília e Bambuzal. Ao contrário dos curiosos, dona Maria Ramos Dauer, 65 anos, não era uma observadora por opção, mas por cautela. Ela mora com o marido há 37 anos na mesma casinha na rua Caçador, às margens do Itajaí-mirim. Pela janela da baia ela observava a sujeirada passando rio abaixo e o nível da água subindo. Já vi coisa feia com essas enchentes, meu filho! Mas Deus é grande e vai nos proteger, afirmou a senhorinha, que trampa como diarista enquanto não consegue se aposentar.
Pela escada que fica embaixo da casinha que é sustentada por pilares de madeira o marido de dona Maria, Manoel Felipe Dauer, 64, calcula o efeito do aguaceiro nas outras localidades. Nesse tempo todo, nunca chegou água na nossa casa. O máximo foi em 83, que faltou dois degraus. Por isso nem vamos sair de casa, explicou. Manoel garante que, se a água alcançar a altura da casa dele, é sinal que no Bambuzal as baias já estão inundadas até o teto. Mesmo sem acreditar que será atingido, o casal diz que vai ficar atento ao nível do rio pela escada, que funciona pra eles como uma escala métrica. Caso a água suba muito, eles abandonam a residência.
Ficaram de vigias
Além da preocupação com a casa, Vânia Maria Vieira, 27 anos, pensa na situação do marido e de outros dois vizinhos que estão ilhados no Promorar. Pela rua, ela acena pro marido, enquanto fala com ele por telefone. A missão dos três foi ficar acampados na laje de uma das casas pra vigiar as outras baias.
Moro há cinco anos aqui e já perdi tudo uma vez. Ontem consegui tirar meus eletrodomésticos e salvar, coisa que não deu tempo de fazer em 2008. Naquela época foi uma luta, agora vai ser outra. Vamos precisar de força pra reerguer tudo, disse, emocionada, a auxiliar de serviços gerais. Em 2008, a água atingiu 1,8 metro da casa de Vânia. Até o começo da tarde de ontem, já estava com um metro.
Quer ir embora de Itajaí
Reginaldo Maceno Barros, 32 anos, não morava em Itajaí quando aconteceu a enchente em 2008. Desde que veio pro município, vive numa casa cedida pelos patrões, na rua Soldado Abelardo Sobrinho, na Ressacada. O auxiliar de marcenaria diz que foi alertado sobre a possibilidade de sua casa encher de água, no caso de muita chuva. Mas isso não aliviou o sofrimento. Ele cogita voltar pra Paranaguá, no Paraná.
Itajaí é uma cidade ótima, mas não vou suportar passar por isso de novo. Vou voltar pra minha cidade, garantiu Reginaldo, olhando pra casinha, que, às 15h, já estava com água na altura da janela. Na madrugada do dia anterior, o marceneiro conseguiu retirar parte de suas coisas e guardar num galpão na empresa que trampa. Mesmo assim, ele ficou o dia inteiro vigiando a baia. Dá medo que invadam. Por isso fico aqui atento. Vi que meu sofá já tá boiando lá dentro e que os móveis que deixei lá já estão todos molhados, reclamou Reginaldo. Ele vive em Itajaí com a mulher e os três filhos.