Matérias | Entrevistão


Itajaí

JULIO TEDESCO

"Com os financiamentos que existem, barco não é mais artigo de luxo"

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]


Nesse Entrevistão concedido aos jornalistas Adriano Assis e Anderson Silva, e sob os cliques do fotógrafo Minamar Júnior, Júlio Tedesco fala sobre a fundação do grupo, a dificuldade pra construir a marina em Balneário Camboriú, o aquecimento do mercado náutico e os novos investimentos que tem em mente.


Júlio Tedesco herdou mais que o sobrenome e o sangue italiano da família. Ele herdou, principalmente, o espírito empreendedor do pai e do avô que, entre outros feitos, inventaram uma fábrica de ...

 

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Júlio Tedesco herdou mais que o sobrenome e o sangue italiano da família. Ele herdou, principalmente, o espírito empreendedor do pai e do avô que, entre outros feitos, inventaram uma fábrica de celulose, levaram a luz elétrica pra Caçador e ainda vislumbraram que o pontal Sul de Balneário Camboriú um dia seria uma grande atração turística graças aos investimentos da família no local. Júlio Tedesco transformou um momento de dificuldade em impulso pra se tornar um dos empresários mais bem-sucedidos de Santa Catarina. Em três anos perdeu o avô e o pai que administravam a empresa Primos Tedesco e, aos 29 anos, Júlio assumiu a administração da empresa e diversificou os investimentos do Grupo Tedesco, que atualmente se destaca pelo Parque Unipraias, pela Marina Tedesco e pelo Bondinho Aéreo Parque da Colina, o último em Nova Trento.



DIARINHO – Como começou a sua trajetória profissional?

Júlio Tedesco – Eu nasci em Caçador e começou lá na nossa fábrica de papel. Meu avô [Primo Tedesco] e meu pai [Normando Tedesco] tinham casa dentro da fábrica. Eu nasci lá. Fiquei em Caçador até os 14 anos e depois fui pra Porto Alegre estudar e fazer a faculdade. Meu avô saiu de Porto Alegre com 53 anos, a nossa empresa tá fazendo 73 anos. Ele foi pra Caçador porque tinha um sonho. Ele tinha uma literatura italiana que explicava como se fazia pasta pra fazer papel com madeira. Esse era o sonho dele. Então ele tinha uma empresa em Porto Alegre que fazia arruamento. Meu avô não tinha o segundo grau completo, mas tinha o teodolito [equipamento usado na topografia pra medir ângulos], que era o que fazia as medidas das ruas. Ele pegou esse teodolito, ele e minha avó [Henriqueta Tedesco], venderam a empresinha deles lá e foram pra Caçador, porque lá já tinha um pessoal que era descendente de italianos e naquela época eles andavam de trem. Quando chegou a Caçador, perguntou onde ficava uma queda d’água, porque ele queria fazer essa pasta com equipamento hidráulico. Ele comprou essa área, que é onde nós temos o nosso complexo de celulose de papel. Aí ele começou, fez uma fabriqueta [fábrica pequena], ele e minha vó moravam em cima dessa fabriqueta. Caçador é uma cidade muito fria, eles sofreram bastante. Ele conseguiu fazer a fábrica e produzir a pasta pra fazer papel e vendia essa pasta pras fábricas do Paraná. Ia tudo de trem. Naquela época os madeireiros cortavam aquelas florestas de araucária, faziam madeira pra vender pro exterior e sobravam os resíduos. Eu ia junto com os motoristas porque as serralherias nos davam aqueles resíduos, pois não serviam pra eles. Isso era a matéria-prima pra fábrica do meu avô. Eu estudava de manhã no colégio que tinha dentro da fábrica, dentro da vila operária. Nós tínhamos uma vila operária com 400 casas porque a cidade era longe e não tinha como se locomover. Aí meu pai e meu avô mantinham uma escola com professor e tudo, tudo mantido pela empresa. Nós estudamos uma grande parte do segundo grau ali com os filhos dos funcionários. Minha vida começou assim. Meu pai também começou trabalhando na fábrica, ele era representante comercial, cuidava de toda a comercialização do produto, nessa época já tinha fábrica de papel. Depois eu fui pra Porto Alegre, estudei e fiquei lá. Porque fizemos uma fábrica de caixa de papelão em 1963. Aí comecei a ficar dentro dessa fábrica pra ajudar a cuidar. [Aí já partiu pro ramo da administração?] Aí já fiquei na parte de administração. Meu avô faleceu em 1975 com 88 anos e meu pai, que era filho único, faleceu três anos depois com 69 anos. Eu tinha 29 anos e assumi a presidência do grupo. Nossa família era meu avô, meu pai, que era filho único e teve dois filhos: eu e o Marco [Antônio Tedesco]. Eu assumi a presidência do grupo todo com 29 anos. [Seu irmão trabalhava na fábrica?] Meu irmão trabalhava na fábrica, mas na parte industrial e eu cuidava mais do comercial. [O grupo Tedesco continua investindo nesse ramo?] Sim, em Caçador nós fabricamos celulose, o papel pra caixa de papelão, o papel kraft [tipo de papel fabricado a partir de uma mistura de fibras de celulose curtas e longas, provenientes de polpas de madeiras macias. Esta mistura de fibras confere a este tipo de papel características de resistência mecânica com bom desempenho pro seu processamento em máquinas], nossa celulose de fibra longa e nós estamos montando uma fábrica de saco de papel. Os supermercados estão com problemas com as sacolas plásticas [proibidas em muitas cidades], e este mercado está aquecido. Estamos há três anos desenvolvendo o papel, compramos um maquinário todo alemão e agora no início de 2012 vamos começar a fabricação desses sacos de papel. Uma diversificação. [Seu avô então teve grande contribuição pro desenvolvimento do município de Caçador?] Com certeza, na época lá não tinha nem energia elétrica. Ele fez a primeira usina hidrelétrica que abastecia a cidade. Então nós tivemos a primeira concessão pra fornecimento de energia pra Caçador. Isso foi em 1948 ou 49 que ele idealizou e em 1952 começou. Caçador se desenvolveu pela energia que meu avô fez. Hoje a gente fez um acordo com a Celesc. Eles ficaram com o abastecimento de energia pra cidade e nós ficamos com a usina. Essa usina fica distante cerca de 50 km de Caçador, então imagina naquela época. Certo de que lá tinha um salto bom [de água], ele foi a cavalo pra lá, descobriu o salto, idealizou a usina e ainda teve que levar os equipamentos. Foi um problema sério. Imagina, no meio do mato. Nossa rede de transmissão hoje tem 50 km. Ele botou energia na cidade e as indústrias começaram a crescer. Ele desenvolveu a cidade. Sem energia elétrica não podia existir nada lá. Nossa vila operária tinha 400 casas de operários, a luz elétrica era nossa, aí ele já tinha feito mais duas usinas perto da fábrica, mas depois começou a ficar muito oneroso pra empresa manter as casas. Pois nós mantínhamos as casas, dávamos a luz e a água. Era quase uma prefeitura. A cidade começou a se desenvolver, aí já mais na minha época incentivamos os empregados a comprar terrenos em loteamentos que estavam se abrindo, a compra era fácil, era parcelada. E quem adquirisse um terreno, a gente dava a casa onde eles moravam. Nós pegávamos as casas e levávamos pra esses terrenos. Eram casas de madeiras, grandes, e isso foi um sucesso, porque praticamente todos ficaram com suas casas. Foi uma coisa uma boa, uma solução ótima.


DIARINHO – Como surgiu a ideia de investir em Balneário Camboriú?


Tedesco – Isso foi meu pai quem idealizou. É uma história interessante também. Os caminhões traziam madeira do Oeste pra cá, porque os navios aqui levavam muita madeira. Mas esses caminhões voltavam vazios e meu pai quis aproveitar o retorno desses caminhões. Ele pegou um avião, ele sempre foi fã de aviões, fundou o primeiro aeroclube de Caçador. Então pegou um aviãozinho e veio pra cá. Quando chegou na região foi dar uma sobrevoada na área e deu uma pane. Eles tiveram que pousar bem aqui na frente de onde estamos hoje [a Marina Tedesco]. Eles pararam e meu pai gostou do que viu, falou com alguns pescadores pra saber quem era o dono e acabou descobrindo que o dono dessas terras era o pai do [Antônio Carlos] Konder Reis [ex-governador]. Aí marcou uma conversa, acabou jantando na casa do Konder Reis e comprou o terreno. Praticamente do Hotel Fischer pra baixo, meu pai comprou tudo, aí começou nossa história em Balneário Camboriú.

DIARINHO- Quando começou seu contato com o mercado náutico?

Tedesco – Começou há sete anos, mas quando meu pai veio e comprou esse terreno, já começou a investir na Barra Sul. Na época não era Barra Sul, era pontal Sul, quem deu esse nome fui eu. Comecei a usar Barra Sul nos folders e no material de divulgação dos restaurantes e de um camping grande que tínhamos aqui. Depois disso a prefeitura também começou a adotar essa denominação. Foi bom porque não havia uma definição certa se era pontal, pontal Sul ou pontal da Barra. Naquela época a prefeitura e o pessoal do centro nos discriminavam um pouco, porque nós tínhamos poucas coisas. Aqui embaixo só tinha o Baturité, que era um restaurante. Então éramos discriminados, a prefeitura não fazia investimento aqui. Os primeiros investimentos foram feitos por meu pai e depois eu continuei. Em 1978, quando meu pai faleceu, eu assumi a presidência do grupo e ele já havia programado com um pessoal da Itália o teleférico. Porque o terreno de baixo, aqui na Barra Sul, e o terreno do morro eram nossos. Ele comprou o terreno do morro porque soube que lá tinha uma água muito boa e Camboriú não tinha nem água e nem luz. Ele queria trazer água do morro pra cá. Ele não comprou pelo topo do morro, comprou pela água. Foi quando ele começou a idealizar o teleférico que hoje tem 12 anos. Os italianos trouxeram um projeto que eles fizeram há uns 20 anos, minha mãe [Natércia Tedesco] era viva ainda, e deram de presente pra nós esse quadro onde o teleférico já estava projetado. Nós continuamos investindo em estrutura aqui. Meu pai fez um minigolfe, que era lá na ponta, o pessoal mais antigo vai lembrar. Fizemos restaurantes, o Shopping de Verão, boliche, tínhamos um camping grande que chegamos a hospedar mil pessoas. Fizemos uma atividade aqui pra Barra Sul começar a se desenvolver. Em 1988 mais ou menos, no primeiro mandato do [Leonel] Pavan [ex-prefeito de Balneário e ex-governador], a avenida Beira-rio começou a ser aberta e ela passaria pela beira do rio, onde estamos. Eu consegui que a Beira-rio encaixasse no meio do nosso terreno, que ia do rio até o mar, até a avenida Atlântica. Já era um pensamento meu, há 30 anos, fazer a marina. Se a Beira-rio passasse pela beira do rio, eu não poderia fazer a marina. Então conseguimos encaixar a avenida exatamente aqui onde começa a marina. Chamamos os prefeitos e vereadores e fizemos uma lei. Eu fiz toda essa avenida [Beira-rio] no trecho daqui até o pontal. Fiz com toda a urbanização, árvores e doei pra prefeitura. Pra que ela não passasse na beira do rio, o que não atrapalhou em nada, ficou até melhor, porque virou uma reta e o fluxo ficou muito bom. Nós fizemos o teleférico, nele fizemos uma sociedade com a família Bogo [Moacir e Anair Bogo], de Joinville. Porque a família Bogo queria fazer um teleférico em Joinville, só que lá não era viável e eu tinha um projeto aqui. Sentamos, conversamos e em uma semana o acordo estava fechado. O teleférico ainda hoje, 12 anos depois, é um sucesso total. Deu um impulso muito grande pra Balneário Camboriú na área do turismo. A marina eu já tinha projetado. [Você falou que não tinha nenhum contato com o setor náutico, mas não tinha nem barco?] Não, nada nada. Fui piloto de automóvel. Corri 12 anos na Stock Car [principal modalidade do automobilismo brasileiro], corri na época do Paulo Gomes, Ingo Hoffmann, essa turma toda. Meu negócio era carro, eu não tinha nenhum contato com o ramo náutico e não gostava de barco. Fui comprar um barco dois anos depois da inauguração da marina. E agora estou gostando. Já tinha começado a bolar a marina e primeiro minha filha Juliana, a mais nova, foi estudar no Canadá, em Vancouver. Por coincidência, ela alugou um apartamento que era exatamente em frente a uma marina, no Stanley Park, que é uma coisa maravilhosa. Como já tinha projetado a marina, falei pra ela ir pros Estados Unidos e visitar todas as marinas possíveis pra montarmos o projeto da nossa. Depois a minha filha Patrícia também foi e eu passei a ir muito pra lá. Aí tomei a decisão de viabilizar a construção da marina. A partir daí, começamos a fazer o licenciamento, acho que demorou um ano e meio pra começarmos a obra. A marina tá completando cinco anos de operações.


DIARINHO- Quais foram os desafios pra sua construção e manutenção?

Tedesco – Tinha um pessoal que não aceitava a construção da marina. Eles faziam denúncias constantemente. Com isso, tivemos muito contato com Ministério Público, então a gente foi trabalhando, mostrando o que tava fazendo. Tínhamos a licença, o terreno era nosso, os únicos terrenos de Balneário Camboriú que são aflorados. Temos o afloramento dado pela União, pelo SPU [Secretaria do Patrimônio da União]. Então essa tranquilidade nós tínhamos. O que mais me encheu o saco foram esses caras. Mas, enfim, um acabou sendo preso por tráfico de drogas, outros sei lá o que aconteceu, eles pararam e assim conseguimos terminar a obra. [Em algum momento pensou em desistir?] Não. Nunca pensei em desistir. Me chamavam de louco, porque não tinha barco atracado aqui, só tinha as pequenas garagens. Mas barco mesmo não tinha. Só que eu tinha a convicção de que tendo a marina ia ter barcos. E tá provado aí. Hoje [a entrevista foi concedida no dia 6, véspera da abertura do Festival Náutico que terminou no dia 11], tem a feira que é um sucesso, os grandes estaleiros, fabricantes de barcos estão aqui. Pros fabricantes de barco foi uma maravilha, né? Tendo uma marina que nem essa, eles vendem mais barcos. Nunca pensei em parar e sempre tive a convicção de que daria certo. [Houve incentivo fiscal ou apoio do poder público pra sua construção?] Não, nenhum. O poder público só não colocou empecilhos. Mas não houve incentivo nenhum.

DIARINHO - Muitas pessoas criticaram o fato da marina fechar a visão do rio, impedindo assim que as pessoas vejam os barcos atracados que, geralmente, são um dos principais atrativos das marinas em todo o mundo. Por que o senhor fez essa opção de murar a marina?

Tedesco – Por questão de segurança, nós fizemos uma parte do muro assim. Outra parte do muro nós colocamos enormes vidros na frente pro pessoal enxergar a marina. Agora, a parte que o muro é fechado é por questão de segurança. Tem muitos barcos e temos que controlar a entrada. Mas não concordo que a marina seja toda fechada. Grande parte da marina é vista pelo vidro. E a marina é liberada pra visitação de quem quiser. É só chegar na portaria, se identificar e entrar. Não tolhemos isso. Mas essa parte que foi fechada é questão técnica, tinha que ser fechada.


DIARINHO- Além das contribuições econômicas, a marina traz alguma contribuição social à cidade? Há projetos e investimentos na área?

Tedesco – Sim. Nossa! Essa é a maior contribuição. Porque hoje nós temos em torno de 60 empregados e mais 120 marinheiros, que cuidam dos barcos. Nós devemos gerar aqui na marina, com funcionários e serviços terceirizados, mais de 400 empregos. E a maioria desses empregos, os funcionários são ali da Barra. Filhos de pescadores ou pescadores. Então eles estão a cinco minutos do trabalho, não têm custo de transporte, estão praticamente grudados em casa. O grande benefício social é sem dúvida esse aí. Nós geramos empregos pra esse pessoal da Barra.

DIARINHO- Os temas meio ambiente e preservação estão cada vez mais em alta. Muitos projetos próximos ao mar, rios e encostas causam polêmica e reação por parte dos ambientalistas. Como foi o processo de licenciamento ambiental da marina?

Tedesco – Foi um processo que tivemos que nos estruturar pra que a marina fosse liberada. Nós temos um projeto de conservação do meio ambiente que acho que é uma das poucas marinas do mundo que tem. Nós não agredimos em nada o meio ambiente pra construção da marina, porque todo o píer foi feito em cima de nossas terras, só os flutuantes estão na água. Nós fizemos um estudo, o EIA-RIMA [Estudo e relatório de impacto ambiental] de todo o rio. Foi uma obrigação nossa fazer, foi um estudo muito grande. Toda a água que tá dentro da marina vai pro reservatório que separa o óleo da água. O óleo é reciclado e a água é reaproveitada. Nós temos um equipamento que limpa as fossas dos barcos. Os barcos antigos ou menores não possuem um tratamento de resíduos de banheiros e coisas assim que os barcos grandes têm. Então a maioria leva o barco pro mar, esvazia e pronto. Nós temos um equipamento que ele encosta o barco aqui, e nós fazemos toda a limpeza da fossa, colocamos no esgoto cloacal [formado pelas águas escoadas pelos tanques de roupa, pias de cozinha, juntamente com banheiros e descargas sanitárias] da prefeitura, fazemos toda a limpeza da fossa e o barco sai limpinho. Isso é uma coisa importante pro meio ambiente. Outra coisa, nossas máquinas não entram na água que nem em outros lugares onde o trator entra no rio e enche o rio de óleo e graxa. Temos uma empilhadeira que desce até a água, pega o barco e coloca em até quatro andares de altura. Isso também evita poluição. Então o licenciamento ambiental pra nós, com todo esse complexo, foi relativamente fácil. Não houve dificuldades e hoje somos exemplos de preservação do meio ambiente.

DIARINHO – O que o senhor acha do projeto que pretende construir torres de luxo com garagem pra barcos no mesmo rio Camboriú? As garagens náuticas vão concorrer com a sua marina?

Tedesco – Não, absolutamente, eu acho que quanto mais marinas tiver melhor, então eu acho que se esse projeto andar não é concorrente, não.

DIARINHO- Como o setor náutico sentiu e reagiu à crise econômica mundial? O Brasil foi um país pouco atingido em comparação aos Estados Unidos e aos países europeus; isto se refletiu no setor?

Tedesco – Ele teve uma retração, mas depois houve novamente um crescimento, com aumento de ofertas e de compras. A Azimut [empresa italiana, considerada um dos maiores fabricantes de barcos de luxo] fez a fábrica em Itajaí por causa da Marina Tedesco. Eles já tinham alugado um pavilhão em Joinville, mas quando eles conheceram a nossa marina se interessaram por Itajaí. Então nós os levamos até o prefeito [Jandir Bellini], e eles acharam um terreno na cidade. Já estão fabricando barcos lá e trazendo outros da Itália pra cá. Nós os ajudamos a descarregar os barcos em São Francisco e todos os barcos deles vêm pra nossa marina. Aqui é feito o serviço de acabamento e entrega final pro cliente. Só eles têm uma equipe de 30 pessoas trabalhando aqui.

DIARINHO- Em 2008 a marina realizou a primeira edição do Festival Náutico, que vem sendo mantido desde então. Qual o propósito da criação do festival?

Tedesco – A proposta do festival é reunir as grandes empresas fabricantes de barco e as grandes empresas representantes de vendas de barco pra fazer os negócios fluírem. Hoje o nosso festival pode ser considerado o terceiro do país, atrás apenas do São Paulo Boat Show e do Rio de Janeiro Boat Show, que são um sucesso enorme. Na edição deste ano contamos com 82 barcos à venda, Ferraris e até helicóptero. Então isso é mais um atrativo, pois aqui as empresas encontram os clientes que têm condições de comprar essas embarcações. Além disso, aqui os novos clientes já constatam a estrutura da marina e isso é uma motivação grande e um impulso pros negócios serem viabilizados. [E como o senhor avalia sua evolução?] Foi grande, acho que a feira cresceu aproximadamente 60% em relação à primeira edição, que foi mais modesta.

DIARINHO- Como o senhor vê uma cidade vizinha a Balneário Camboriú receber uma etapa da Volvo Ocean Race? Já há uma estratégia pronta pra aproveitar a onda da regata?

Tedesco – Eu só acho que o pessoal devia estar preocupado com a estrutura, pois esses barcos são enormes e tem que fazer a manutenção fora da água, mas isso é uma maravilha pro nosso setor. Até porque acho que vão ter outros eventos antes disso e talvez eles até utilizem a marina aqui. Um evento desse porte é muito bom, pois gera renda pra todo mundo.

DIARINHO – O senhor acredita que a Volvo Ocean Race possa atrair do empresariado local mais atenção pro mercado náutico?

Tedesco – Com certeza, porque essa é a maior regata do mundo.

DIARINHO- A marina do Saco da Fazenda, que ocupará uma área pública do porto, dizem, nos bastidores, que deve ser também um projeto da Tedesco. Por que existe essa boataria se o projeto ainda nem foi licenciado e deve demorar pra chegar a etapa de licitação?

Tedesco – Não entendo isso, mas eu tive uma conversa com o prefeito de Itajaí. Depois ele e os vereadores visitaram a marina aqui e perguntaram se nós achávamos viável fazer uma marina ali no Saco da Fazenda. Então explicamos que pelo local poderia ser feita uma marina, mas depois daquele momento eu não tive mais contato com eles e não fiz mais nada em relação a isso. O pior é que tem gente falando e até o pessoal da imprensa questionando por que eu quero me meter na construção da marina de Itajaí. Essas pessoas que se reúnam, invistam R$ 50 milhões e construam a marina em Itajaí. Eu nem pensei em investir lá, só dei uma opinião e fui mal interpretado.

DIARINHO- A ascensão de mais de 30 milhões de brasileiros à classe média, nos últimos10 anos, tem algum reflexo no mercado náutico?

Tedesco – Nós sentimos um reflexo muito grande, pois muita gente tá comprando barco menor, mas as pessoas que tinham barcos pequenos tão trocando por barcos grandes. Tanto que a marina foi projetada pra 480 barcos e hoje o hangar vai receber menos barcos porque os barcos aumentaram de tamanho. [Adquirir uma lancha é ainda artigo de luxo e exclusivo para pessoas abastadas?] Não, porque agora, com os financiamentos que existem, barco não é mais artigo de luxo. Pode ser um equipamento de lazer pra qualquer pessoa que tenha um bom salário, não é mais considerado um artigo de luxo. [Podemos até fazer um paralelo com o carro zero, né?] Exatamente. Então, tem muita gente que gosta do mar, gosta de água, então isso vai facilitar muito o crescimento nesse setor. [Dá pra se fazer uma projeção do mercado náutico no país pros próximos anos?] Devemos ter no país um crescimento de 10 a 12% ao ano no mercado náutico. Com possibilidade de números maiores, pois na Europa o mercado deles caiu 80%. Com isso, esses estaleiros estão vindo pra cá, porque aqui tem um mercado que é emergente, mas eu acho que uns 12% ao ano é certo que cresce.

DIARINHO- Como o senhor analisa a polêmica tentativa de Eike Batista de construir um estaleiro no estado?

Tedesco – Foi um absurdo o pessoal não se mobilizar pra fazer com que esse estaleiro ficasse aqui em Santa Catarina. Lá no Rio Grande/RS tem dois ou três estaleiros que fazem navios e isso gera um desenvolvimento fantástico pra região através da geração de empregos. Esse estaleiro aqui no estado deveria gerar cerca de 6000 empregos, uma riqueza que Santa Catarina perdeu. Eu acho um absurdo.

DIARINHO– O grupo Tedesco tem projetos de ampliação e ou de novos investimentos em Santa Catarina e no Brasil?

Tedesco – Temos sim, acabamos de inaugurar [no dia 2 de setembro] um teleférico na Santa Paulina [composto por dois conjuntos de bondinhos aéreos, que fazem a ligação entre o Santuário Santa Paulina e o Morro da Colina, num percurso de 440 metros, em meio à natureza, em Nova Trento]. E no dia do lançamento assinamos um contrato pra fazer também um teleférico no Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida [na cidade de Aparecida, no estado de São Paulo. É o segundo maior templo católico do mundo, menor apenas que a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Foi inaugurado em 4 de julho de 1980, quando João Paulo II visitou o Brasil pela primeira vez]. Também fomos convidados pra fazer um estudo sobre a construção de uma marina em Porto Alegre. Somos muitos solicitados pra estudar viabilizações de marinas e teleféricos, mas os projetos principais agora são esses dois que nós estamos executando.

RAIO-X

NOME: Júlio André Ruas Tedesco

NATURALIDADE: Caçador/SC

IDADE: 63 anos

ESTADO CIVIL: Casado

FILHOS: Duas

FORMAÇÃO: Terceiro grau incompleto (cursou administração na Unisinos/RS)

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: Começou a trabalhar com 17 anos na fábrica da Primos Tedesco, empresa da família especializada no ramo de celulose e papel. Aos 29 anos assumiu a administração da empresa e diversificou os investimentos do grupo, que hoje atua também nos teleféricos do Parque Unipraias e Parque da Colina, Barco Pirata e na Marina Tedesco.

O pior é que tem gente falando e até o pessoal da imprensa questionando por que eu quero me meter na construção da marina de Itajaí. Essas pessoas que se reúnam, invistam R$ 50 milhões e construam a marina. Eu nem pensei em investir lá. Só dei uma opinião e fui mal interpretado.

Tinha um pessoal que não aceitava a construção da marina. Eles faziam denúncias constantemente. O que mais me encheu o saco foram esses caras. Mas, enfim, um acabou sendo preso por tráfico de drogas, outros sei lá o que aconteceu. Eles pararam e assim conseguimos

terminar a obra.

Foi um absurdo o pessoal não se mobilizar pra fazer com que o estaleiro do Eike Batista ficasse aqui em Santa Catarina. Esse estaleiro aqui no estado deveria gerar cerca de 6000 empregos, uma riqueza que Santa Catarina perdeu.




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