Adrielle Patrícia Adriano, 24, mulher de Sidão, não tem dúvidas da autoria do crime. Ele não usava drogas, trabalhava. Ele foi jurado de morte pelo policial, disse ao DIARINHO, apontando Adevânio como o responsável pela morte do marido. Mais de uma vez, afirma, o PM teria avisado que mataria o encanador, caso o encontrasse. Ele [Adevânio] foi até a casa da minha mãe, no Portal 1, e disse a ela que mataria o Sidney e que aquilo era um aviso, conta Adrielle.
A mulher do rapaz fuzilado pela PM diz ainda que, há dois meses, policiais militares invadiram a sua baia, na rua Joaquim Souza Medeiros, nos Espinheiros, sob o pretexto de que o marido havia assaltado uma residência no bairro. Nesse dia, o Adevânio o ameaçou de morte também, lembra.
Lourival do Nascimento, 26, irmão de Sidão, reforça as acusações contra o soldado-empresário. Pra ele, a perseguição ao mano começou em 2008, quando Sidão invadiu a empresa Conexão Marítima, na Murta, e furtou de lá uma lixadeira de ferro e duas minimotos de brinquedo. Além de soldado da PM, Adevânio também é sócio-proprietário da Adserv, que presta segurança privada pra Conexão Marítima. Ele [Adevânio] nos parou de carro no domingo passado e disse que eu era um mala. E avisou: A hora que pegarmos ele, vamos matá-lo e tu vais morrer junto, relata Lourival.
A jovem dona de casa E.P., de 17 anos, era cunhada de Sidão. Também diz já ter recebido ameaças do policial contra o cunhado, mas jamais entendeu o motivo. Pra guria, há cerca de um ano o cara tava sossegado e não fazia mais besteiras. Além de estar trampando, tinha um cuidado especial com a mulher e as filhas, afirma.
A família de Sidão ainda não sabe se vai levar ou não o caso pra dona justa. Ainda não sabemos o que vamos fazer, pra falar a verdade, revela a viúva Adrielle, que passou a madruga e toda a manhã de ontem ao lado do caixão, junto com as duas filhas pequenas. Seu Reinoldo Manoel do Nascimento, 65, e a mãe, Rosa do Nascimento, 53, também não abandonaram o filho até o momento em que ele foi enterrado, à tarde, no cemitério do bairro Espinheiros.
Comunidade tem versão diferente pra morte de Sidão
Sidão teve o corpo peneirado com sete tiros lá pelas 18h30 de quarta-feira, em um bambuzal do bairro São Roque. Na versão da PM, o rapaz foi morto durante uma troca de tiros. A família, no entanto, sustenta que o cara foi executado sem dó nem piedade e nem tava armado.
A ação policial que resultou na morte do rapaz mobilizou sete viaturas, cães e mais de 20 homens. Os PMs teriam ido prender um homem que estaria ameaçando matar uma pessoa. Quem viu toda a cena garante que isso não é verdade.
Mecânico viu a correria
É o caso do mecânico D.L., 35 anos, amigo de Sidão e que trabalhava na frente de casa quando tudo aconteceu. D. afirma que escutou apenas sete tiros. Sidão morreu justamente com sete balaços. Ele não estava armado. Nunca andava armado. Tinha saído do Espinheiros e foi pro São Roque de bicicleta. Como poderia ter levado uma arma?, questiona o mecânico.
Tiro no rosto
O que também levanta dúvidas quanto à versão de que Sidão morreu num confronto é que uma das balas teria entrado em sua bochecha e saído no queixo. É o que conta o amigo Rafael Moreira, 24, que viu o corpo no IML na quarta à noite. Não tinha como esse tiro ser dado se ele estivesse correndo, diz. Pra ele, o disparo foi dado quando Sidão estava já dominado pela polícia.
Além disso, a PM disse que quando Sidão reagiu estava numa posição mais elevada do que os policiais. Ou seja, seria impossível o tiro ter entrado na face e saído perto do pescoço.
PM só vai investigar se receber denúncia formal
O tenente-coronel Atair Derner Filho, comandante da PM de Itajaí, reafirmou ontem a versão oficial de que Sidão teria mandado bala pra cima dos policiais e morrido num confronto. Ele disse ainda que o soldado Adevânio não exerce qualquer atividade paralela, como trampar com segurança privada. Esse policial não trabalha em lugar nenhum, afirmou o oficial.
Às 17h30 de ontem, o DIARINHO ligou pra empresa de segurança da qual o soldado Adevânio é sócio, a Adserv, que fica na Barra do Rio, em Itajaí. Quando o jornalista se identificou e pediu para falar com o soldado, uma funcionária pediu um momento. Depois disse que o PM não poderia atender no momento porque estava em reunião.
O telefone do DIARINHO foi repassado à funcionária com a promessa de que Adevânio retornaria a ligação. Até o fechamento desta edição, o policial-empresário não ligou de volta.
Oficialmente, nenhuma denúncia contra o soldado Adevânio chegou ao batalhão da PM até ontem à tarde, garantiu o tenente Paulo Ramos, responsável pelo setor de comunicação social da corporação. Ele disse que a história de que houve uma execução somente será investigada se rolar uma acusação formal. Ele é um dos melhores soldados do batalhão. (...) Já foi policial destaque, tá sempre entre os cinco premiados, tem inúmeros elogios, fez questão de dizer o tenente, referindo-se a Adevânio.
Rapaz que morreu já foi ladrão chinfrim
A família e os amigos admitem que Sidão já tinha feito besteira na vida. Mas foi um ladrão chinfrim. Oficialmente, teve três passagens pela polícia por furto: em setembro de 2007, em outubro de 2009 e em julho de 2010. Dessa última vez, passou cinco meses no cadeião do Matadouro.
O tempo no xadrez teria lhe ensinado a lição e ele teria se ajeitado. Acompanhei o sofrimento da mãe dele nos períodos em que ele incomodava muito os pais. Mas, de uns tempos para cá, tava tranquilo. Pensava muito na família e nos filhos, garante Edirlene Patrícia, cunhada do rapaz.
Na versão dada pela PM, não confirmada pela ficha policial de Sidão, o rapaz era bandidão da pesada. Tinha até assalto nas costas.