Em Itajaí, 106 policiais civis atendem uma população de 183.373 pessoas. Isso daria um tira pra cada 1730 moradores. Mas se tirar os 16 escrivãos, os sete servidores da secretaria de Segurança Pública que tão no setor administrativo mais a psicóloga e só deixar mesmo os policiais que empunham armas e enfrentam os bandidos, a relação tira por habitante fica ainda mais assustadora. São apenas 82 policiais pra cada grupo de 2236 habitantes peixeiros.
Essa dificuldade de efetivo, afirma o agente Miranda, é o maior problema pra corporação alcançar a eficiência necessária no combate ao crime. Pra ele, a cidade precisaria, no mínimo, dobrar o seu efetivo. Temos problemas em atendimento, instalações, pouco trabalho de informação e falta de ações coordenadas. Mas a questão do efetivo é pior, porque sobrecarrega o nosso trabalho, define o chefe de investigações da DIC, fazendo questão de dizer que os policiais civis peixeiros têm feito das tripas coração pra melhorar a segurança na cidade.
O número de tiras é o mesmo de 25 anos atrás
Nilton Neves, vice-presidente do sindicato dos Policiais Civis de Santa Catarina (Sinpol), lembra que em 1986 o estado tinha 3200 policiais e hoje, 25 anos depois, por incrível que pareça, esse número segue igual. Fazer segurança é caro, mas é um princípio básico da população que tá sendo sonegado, governo após governo, alfineta.
Nilton desce a lenha na falta de infraestrutura em equipamentos, armamentos e viaturas. Coletes que não protegem contra tiros, as armas e veículos ultrapassados e as más condições de trabalho botam lá embaixo a autoestima dos tiras, comenta. A família de um policial civil vive apreensiva, porque a mulher e o filho não sabem se o pai ou marido vai voltar pra casa, discursa o sindicalista.
Prédios são velhos, inadequados e têm problemas na estrutura
O casarão onde tá instalada a 4ª delegacia Regional de Polícia Civil, no centro de Itajaí, fica na esquina das avenidas Sete de Setembro e Joca Brandão. Tire da cabeça a ideia de um prédio moderno, prático e funcional. A estrutura, que já abrigou até o antigo cadeião da cidade, tem mais de 60 anos e está obsoleta. Por ali funcionam vários setores, que vão desde o departamento trânsito até a divisão de Investigações Criminais (DIC). Ao lado, com seus quase 30 anos, está o prediozinho de apenas um pavimento da 1ª depê.
Na manhã de ontem, o DIARINHO deu um pulo na Regional e na 1ª depê pra conferir de pertinho as instalações e a estrutura que a polícia Civil usa pra combater o crime na maior cidade da região. Andar por lá é conhecer o retrato do descaso dos governantes para com a segurança pública.
O enorme casarão da delegacia regional não dá mais conta das necessidades da polícia. Você pode ver que até as janelas são em formato de grades. Nesse prédio, os presos ficavam na janela e mexiam com as senhoras na rua, conta Luciano Miranda, com ar de historiador.
Por dentro da delegacia é possível ver as marcas do tempo: paredes descascadas e mofadas. Não é preciso muita atenção pra se perceber que as infiltrações e a umidade já castigam o teto. O prédio é muito antigo, atesta Miranda.
Apesar de mais moderna, a estrutura física da 1ª depê também deixa a desejar. Na pequena sala de espera, onde o povão fica antes de sentar na frente de um tira e fazer um boletim de ocorrência, cabem seis, no máximo sete pessoas. Ali, a solução muitas vezes é esperar o atendimento do lado de fora, num desconfortável banco de madeira, daqueles que a gente via em praças.
Basta chegar perto da carceiragem pra sentir o forte cheiro de urina e cocô dos presos. Apesar de não ter nenhum preso porque uma das paredes tem um enorme rombo, o ambiente continua sujo e fedido. É como se a cela, com todo o lixo deixado no local, representasse a forma com que a polícia Civil é tratada pelo governo barriga verde.
Luís Alves e São João do Itaperiú têm apenas um tira
Algumas cidades da 4ª região da polícia Civil parecem esquecidas quando o assunto é efetivo pra investigar denúncias, atender o povo e ter uma estrutura capaz de fazer frente à bandidagem. É o caso de Navegantes, que tem 60.556 habitantes e elevados índices de violência, e onde existem apenas 18 tiras e apenas uma delegacia. Esses números dão a assustadora média de um policial pra aproximadamente 3364 mil dengo-dengos. Ou seja, proporcionalmente, Navega tem praticamente a metade dos policiais civis que tem Itajaí.
Um pouco mais pro norte, em Penha, os números do esquecimento dos governantes com a segurança pública ficam mais claros: a Capital do Marisco tem 3591 moradores pra cada policial civil.
Mas o cúmulo do pouco caso do governo catarinense com a segurança dos cidadãos tá escancarado em Luís Alves e São João do Itaperiú. Por lá, só resta pra população orar pra se ver livre da bandidagem. Com 10.438 habitantes, a Capital da Cachaça é a que mais sofre. Parece até piada, mas apenas um homem é encarregado de investigar os crimes, registrar os boletins de ocorrência e executar mandados de prisão e de busca e apreensão determinados pela dona justa. Isso, sem falar de tocar pra frente a burocracia dos inquéritos policiais.
Ademir Francisco da Rosa da Silva (PMDB), presidente da câmara de Vereadores de Luís Alves, lamenta o tamanho do problema. Esse assunto é tratado em quase toda a sessão da câmara, diz. O negócio é tão grave que até a polícia Militar, que tem outra função como órgão de segurança, tava fazendo trampo da Civil. Na verdade, na investigação, até tinha policiais militares que tavam fazendo, revela o presidente da câmara.
O prefeito Viland Bork (PMDB) foi até convocado prum plá com os vereadores pra que pensasse junto uma solução pro pouco efetivo da polícia Civil na cidade. Viland, que ontem no finalzinho da tarde não foi encontrado pelo DIARINHO, já teria ido até Floripa pedir pros abobrões do governo do estado mais tiras pra Capital da Cachaça.
Na vizinha São João do Itaperiú, o efetivo é o mesmo de Luís Alves: apenas um policial civil. Mas a cidade é menor. Tem 3435 habitantes.