Lugares que ficavam embaixo dágua e pessoas que fugiam de casa atrás de abrigo. Locais onde, após qualquer chuva mais forte, moradores perdiam roupas, móveis e a dignidade. Regiões castigadas por enchentes e alagamentos, na qual homens, mulheres e crianças sofriam, sentindo-se impotentes e achando que aquilo não tinha solução. Tudo isso rolava em cinco cidades do litoral centro norte catarinense.
Ao completar um mês da última cheia que atingiu Itajaí, o DIARINHO demonstra, indo visitar cada um destes lugares, como enchentes e alagamentos não são problemas impossíveis de serem solucionados ...
Ao completar um mês da última cheia que atingiu Itajaí, o DIARINHO demonstra, indo visitar cada um destes lugares, como enchentes e alagamentos não são problemas impossíveis de serem solucionados. Muito pelo contrário, podem ser resolvidos com um pouco de boa vontade do poder público.
Hoje e amanhã, a reportagem vai mostrar o que mudou, antes e depois das obras, na vida de pessoas que vivem no loteamento Portal 1, no bairro Espinheiros, em Itajaí; na Armação, em Penha; nos bairros Vila Real, Iate Clube e Municípios, em Balneário Camboriú; no bairro Santo Antônio, em Piçarras, e no bairro Areias, em Camboriú.
O primeiro bom exemplo
Nossa via sacra começa no Portal 1, em Itajaí, que alagava quase toda semana. Localizado às margens da rodovia Jorge Lacerda, no lado esquerdo de quem vai em direção a Brusque, o lugar por onde passa o ribeirão da Murta era sinônimo de problema quando São Pedro abria as torneiras. Mas, diferente de 2008, quando a água encobriu diversas casas, na última enchente, um mês atrás, os moradores do Portal 1 não precisaram calcular prejuízos, por causa de uma coisa simples: o desassoreamento e limpeza do ribeirão.
Com 90% das ruas de chão batido, o loteamento está cheio de pessoas que franzem a testa ao falar em enchente, pois muitos ali estão reconstruindo a vida pela segunda ou terceira vez. É o caso de Paulo Cesar Nagnibeda, 37 anos, morador da rua Waldemar Oliveira da Silva, bem do ladinho do ribeirão da Murta, onde o cheiro não é dos mais agradáveis.
A casa de Paulo, feita de madeira num pedaço e material no outro, é o exemplo do que a falta de obras do poder público pode fazer. Tem as rachaduras de 2008 até hoje. Não tive tempo de reformar, mas agora, quem sabe, diz, enquanto segura uma enxada pra dar um trato na frente da baia.
A 40 metros da casa de Paulo, uma garotinha chamou a atenção da reportagem pela felicidade com que brincava na rua empoeirada. Ao chegar ao número 318 da rua Carlos Luis Stringari, encontramos o pai da pequena, o mecânico Moacir José Tavares Junior, 31, que diz ter certeza que a limpeza no ribeirão colaborou 100% pra que a água não invadisse as ruas. Mas isso não foi obra, apenas uma limpeza, que já deveria ter sido feita antes, cobra.
Ao andar pelo Portal 1 depois do desassoreamento e da limpeza do ribeirão é visível a expressão de seriedade no rosto das pessoas, pois elas sabem que já viveram o pior, mas não se dão ao luxo de dizer que estão livres da enchente. A dona de casa Fabiane Marcos, 30, dá o tom do que sentem os moradores do lugar. Esperamos nunca mais ter que fugir ou se assustar com a chegada das chuvas e que limpem o ribeirão com frequência, pra que as crianças não nos perguntem mais: por que tanta água?, pede Fabiane.
Como será a manutenção do ribeirão da Murta
O secretário de Obras Tarcízio Zanelato afirma que o desassoreamento do ribeirão da Murta foi um trampo inicial e, por isso, a cada três ou quatro meses ele será limpo pelos peões da prefa, pois a continuidade do serviço é a única garantia de dias de paz pro povão do Portal 1. Segundo Zanelato, cada limpeza destas custa cerca de R$ 20 mil. Colocamos como regra que, de 90 a 120 dias, nós vamos desassorear o ribeirão da Murta. Isso antes era feito duas vezes por ano, conta o abobrão, dizendo que outros ribeirões da cidade passaram pela mesma limpeza.