Medo? Patrícia não nega que ele apareceu. O frio na barriga pintou quando chegou ao local do rapel. Mas logo, garante, ele se dissipou. Quando vi que tinha toda a segurança, que podia descer e que não haveria problema nenhum, aí o medo desapareceu, diz a corretora, que é de Floripa e foi pra aventura convidada pelo namorado, o publicitário itajaiense Alex Dickel, 35.
Alex e Patrícia tinham como companheiro de aventura o webdesigner Vinícius da Silveira, 30, também de Itajaí. Esse foi o pequeno grupo de rapeleiros que o DIARINHO acompanhou, em 1º de outubro, pra sentir as emoções da prática de uma atividade radical que se torna cada vez popular. E bota emoção nisso.
Pura adrenalina
Perguntar pros rapeleiros o que mais lhes agrada no rapel é pedir pra ouvir praticamente o mesmo discurso. A adrenalina que ele proporciona, o contato com a natureza e tudo que é técnico me agrada muito, diz Vinícius, que faz rapel desde os 12 anos, quando era escoteiro do grupo Padre Pedro Baron. Alex, que começou a praticar em 96, reforça: Me agrada o contato direto com a natureza, as amizades que se faz e, obviamente, a adrenalina que o esporte causa.
A tal da adrenalina é um hormônio produzido pelo corpo toda vez que a pessoa se sente em risco. O coração bate mais forte, as pupilas dilatam e as reações ficam mais rápidas. Uma defesa natural que acaba dando prazer. E é este prazer que os rapeleiros buscam quando ficam cara-a-cara com o perigo.
Domínio de técnica e muita responsabilidade
Sabe aquela imagem de um grupo de malucos berrando o famoso uhuuu! e fazendo com as mãos o sinal da grife Hang Loose, com o polegar e o dedo mindinho esticados, antes de cair na aventura radical? Pois tire ela da cabeça. O trio de rapeleiros que o DIARINHO acompanhou chegou tranquilo ao mirante Eco 360º. Valeu a boa prosa com os membros da ONG que tocam o projeto responsável pelo mirante e também os momentos dedicados à contemplação do visual. Algo quase hipnotizante, diga-se de passagem.
Não basta coragem pra encarar um rapel. É preciso responsabilidade e domínio de um conjunto de procedimentos que vão garantir que a brincadeira não se transforme em tragédia. Em se tratando de uma atividade em altura, todos os detalhes são de grande importância no que se refere à segurança, observa Vinícius.
O webdesigner sabe bem o preço de não cuidar da segurança. Um dia fazíamos um rapel na praia Brava e um dos participantes deixou a trava de segurança da cadeirinha aberta. No meio da via a cadeirinha literalmente abriu e deixou todos apavorados, lembra. Pra sorte de quem descia e passou pelo sufoco, havia no grupo gente experiente em resgate em altura e um acidente que poderia ter consequências fatais foi evitado.
A falha, explica Vinícius, que também é escalador, surfista, skatista e cicloturista, foi uma segunda pessoa não ter checado o equipamento montado no rapeleiro.
Cuidado esse que sobrou no rapel que o DIARINHO acompanhou. Que o diga Patrícia. Houve companheirismo de todo mundo, a dedicação, o cuidado, por ser a primeira vez que eu tava descendo, comenta.
Mas confiança mesmo, revela a corretora de imóveis, só sentiu no momento em que testou o equipamento. A hora que senti que podia descer, que tava confortável na cadeirinha, aí me tranquilizei de vez, afirma.
Equipamento adequado é fundamental
Alex não tem dúvidas de que confiar no equipamento usado é fundamental pro rapel virar só alegria. Entendo que quando o praticante está bem equipado, com capacete, equipamento revisado, entre outros, o risco é mínimo, discursa o rapeleiro, que paralelo ao rapel pratica o SK8 long board, uma categoria de skate própria para descer ladeiras em altas velocidades.
Sobram lugares bonitos pra rapelar na Santa & Bela
Eco 360º
Fica na morraria do Macaco, em Bombinhas. É uma área particular que funciona como uma espécie de reserva ambiental. Uma ONG toca o projeto de ecoturismo. De lá, é possível apreciar a baía de Zimbros, as praias de Mariscal e Quatro Ilhas e o belo marzão da reserva Marinha do Arvoredo e suas quatro ilhas.
Cachoeira do Braço Esquerdo
Fica em São Bento do Sul, mas pra quem sai da nossa região fica mais perto ir por Corupá. A cachoeira tem cerca de 80 metros e a descida é de 60 metros. É um rapel positivo, ou seja, a descida é com o pé na rocha. E dá-lhe banho de água geladérrima. Por isso, só dá pra fazer no verão.
Ponte da Barra Velha
É uma ponte pênsil construída sobre a lagoa da Barra Velha, perto da foz do rio Itapocu. O visual é lindíssimo. Só a ponte já vale a visita. O rapel tem uns 15 metros de altura e pode ser feito numa das três torres de sustentação. O perrengue é que as ferragens foram untadas com piche e não tem como não sair engraxado de lá.
Paredes do Morcego
É o canto Norte da Praia Brava. O paredão que tem ali é cheio de vias de escalada. Quem vem por Cabeçudas, antes de chegar na praia, pode subir uma trilha cabreirinha no morro, montar a ancoragem e fazer o rapel. O problema é que alguns pinos e chapeletas já estão enferrujados.
Cachoeira do Paulista
Fica em Doutor Pedrinho. Essa é pra quem tem coragem, já que o ponto de chegada é entre pedras mais lisas que sabão. A descida é ao lado do volume de água e é negativa, ou seja, sem contato do rapeleiro com a pedra. A grande vantagem é que dá pra chegar de carro bem pertinho da ancoragem.