Matérias | Entrevistão


Itajaí

Cláudio Copello, da associação Náutica

"Um dos principais objetivos da ANI é resgatar a mentalidade marítima de Itajaí"

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]


Oficial reformado do Exército Brasileiro, o gaúcho Cláudio Copello conheceu a vela há pouco mais de uma década e se apaixonou pelo esporte. Em 2007, depois de percorrer o litoral da Santa & Bela atrás de um novo lar, conheceu o trabalho desenvolvido pela Associação Náutica de Itajaí (ANI) e resolveu fixar residência na city peixeira pra se dedicar ao projeto. A dedicação do comandante do Veleiro C’est La Vie (É a vida) o levou a assumir a presidência da entidade. Neste Entrevistão concedido aos jornalistas Anderson Silva e Leonardo Thomé, e sob os cliques do fotógrafo Minamar Júnior, Cláudio Copello fala sobre a paixão pela vela, o trabalho desenvolvido pela associação com 180 crianças, a polêmica construção da marina no Saco da Fazenda e sobre a exclusão da ANI no planejamento da parada da Volvo Ocean Race em Itajaí.


 

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DIARINHO – Como começou o seu contato com a vela?

Cláudio Copello – O meu contato com a vela começou há 30 anos na Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Eu vinha muito pra Santa Catarina passar férias e um dia, voltando pra lá, vi uma lancha à venda e me interessei. Comentei com o pessoal que tava pensando em comprar uma lancha e um vizinho meu me deu a ideia de comprar um veleiro, ao invés da lancha. Daí me levou pra dar uma volta de veleiro pela primeira vez. Quando desligou o motor e ficou só na vela, decidi que era aquilo que eu queria. De lá pra cá fiz vários cursos de vela, gosto muito de velejar e navegar, mas principalmente de ensinar. Acredito que precisamos repassar o conhecimento, pois ele não foi feito pra estar guardado. Então um objetivo meu, particular, é repassar, gosto muito de fazer isso. O nosso barco está sempre aberto e várias pessoas já aprenderam a navegar e velejar comigo. A vela é fascinante, é uma coisa que relaxa, não polui, o combustível é o vento, você vai normalmente a favor da natureza.


DIARINHO – Quais são hoje as atividades da Associação Náutica de Itajaí?


Cláudio – O principal trabalho da ANI é com a rede municipal de ensino. Atualmente atendemos aqui [no Saco da Fazenda] 180 crianças da rede municipal de ensino. São 18 escolas beneficiadas pelo projeto com 10 alunos de cada instituição. Este trabalho é feito de segunda a sexta-feira, sendo que de segunda a quinta passam quatro turmas, duas pela manhã e duas pela tarde. Na sexta-feira, duas turmas na parte da manhã e a parte da tarde de sexta-feira é reservada pra manutenção do material e reunião da equipe de trabalho. [Como é a receptividade das crianças em relação à vela, isso ajuda no desenvolvimento escolar?] Sim. Este é um dos objetivos, ensinamos fora da sala de aula e de um modo diferente. Aqui as crianças aprendem coordenação, liderança, trabalho em equipe, e focamos muito no meio ambiente. Esta maneira diferente de ensinar cria um interesse maior nas crianças. Elas tão aprendendo sem saber que tão aprendendo, pois nós costumamos dizer vamos brincar de barquinho, mas a partir daí elas tão remando e velejando. Durante essa atividade vamos passando instruções que, com certeza, serão utilizadas pelas crianças durante toda a vida. Existe um paradigma que a vela é um esporte náutico pra quem tem dinheiro e a ANI quer justamente quebrar este paradigma. A vela não é pra quem tem dinheiro, vela é pra quem tem vontade de velejar. O velejador veleja porque gosta e porque tem aptidão.

DIARINHO – Como surgiu a ideia do projeto Escola no Mar?

Cláudio – Em 1996 um casal de velejadores aqui de Itajaí, o Vilmar e a Higina Braz, largou a vida normal na cidade e resolveu dar uma volta ao mundo. Durante essa viagem eles visitaram cerca de 56 países e viram muita coisa lá fora. Então, quando eles retornaram a Itajaí, acharam que deveriam compartilhar com a cidade alguma coisa da experiência adquirida fora do Brasil. Então, em 2001, os dois resolveram fundar a ANI. Depois, aos poucos, eles foram fazendo este convênio com a prefeitura e passaram a ensinar basicamente o remo e a vela pras crianças da rede municipal de ensino. Na época eu não estava aqui, cheguei há quatro anos.


DIARINHO – Quais as maiores dificuldades encontradas pra manter a Associação Náutica de Itajaí?

Cláudio – As dificuldades que a gente tem são na questão da verba. Então hoje a gente trabalha com uma verba bastante pequena. [De onde vem essa verba?] Essa verba hoje é de um convênio com a secretaria de Educação da prefeitura, são R$ 90 mil anuais. Isso dá em torno de R$ 7 mil por mês. Pra manter um projeto como o nosso, a verba é pouca. Nós atendíamos antes 300 crianças, mas como já faz três anos que a verba permanece a mesma e não tinha como contratar mais instrutores, a gente resolveu diminuir o número de crianças pra 180. Então essa é uma das maiores dificuldades, administrar alguma coisa com poucos recursos.

DIARINHO – Na sua opinião, por que uma cidade com grande vocação marítima como Itajaí dá pouca atenção ao remo e à vela?

Claudio – Itajaí ao longo do tempo perdeu um pouco esse foco. Quando decidi me mudar do Rio Grande do Sul pra Santa Catarina, visitei de Laguna até Itajaí pra ver a estrutura das cidades. Quando cheguei aqui em Itajaí e vi esse projeto no Saco da Fazenda percebi um contraponto em relação a tudo que a gente vê no Brasil. No nosso país a gente vê grandes elefantes brancos, com muitos funcionários e pouco resultado. Já aqui conheci uma associação que a sede é um contêiner pequeno, as embarcações ficam ao relento, o recurso é baixo, mas durante a semana eu vi 300 crianças dentro da água. Então quer dizer, pouco recurso, mas muito trabalho. Esse é um contrassenso do que a gente vê por todo o Brasil. E isso então me chamou a atenção e por isso eu me mudei pra cá. Como já era velejador há muito tempo e também precisava de um local pra colocar o veleiro, decidi me engajar nesse projeto. Apesar disso, o município já foi mais voltado ao rio e ao mar. Podemos pegar como exemplo o Marcílio Dias, que era um clube náutico e o forte era o remo, mas hoje é um clube de futebol. O Almirante Barroso, também era um clube náutico, mas hoje é um clube social. [E os dois têm nomes de marinheiros né?] Exatamente. Então, acho que ao longo do tempo se perdeu essa questão da mentalidade marítima de Itajaí. Se focou muito na pesca e no porto, que são mais questões comerciais. E a ANI, se vocês pegarem o estatuto da associação, vão ver que um dos principais objetivos é resgatar a mentalidade marítima de Itajaí. Este é um dos nossos objetivos e por isso a gente tá tentando avançar cada vez mais pra fazer com que a cidade tenha uma ligação mais forte com a vela, mais forte com o mar.


DIARINHO – O que falta para a vela itajaiense ter um nome de peso no cenário mundial como Florianópolis tem o Bruno Fontes?

Cláudio – Não só o Bruno Fontes, mas também o André Fonseca, o Bochecha [Manezinho que começou a velejar no ano de 1984, incentivado por seu pai, também velejador. O começo precoce, com apenas seis anos de idade, trouxe vantagens para Bochecha na classe Optimist. Logo nos primeiros anos ele conquistou vitórias no cenário regional e, em 1992, a consagração com o título nacional. No início da carreira, o jovem velejador já participaria de campeonatos internacionais, como Sul-Americanos e o Mundial em Mar Del Plata, no ano de 1992], que já participou da Volvo. Mas se você for a Florianópolis hoje, vai ver que lá, há pouco tempo, foi adquirido o centro de competência ou centro de capacitação pra vela olímpica. Então, o município é muito forte na questão de vela. Lá o Iate Clube tem duas sedes, ele tem uma sede no centro e outra sede em Jurerê, que é uma baía linda, magnífica e limpa. E ali é onde se concentram as escolinhas do Iate Clube. Como os sócios são pessoas com certas posses, eles têm como fazer esse investimento. Esse é um dos grandes sonhos da ANI. É justamente partir pra vela de rendimento, não só pra vela, mas pro esporte de rendimento. Não só a vela como o remo também. Só que isso requer um belo investimento. Atualmente temos R$ 90 mil pra passar o ano atendendo 180 crianças da rede municipal. Nós não temos como investir no esporte de rendimento. Hoje temos dois alunos, a Carolina, que é minha filha, e o Pedro, que se dedicam aqui sozinhos, treinam quase todos os dias. Eu faço a parte técnica com eles. Levei eles no sábado numa regata ali na Armação. A Carolina ficou em primeiro na classe Europa e o Pedro ficou em quarto na classe Laser. Então, quer dizer que potencial existe. A gente trabalha com 180 crianças, trabalhávamos com 300 crianças, então tem potencial pra tirar um atleta daqui. Um dos nossos grandes sonhos, talvez assim uma utopia, seria ter um atleta olímpico de Itajaí nas olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Estamos correndo atrás disso. Mas muito atrás. Então a gente precisa de investimento, precisa de um projeto na área do esporte. Precisamos de barcos, você pode olhar os nossos barcos. São barcos velhos, que ficam ao relento. Nós não temos uma guarderia de barcos, onde você possa ter o seu barco, possa cuidar. Mesmo assim, a hora que vocês chegaram, eles estavam lixando o barquinho que estava ali, pra dar uma melhor aderência na água e trabalhando com os equipamentos que têm. Então, o que falta pra gente ter um Bruno Fontes aqui, um André Bochecha, é investimento. É investimento na área esportiva.

DIARINHO – Como foi recebida pela associação a notícia de que Itajaí será a sede brasileira da maior regata do mundo?

Cláudio – Com muita alegria, pois a ANI é bastante ligada à vela. Eu particularmente gosto de regatas, já participei e participo de regatas até hoje. A gente tem pouca divulgação do trabalho da associação devido ao pouco recurso. Mas, pra vocês terem uma ideia, em 2008, com o veleiro C’est La Vie, nós montamos uma tripulação de instrutores e alunos da ANI e fomos vice-campeões na categoria RGS cruzeiro, da copa Veleiro de Oceano, de Florianópolis. Em 2009, nós fomos a Ilha Bela, também com alunos e instrutores daqui, e tiramos oitavo lugar entre 24 barcos, também na categoria RGS cruzeiro e concorrendo com barcos bem melhores que os nossos, com tripulação também bastante afiada. No ano passado, disputamos novamente o campeonato de Florianópolis, e mais uma vez fomos vice-campeões na nossa categoria. Então, quando a gente recebeu a notícia de que a Volvo Ocen Race iria passar por Itajaí, ficamos muito alegres.

DIARINHO – O senhor acredita que a vela itajaiense vai ser beneficiada com a vinda da regata?

Cláudio – Esta é uma preocupação. Estamos tentando buscar algum benefício. A gente sabe que este é um evento de grande magnitude, pois já colocou Itajaí aos olhos do mundo. É um evento onde, com certeza, vocês vão ver o Saco da fazenda cheio de embarcações. O único local que tem pra abrigar barcos é o Saco da Fazenda. Não do jeito que está, pois ele e o canal encontram-se assoreados. Então, vai ter que ser feita alguma modificação até lá pra abrigar esses barcos. Mas o que de fato a gente podia tirar de benefício disso, praticamente, a gente ainda não vislumbrou. Mas eu acredito que temos que trabalhar nesse sentido, de tirar algum proveito dessa passagem da Volvo aqui em Itajaí.

DIARINHO – A ANI foi incluída nos planejamentos das obras pra Volvo Ocean Race?

Cláudio – [Pausa e suspiro]. A ANI não foi incluída, apesar disso ser uma reivindicação nossa. Às vezes eu dou curso de vela oceânica, no final de semana, e tenho alunos de Blumenau, Camboriú, Bombinhas, Porto Belo e Indaial. Então hoje, se você falar em vela no vale do Itajaí, a referência que o pessoal tem é ANI. Quem é desse meio náutico sabe que, falou em vela no vale do Itajaí, tá falando de ANI, tá falando de Itajaí. Então, por a gente tsr essa referência na vela, nós gostaríamos de estar mais juntos da comissão organizadora. Quando foi anunciada a questão da Volvo, numa ocasião, tivemos uma regata e a gente conversou com o prefeito Jandir Bellini (PP) solicitando que a associação fizesse parte dessa comissão. Pra ter alguém técnico dentro da comissão. Na época o prefeito sinalizou positivamente e declarou, inclusive, numa das nossas confraternizações da regata do aniversário de Itajaí, que a ANI a partir daquele momento estaria incluída na comissão da Volvo Ocean Race. Mas eu acho que isso se perdeu ao longo do caminho, pois nós não fomos chamados pra fazer parte da comissão. Quando houve aquelas três palestras que o Alan Adler, da Brasil 1, veio fazer aqui em Itajaí, o que nos chateou um pouco foi o fato de ter ocorrido a palestra no mesmo dia da audiência pública sobre a marina do Saco da Fazenda. Mas na 2ª palestra eu fui, conversei então com o presidente da comissão organizadora, que é o Amilcar Gazaniga, e cobrei dele, justamente, essa mesma posição que o prefeito já havia definido: a de que a ANI faria parte da comissão da Volvo. A resposta que eu tive foi que seríamos chamados num segundo momento, quando seriam formadas sub-comissões, mas até agora nós não fomos chamados. Creio que Itajaí perde um pouco com isso, pois vejo uma comissão tratando de uma regata de vela, onde as pessoas que estão na comissão não são pessoas habilitadas pra esse esporte. Não tem conhecimento técnico. Então, claro, nós gostaríamos de estar lá com o objetivo de fazer com que a regata seja a melhor possível dentro dessa área náutica.

DIARINHO – Faltam pouco mais de seis meses pra a chegada da regata a Itajaí. Como o senhor vê o estágio em que se encontram as obras na vila da regata?

Cláudio – Como nós não estamos na comissão, não temos uma ideia do que está sendo planejado, qual é o prazo, qual é o custo, enfim… Você sabe que quando uma obra tem recurso, ela vai rápido, olha o exemplo da Havan em Itajaí. Começou a ser construída faz pouco tempo e vai ser inaugurada neste sábado. Então, quando se tem recursos, uma obra pode ser feita da noite pro dia. Sem saber o planejamento, a nossa preocupação é que está muito em cima. Pra se ter uma ideia, a regata vai largar dentro de alguns dias em Alicante, na Espanha. A gente olha ali o pátio ao lado da Marejada e não se vê nada. Então, claro, fisicamente, olhando de fora, a opinião que se tem é que está tudo muito atrasado. Agora, não tenho conhecimento de qual é o planejamento deles, qual é o prazo que a Volvo cobra também, não tenho essa informação. Uma das coisas que nós estamos nos preocupando, como ANI, é a questão de onde serão abrigados os barcos que vão vir assistir a Volvo. Tenho certeza que nós vamos ter de 300 a 500 barcos de fora de Itajaí que vão vir pra cá. E nós somos muito cobrados por isso. A gente abriga aqui o cruzeiro Costa Sul, que são embarcações que saem do Rio de Janeiro e vêm a Florianópolis; o cruzeiro da Amizade, que sai de Buenos Aires e vai até o Rio; vários navegadores estrangeiros passam e fundeiam aqui no nosso abrigo. E como a gente tá muito com o pessoal do Iate Clube lá de Florianópolis, eles nos cobram muito sobre a Volvo. E eu não sei explicar, não sei o que tá se passando. Já chegou ocasião de eu chegar lá em Florianópolis e os caras perguntarem: “Tá fazendo o que aqui, cara, hoje não tem uma reunião da Volvo lá? A mesma coisa aconteceu no dia daquele café da manhã de lançamento da regata.” Então a gente é muito cobrado e questionado, mas não temos conhecimento de nada sobre a VOR. Temos um projeto em relação aos barcos que vão vir e já levamos ao conhecimento do pessoal que tá organizando. É um projeto pra fazer uma dragagem, pra colocar poitas no Saco da Fazenda, pra justamente, abrigar essas embarcações. Hoje, o único lugar que pode abrigar embarcações em Itajaí é o Saco da Fazenda. Se você colocar ao longo do rio, são veleiros, são lanchas que conforme passam, vão ficar se batendo contra o cais. O cai que nós temos hoje ao longo do rio já está ocupado; cais de pesca, cais do porto, que são somente pra navios. Fora daqui, fora do rio e do Saco da Fazenda, Cabeçudas não é um local de abrigo, ele abriga somente em caso de vento sul, então não é um lugar em que possa parar. Outra opção seria Porto Belo, mas seria muito inconveniente pra quem vem participar de uma Volvo ter que, todos os dias, estar se deslocando de Porto Belo até Itajaí e vice-versa. Então essa é uma preocupação nossa de abrigar barcos aqui dentro, mas que requer, com certeza, uma estrutura, um investimento em termos de dragagem, de poitas, de sanitários, em termos de embarcação pra fazer o transporte dessas pessoas. São várias coisas que têm de ser planejadas, que têm de ser pensadas pro sucesso do evento.

DIARINHO – O senhor vê a construção da Marina do Saco da Fazenda como um benefício ou um prejuízo à associação e aos pequenos pescadores?

Cláudio – Essa é uma questão bastante polêmica, que já vem sendo discutida há vários anos. O que eu vejo hoje é que o Brasil tem nove mil quilômetros de costa, mas é deficitário em termos de cais pra abrigar navegadores. Esse projeto em Itajaí seria benéfico tanto pra quem navega como pra cidade. Desde que essa construção contemple todas as partes. Tem que contemplar quem vai fazer o investimento, o pescador que nasceu, pesca aqui e tem mais direito do que todos os outros, a ANI que já tá aqui há 10 anos. Vejo a baía Afonso Wipel, que é o Saco da Fazenda, como um complexo náutico, mas antes isso deve ser discutido com todos os segmentos. Pra ter uma marina numa certa parte, a associação com uma estrutura melhor, construir um trapiche pro pescador ter um abrigo. Além disso, cuidar pra não colocar muitos barcos, pra própria população estar usufruindo do Saco da Fazenda também. Acho que isso bem planejado, bem elaborado, com essa ideia de contemplar a todos, pode ser muito benéfico pra Itajaí. Vai gerar empregos, vai gerar renda.

DIARINHO – Há um espaço contemplado pra ANI dentro da Marina?

Cláudio - O projeto que foi apresentado inicialmente, ele ficaria aqui entre o espigão central e a Beira-rio, seriam trapiches paralelos à Beira-rio e viriam até aqui no nosso contêiner. Mas esse projeto apresentado inviabilizaria as nossas aulas devido às condições dos ventos. Nele estava previsto uma sede e um trapiche para a associação náutica, além de um trapiche pros pescadores. Através de algumas reuniões conseguimos chegar a um consenso e foi feito um novo projeto colocando a marina de uma forma que essa parte aqui fique livre pra nossa navegação. Agora a marina deve ser construída no espigão central e deste espigão saem trapiches pras laterais. Porém, neste segundo projeto, que foi o que aconteceu, já estão as plantas do prédio da polícia Federal (PF) que vai ser naquele bota-fora próximo do rio, e não estão as plantas do prédio da associação. Então, claro, é uma coisa que a gente tem que tratar com certo tato, mas eu acho que o projeto deveria ser não só de uma marina, mas de um complexo náutico, realmente, que contemple marina, polícia Federal, Associação Náutica de Itajaí e pescadores. Que todos possam desfrutar e sejam beneficiados com esse empreendimento.

Cláudio – Acho que o primeiro passo já está sendo dado, que é a questão da canalização da rede de esgoto. A gente vê que isso está sendo feito, já passou aqui a tubulação, está sendo canalizada toda a rede de esgoto do bairro Fazenda. Só que isso ainda não foi ligado, os apartamentos, os restaurantes, as casas, os edifícios não podem ainda se ligar a essa rede, enquanto ela não estiver completa e funcionando. Então, enquanto isso, o Saco da Fazenda continua fedendo, continua recebendo poluição. No momento em que essa captação de esgoto estiver funcionando, com certeza já vai melhorar bastante essa questão do mau cheiro do Saco da Fazenda. Outra coisa que pode melhorar isso aí é o próprio projeto do complexo náutico e ambiental, ele prevê programas de monitoramento, de melhoramento de poluição e tudo o mais. O brasileiro, ele não tem muito o hábito de cobrar esses programas. Mas nós da associação estamos atentos e isso pode ser um dos benefícios que o complexo vai trazer. A partir do momento que o investidor realizar o investimento na marina, ele vai ter que assinar uma carta de intenção, onde prevê esses problemas. Aí basta que a população cobre isso, de uma forma ou de outra. O brasileiro é muito acomodado, ele esquece de tudo, ele não cobra nada. Mas a gente, como escola também do meio ambiente, com certeza, nós vamos cobrar sobre esses programas.

DIARINHO – A regata Marejada se concretizou no calendário do iate Clube de Santa Catarina. Essa consolidação aconteceu pela insistência da ANI?

Cláudio – Não, foi uma parceria entre a ANI e o Iate clube de Santa Catarina. Quando cheguei aqui em 2007 já existia a regata Marejada, já era tradicional e os próprios velejadores gostam muito da regata Marejada. É uma regata esperada e a cada ano fica melhor. [Por que este ano a regata foi pouco divulgada?] Como é uma parceria, as tarefas são divididas entre as duas entidades. Compete a ANI receber os velejadores na chegada. Então, determinamos o local onde eles serão recebidos, a premiação também é de nossa competência, mas a parte técnica compete ao Iate Clube de Santa Catarina. A primeira coisa que se faz numa regata chama-se aviso de regata e isso fica a cargo do clube que está com a responsabilidade da parte técnica, nesse caso, o Iate Clube de Santa Catarina. O aviso de regata este ano saiu só na quarta-feira antes da regata. Ela foi disputada no sábado, mas até sair o aviso de regata você não tem nada oficial que a regata vai acontecer. Com isso, nós aqui não tivemos tempo nem de divulgar a regata.

DIARINHO - A ANI tem algum outro projeto em vista?

Cláudio - Estamos lançando o “Adote uma bateira”, pra arrecadar mais recursos pra associação, pois o dinheiro que vem da prefeitura a gente paga os instrutores, e o dinheiro de doações voluntárias utilizamos pra fazer a manutenção. Mas a ANI não tem verba pra comprar um computador, pra comprar material etc. Chegamos à conclusão que nós temos uma vela que é um outdoor ambulante. Como temos 14 bateiras que diariamente tão velejando no Saco da Fazenda, criamos este novo projeto. A empresa vai adotar uma bateira, fazer uma doação mensal de R$ 500 pra associação e vai colocar na vela a sua logo e a sua propaganda como apoiador do projeto. Esta é uma oportunidade pra empresa participar de um projeto social e ajudar a formar cidadãos. A Itacorda aqui de Itajaí é uma empresa que já faz algo nesse sentido há muito tempo. [Quem quiser participar desse projeto como entra em contato?] Pode entrar em contato com ANI por e-mail ou por telefone, nós temos uma página na internet que é www.culturanautica.org.br. O nosso e-mail para contato é o contato@culturanautica.org.br e tem os telefones, o meu é (47) 9146-2020, e tem um telefone da ANI que fica com o pessoal da praia que é o (47) 9918-1618.

RAIO-X

NOME: Cláudio Copello

NATURALIDADE: Rio Grande/RS

IDADE: 42

ESTADO CIVIL: casado

FILHOS: 2

FORMAÇÃO: Graduado em administração de empresas pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali)

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: Oficial reformado do Exército Brasileiro, foi diretor presidente da indústria de laticínios Siola/RS, coordenou o Instituto Kat Schürmann, foi diretor da Associação Naútica de Itajaí (ANI) e atualmente preside a entidade. Coppelo também foi tripulante do veleiro Aysso, da família Schürmann, no projeto de busca do submarino alemão U-513.

Existe um paradigma que a vela é um esporte náutico pra quem tem dinheiro e a ANI quer justamente quebrar este paradigma. A vela é pra quem tem vontade de velejar

Quando conheci esse projeto da ANI no Saco da Fazenda, percebi um contraponto em relação a tudo que a gente vê no Brasil. No nosso país, a gente vê grandes elefantes brancos, com muitos funcionários e pouco resultado. Já aqui o recurso é baixo, mas durante uma semana eu vi 300 crianças dentro da água

A ANI não foi chamada pra participar do planejamento da VOR e acredito que não vamos ser chamados. Creio que Itajaí perde um pouco com isso, pois vejo uma comissão tratando de uma regata de vela, onde as pessoas não tem conhecimento técnico




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