A trombadona rolou pouco antes das 19h. O Palio, placa MGX 7731 (Penha), era dirigido por Bertilo Backer, 45 anos. Ele deixava o pátio do posto Bom Clima, quando tentou atravessar a pista da Variante na diagonal, pouco antes de uma das elevações que tem na rodovia. Esse foi seu erro. Adelar Pereira, 24, que seguida em direção ao centro da Penha com o Escort, placa BOA 3116 (Piçarras), só conseguiu ver o Paliozinho a poucos metros do carango. A porrada foi inevitável.
O Palio foi lançado contra o muro de uma baia que fica às margens da Variante. Os dois carangos ficaram detonados. Apesar da cena ser de assustar, Bertilo sofreu apenas uma luxação no braço. Adelar e sua filha, uma dimenor de 15 anos, que tava no banco do carona, sofreram alguns arranhões pelo corpo.
Mulher e netinho escaparam por pouco
A sorte também esteve do lado de dona Nélia Borges, 59 anos, proprietária da baia invadida pelo Palio. A mulher colhia morangos no quintal cinco minutos antes do carango ser arremessado contra o muro do terreno. Eu tinha acabado de entrar em casa com o meu neto [uma criança de um ano e sete meses]. Foi um barulho muito grande, horrível, contou a senhorinha, que mora por lá há 11 anos.
Líder do movimento que pede segurança na Variante sugere colocação de lombadas
O comerciante Elizeu Fiamoncini, 31 anos, foi um dos líderes de um movimento popular que fechou a rodovia no dia 23 de junho deste ano pra denunciar a falta de segurança na Variante e pedir uma ação das otoridades. Dono de uma agropecuária às margens da rodovia, ele diz que já se contentaria com a instalação de lombadas físicas pra conter a velô dos carangos que passam por lá. Basta que o Deinfra [Departamento Estadual de Infraestrutura] autorize, e nós mesmos [moradores] compramos o material e fazemos as lombadas, sugere.
Pra Elizeu, pelo menos quatro lombadas físicas são necessárias ao longo da SC-414. O ponto mais crítico, diz, é nas proximidades dos morrinhos. Foi numa dessas elevações, ressalta, que rolou a trombadona da quarta-feira à noite. São pontos cegos. Tem motorista que vem mais devagar, mas maioria sobe e desce os morros a 170 km/h, descasca.
Conheça a história de dois moradores que acabaram vítimas da falta de segurança da Variante
A secretária Lucimara Antunes de Souza, 25 anos, é uma das vítimas da Variante. Em 17 de junho, deste ano, a coitada, que trampa na oficina de carangos do marido e mora do outro lado da rodovia, foi acertada por um busão da empresa Santo Anjo, que segundo ela tava a 90 quilômetros por hora. O acidente rolou quando a moça foi atravessar a pista com sua Bizinha.
Lucimara viu a morte de perto. Teve seis costelas quebradas, perfuração no pulmão, hemorragia na parte interna do peito, fraturas na coxa, na canela e no ombro. Foi obrigada ainda a arrancar o baço por causa do sangramento interno. Durante 13 dias, usou uma bolsa pra poder fazer as necessidades, além de um dreno no peito.
As consequências do acidente foram tão graves que o médico que atendeu Lucimara no hospital Marieta Konder Bornhausen quase jogou a toalha. Ela ficou cinco dias entre a vida e a morte. O médico, antes de atendê-la, disse que achava que ela não duraria mais 10 minutos, conta o mecânico Arnaldo João de Souza, marido de Lucimara.
Emocionado, Arnaldo lembra bem do dia do acidente que quase o deixou viúvo. A esposa, que trampa na oficina de carangos da família como secretária, havia ido até a baia do casal pegar um pendrive. Um moço que trabalhava com a gente tava passando e viu o acidente. Eu soube por ele, lembra o mecânico. Ela estava consciente, mas reclamava de falta de ar e de fortes dores no peito, acho que por causa da hemorragia, acrescenta.
Coincidência ou não, um dia antes do acidente com Lucimara, outra vítima da rodovia estava no hospital Marieta Konder Bornhausen. As marcas impressas na perna direita de André Manoel da Silva, 25, não o deixam esquecer o dia 16 de junho, quando, de moto, bateu contra um carango que fazia o retorno pelo meio da pista.
Apesar de não quebrar nenhum osso, o pescador teve músculo e peles da perna dilacerados. Precisou fazer um enxerto no local. Pra completar, ainda pegou uma infecção hospitalar que o manteve por dois meses internado.
Só este ano rolaram mais de 100 casos
As histórias de Luciana e de André apenas ilustram a triste estatística dos acidentes violentos que rolam na Variante. Jhonny Coelho, comandante do corpo de Bombeiros Voluntários de Penha e Balneário Piçarras, diz que em 10 anos de trampo, os vermelhinhos já atenderam mais de 450 ocorrências naquela rodovia. Só entre os meses de junho do ano passado e junho deste ano, foram contabilizados mais de 100 acidentes graves na SC-414, uma assustadora média de quase dois por semana, faz questão de dizer Jhonny. Nos últimos quatro meses foram mais de 20 colisões, entre trombadas e atropelamentos.
O chefão dos vermelhinhos lembra que ao longo da rodovia há comércios, além do cemitério municipal, um bailão e até escolas por perto.