Itajaí
Widomar Pererira Carpes Junior
"A pesca ainda é tida como uma área que não precisa qualificar o trabalhador"
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
DIARINHO Nas duas últimas turmas abertas para o curso técnico da pesca em Itajaí sobraram vagas. Por que no maior polo pesqueiro do país as pessoas não se animam em buscar capacitação?
Widomar Pereira Carpes Junior Na nossa visão é porque a área de pesca é tida como uma área um pouco marginalizada. As pessoas não têm tanto interesse quanto têm por outras áreas, como saúde e ...
 
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Widomar Pereira Carpes Junior Na nossa visão é porque a área de pesca é tida como uma área um pouco marginalizada. As pessoas não têm tanto interesse quanto têm por outras áreas, como saúde e gestão. A área de pesca é tida ainda como uma área de trabalhadores desqualificados. Apesar de que muitas ocupações na área de pesca têm bons salários. Mas se tem essa visão. [Como mudar isso? De que forma a sociedade vai entender que é um profissional que tem a capacidade de ganhar um bom salário?] O salário já existe, alguns até muito bons. Mas isso vai vir de uma mudança de mentalidade no próprio setor industrial. Tanto de muitos empresários como de trabalhadores. Saber que na área de pesca é preciso se capacitar. E, se capacitando, se tem uma maior produtividade que vai garantir a sobrevivência das empresas e os bons salários dentro do próprio setor.
DIARINHO Como é tomada a decisão para criar e oferecer cursos técnicos em Itajaí? O que baliza essa decisão?
Widomar Esses cursos técnicos que estão sendo criados foram baseados numa audiência pública, feita há alguns anos aqui. Então, o primeiro curso da lista foi exatamente o curso de pesca. Porque a área de pesca é a área que mais emprega dentro do município de Itajaí. Na audiência pública, com representantes dos trabalhadores, da sociedade, prefeitura, patrões, etc, se decidiu por alguns cursos técnicos, que estão em processo de implantação.
DIARINHO Na prática, o que a região perde com a demora da conclusão da obra do prédio do Instituto Federal, na Contorno Sul? Quantos cursos deixam de funcionar por falta de estrutura?
Widomar Neste momento, pelo menos, nós já deveríamos ter o curso de mecânica, que nós não temos ainda por conta disso. O curso de mecânica seria de 80 vagas anuais, que estão deixando de ser ofertadas. Fora os cursos de qualificação nesta mesma área, como o de soldador, montador naval, montador de estruturas mecânicas e aí por diante. [Por que essa demora?] Tivemos problemas com a construtora. Nós pegamos uma construtora que é daqui da região e ela não conseguiu cumprir os prazos. Ela pediu três extensões de prazo pra conseguir acabar e mesmo assim não conseguiu. Então, o que a gente começou a observar em um determinado momento é que nós conseguimos construir mais cinco obras iguais a esta no estado. E as cinco acabaram, menos em Itajaí. Nas outras obras a gente via 60 operários trabalhando, às vezes 90. Aqui em Itajaí tinha momentos que estavam apenas 18 operários na obra. Então a empresa realmente não teve a capacidade de cumprir o acordado, o que estava em contrato. Por isso, ela foi retirada após a segunda ou terceira prorrogação de prazo. Ela tentou voltar, entrou na justiça, enfim. Agora, nós estamos em um segundo momento, de verificar o que foi feito. Já tem uma empresa trabalhando nisso. Provavelmente até metade de dezembro eles vão entregar este relatório e a gente vai proceder com um novo edital de licitação, para retomar a obra. Aí a gente imagina que tem de quatro a seis meses para a conclusão. [Qual que era o prazo inicial?] Ela deveria ter acabado em janeiro de 2010. Tudo isso por causa de uma empresa que não teve a capacidade de concluir a obra. [Qual empresa?] A Empresa Costa Azul, daqui de Itajaí. E o mais interessante disso tudo é que ela conseguiu terminar uma obra em Lages, que não é a sede dela. Uma obra nossa, do mesmo tamanho, e não conseguiram terminar a de Itajaí.
DIARINHO Não falta agora um ambiente para ter aula prática?
Widomar Bem, o curso de mecânica não foi lançado porque a gente não tem condições. Nós temos laboratórios aqui nesse prédio, temos dois laboratórios de ensino. Um de análises químicas e biológicas e outro de pesca e aquicultura. Então, para o curso de pesca e aquicultura nós temos praticamente todos os equipamentos. Alguma coisa a gente faz visitas externas para conseguir lidar com isso e nos outros casos também usamos apoio de outros laboratórios do Instituto Federal em outros municípios. A gente coloca o pessoal no ônibus e leva pra lá. O resto a gente tem laboratório aqui. Então o curso de pesca e aquicultura a gente não tem dificuldade. Na parte mecânica, o próximo curso a entrar, temos alguma coisa aqui. Nós temos um laboratório de metrologia, inclusive com uma máquina de medição por coordenadas. Uma máquina bastante sofisticada. Laboratório de informática nós temos. [Essa ida aos laboratórios externos está ocorrendo por conta da não finalização da obra? Tudo vai ser localizado dentro daquela estrutura ou vocês estão planejando ir para outros lugares?] Assim, sempre fazemos visitas às empresas. Tanto que todos nossos campi têm ônibus. Itajaí ainda não tem, mas pretendemos em breve adquirir esse ônibus. Mesmo não estando completa a obra, nós temos serviços de ônibus contratados. Isso é normal, a gente levar alunos às empresas de São Paulo, Curitiba e outras localidades. Mas isso da empresa não ter entregado a obra fez com que a gente tivesse que procurar alguns caminhos pra alguns problemas específicos. [Existe alguma parceria com alguma instituição de ensino aqui de Itajaí?] Não, nós não temos nenhuma parceria. Nós temos uma relação muito boa com a Feapi [fundação de Educação Profissional e Administração Pública de Itajaí]. A Feapi nos serve em muitos momentos. O trabalho do superintendente e de toda sua equipe é muito bom.
DIARINHO O Instituto Federal tem enfrentado evasão nas turmas já montadas? Quantos começam e quantos acabam desistindo no meio do caminho? Qual o curso onde há mais desistência e por quê?
Widomar A questão de desistência é um pouquinho mais complexa. Normalmente, as desistências em cursos técnicos, chamados não integrados, são subsequentes, acontecem mais no primeiro semestre. No primeiro semestre se tem uma grande evasão. A pessoa entra, faz até um mês de aula e depois desiste porque descobriu que não era aquilo que queria fazer. Não deveria ser normal, mas isso segue um certo padrão. Em geral, é porque não era aquilo que a pessoa queria, ou porque também, nas áreas de pesca e aquicultura, muitos alunos são carentes e, às vezes, conseguem um emprego melhor e acabam desistindo. Mesmo o curso sendo gratuito. E, além disso, o aluno recebe ajuda de custo quando necessário. Por exemplo, tem aluno aqui que nós damos assistência estudantil para pagamento de ônibus. A gente questionou: o que faz um aluno não vir à aula? É feita uma chamada, se é problema financeiro, a gente compensa isso de alguma forma. Então, nós temos assistência estudantil, pode pagar o equivalente ao ônibus, pode ser uma bolsa. Já houve até caso de auxílio para alunos que tinham problemas de residência, com auxílio de pagamento de aluguel. [O que prejudica aqui no Instituto a evasão? Vocês já têm uma lista de alunos que possam suprir essa evasão?] Bom, é que assim, quando tem evasão, acho que temos até duas semanas para repor aquele quadro. Muitas vezes o aluno evade e não avisa. Se avisar, a gente chama os outros do concurso. Se não avisar, a gente não tem o que fazer. Tem a 2ª, 3ª chamada e aí por diante. A gente pode fazer chamadas mais pra frente, mas se o aluno não avisa, a gente tem problema. O curso de aquicultura tá mais ou menos tranquilo, mas o de pesca a gente tá pensando em uma reformulação em breve para ele. [São quantos alunos hoje?] Atualmente, 11 alunos cursando. Em aquicultura, 25, e temos os cursos de qualificação. Temos o curso de desenho técnico, instalações elétricas residenciais, desenho técnico de computador, mestre de cerimônia e cerimonialista e também temos de informática básica, NR10 [Segurança em instalações e serviços em eletricidade], que é um curso mais voltado para o pessoal da área naval. No próximo semestre, temos a perspectiva de oito cursos de qualificação e estamos com inscrições abertas para o curso técnico em pesca, até o dia 16 próximo.
DIARINHO Quais os setores que mais demandam captação de trabalhadores na região?
Widomar O campus de Itajaí é voltado ao arranjo produtivo local. Os campi que a gente chama da expansão são mais voltados para os arranjos produtivos locais. Então o nosso campus aqui é mais voltado para a área de tecnologia marinha, pesca, aquicultura, construção naval, mecânica, petróleo e gás, eletroeletrônica, cozinha - que hoje é considerada uma das necessidades na área naval, ter o cozinheiro, e também atenderia a região na parte de turismo, por isso foi incluída. E mecatrônica, que é robótica. Estes cursos foram escolhidos na audiência pública, por uma previsão feita em cima da necessidade do número de trabalhadores da região, e das necessidades dos setores que mais empregam, dentro da área de tecnologia. [E onde entra aí construção civil, turismo e hotelaria? Chegou a ser discutido isso?] Na verdade, não. Como se focou na parte de tecnologia marinha, se evitou essas outras áreas, porque senão ficaria muito amplo e não daríamos foco ao campus. Talvez em um segundo momento essas áreas possam ser abrangidas também, mas neste momento não é nossa prioridade.
DIARINHO Quem mais perde com a falta de uma estrutura adequada para abrigar o Instituto Federal, os trabalhadores que precisam enfrentar um mercado cada vez mais exigente no que diz respeito à qualificação, ou os empresários, que sofrem com a escassez de força de trabalho qualificada?
Widomar Os dois. Mas a nossa principal preocupação é com os trabalhadores das comunidades carentes. Nós temos em Itajaí cerca de 30% da população abaixo da linha de pobreza. Isso no censo de 2000, mas teve outras estatísticas que vieram mais tarde. E essas pessoas não conseguem estudar porque o ensino é caro. O ensino é pago e isso é muito difícil. Então, quando o Instituto Federal veio para Itajaí, não foi só para atender a demanda industrial, mas atender a demanda industrial sendo o primeiro curso técnico, ou superior ou de qualificação para essa população mais carente. Então nosso foco é nessa população que não tem como estudar, porque não tem dinheiro para pagar. Itajaí é um polo de educação, todo mundo sabe, tem grandes universidades, tem grande oferta de curso, mas é tudo pago. Com excessão de nós e da Feapi, o resto tudo é pago. E essas pessoas vivem em um ciclo de pobreza porque, se o avô era pobre porque não tinha condições de melhorar de vida, acontece que o pai vai ser pobre e o filho vai ser pobre. Porque eles não conseguem ter um acesso à educação e se perpetua essa situação. [O curso daqui atende somente Itajaí?] Não. Ele atende toda a região da foz do rio Itajaí. Na verdade, a gente considera como áreas atendidas os municípios que se situam a uma distância rodoviária de 50 quilômetros. [Navegantes, Penha, Balneário Camboriú, Camboriú, Tijucas, Itapema, Barra Velha, Porto Belo, Luís Alves]. Porque quando nós começamos a fazer nossos projetos de expansão, nós pensamos que construir um polo ou um campus numa distância não maior que 50 quilômetros. Então a pessoa não precisa viajar mais de uma hora para estudar. Foi essa a nossa previsão para a expansão. Pegar esses dados principais, ou por importância econômica ou por importância social. Por exemplo, nós temos campus em cidades pequenas, mas estão lá porque são cidades de índice de pobreza e índice de desenvolvimento humano muito baixo. Bastante desfavorável. São dois critérios que a gente usou basicamente para escolher as cidades.
DIARINHO Como funciona a divulgação dos cursos nesses municípios? É feito algum trabalho de busca nas escolas?
Widomar Não. A gente tem uma experiência na região de Florianópolis. É importante fazer propaganda. Mas o que mais ajuda para conseguir alunos são os cursos de qualificação. Porque quem vem fazer o curso de qualificação vem para um curso rápido de 40 horas, mas normalmente ou ele faz um técnico e um superior ou ele indica para alguém da família, conhecido, fazer o curso aqui dentro. Então, essa divulgação, para nós, é uma das mais importantes. A divulgação via TV, jornal, rádio, para nós, é menos efetiva do que essa outra, que é feita pelos próprios alunos. O aluno vem para cá, vê os equipamentos que a gente tem, fica maravilhado com a estrutura e vê que isso é pra mim, também é pra mim. Não é só para aqueles que têm dinheiro. Tem uma questão bastante interessante que acontece em Florianópolis. Atrás do campus de lá tem algumas comunidades carentes que a gente chama de favelas. E o pessoal lá dificilmente vai estudar no Instituto Federal e mesmo na época de escola técnica eles não iam estudar lá. Porque eles acham que aquilo não é para eles. É uma questão cultural. Vê uma coisa boa e acha que aquilo não é para eles porque eles são pobres, talvez pense que são menos merecedores. A gente tem feito um trabalho muito intenso para mudar a mentalidade dessas pessoas. [Você acha que isso pode acontecer em Itajaí?] Acho que pode. Por isso que a gente tem feito alguns trabalhos com algumas comunidades. Por exemplo, a gente tem feito alguns projetos com crianças juntos a ANI (Associação Náutica de Itajaí), para que essas crianças conheçam o Instituto Federal.
DIARINHO Tendo a estrutura lá montada, qual vai ser a estrutura física, salas, professores, quantos alunos o instituto consegue comportar?
Widomar Ele foi construído para 1.200 alunos, pode até expandir um pouco mais, 60 docentes e 50 técnicos administrativos. Ali teria seis cursos técnicos mais dois superiores.
DIARINHO Aqui tem o Senac que oferece cursos pagos. Com o Instituto sendo um curso gratuito, as pessoas não terão desconfiança quanto à qualidade?
Widomar Isso é engraçado, as pessoas têm desconfiança disso. Nós somos o melhor instituto do país pela segunda vez consecutiva, porque nós temos curso superior. Na comparação com algumas universidades, no índice do Enade [exame Nacional de Desempenho de Estudantes], nós temos a melhor média do estado de Santa Catarina. Se não paga, não é bom, né? O que a gente está pensando em fazer, até estamos conversando muito em reformular o curso de pesca e talvez outros cursos também, é trabalhar com pessoal mais novo. Então, ofertar os cursos integrados é uma outra opção. O que é o curso integrado? O aluno faz o ensino médio e o curso técnico juntos. Os dois cursos estão mesclados até o final de quatro anos. Ao invés de três, o aluno se forma num curso que é um ensino médio de qualidade e também um curso técnico que vai garantir uma profissão mais a frente. Então, trabalhar com o pessoal mais novo é uma opção mais interessante. [Vocês auxiliam a pessoa quando sai daqui a ingressar no mercado de trabalho?] Se o aluno precisar a gente faz contato, sem problema nenhum. [Qual a idade mínima para estudar no instituto?] O curso técnico em pesca não tem idade mínima, basta ter concluído o ensino médio. O técnico de aquicultura, pode estar fazendo o ensino médio paralelo ao curso técnico ou já tenha cursado o técnico. Por exemplo, ele pode estudar à tarde em uma escola estadual, municipal e vir à noite fazer o curso técnico, isso durante o ensino médio. [Como faz para ingressar aqui? É por exame?] É, temos editais para exame de classificação, o aluno é classificado conforme a nota, ele vai sendo chamado conforme a pontuação que ele recebeu nas provas. No futuro, nós pretendemos ter também cotas, porque assim, não faz sentido para nós, tendo essa questão de estudantes mais carentes e a gente não atender a população mais carente também. Têm pessoas que não entendem muito bem essa questão das cotas. Ela auxilia pessoas mais pobres a terem um lugar dentro das universidades. Porque essas pessoas normalmente vêm de um ensino mais fraco e são muitas vezes elas que trabalham. Por exemplo, já tivemos casos de cursos técnicos com alunos que tiveram ensino médio de excelente qualidade, em que boa parte dos alunos veio de uma escola particular de alto nível. Que aí representa uma economia para aquela família e é um aluno que teria condições de pagar uma escola particular e ele não vai trabalhar como técnico. Já tivemos casos desse tipo. Então, principalmente para o técnico, tem que ter o sistema de cotas, pelo menos na minha visão, que eu compartilho com boa parte dos diretores da instituição. Enquanto não resolver essa questão de educação das pessoas mais pobres, a cidade fica travada economicamente. Tem alguns setores que vão despontar economicamente, mas grande parte da população não tem acesso às coisas. Essas pessoas pobres, tendo profissões piores e mais mal remuneradas, representam que o comércio não gira. As empresas, por não terem gente qualificada, correm um risco quanto à própria sobrevivência. As empresas praticamente não têm inovação. Nos últimos anos nós tivemos um grande crescimento econômico porque houve também uma mudança de mentalidade. Em relação ao presidente Lula: ele foi retirante, torneiro mecânico e via a importância de uma boa renda familiar como motivador da economia. Essa ideia que o Lula tem de suas questões ideológicas relacionadas, na verdade essa ideia nem é dele, é uma ideia mais antiga de um grande pensador econômico chamado Peter Drucker [filósofo e economista de origem austríaca, considerado o pai da administração moderna. Faleceu em novembro de 2005] que diz que a maior inovação americana não são as indústrias e nem a tecnologia. A maior inovação americana é o poder de compra do trabalhador. Porque ali movimenta toda a economia. O Joelmir Beting [jornalista] gosta de citar muito o Peter Drucker, porque o Drucker fala exatamente disso. Tanto que a gente vê que as inovações que movimentam a economia, a maioria delas são de baixíssima tecnologia. Por exemplo, quantas redes de fast food nós temos? Quanta tecnologia tem um fast food? Baixíssima. Alimentos e roupas são os principais dentro dessa área e são coisas de baixíssima tecnologia e é uma das coisas que movimentam a economia. Então a inovação não está tanto lá, a inovação está no poder de compra. Teve uma vez, há uns anos, o Luz para Todos [programa do governo federal lançado em 2003, que tinha por objetivo levar energia elétrica pra população do meio rural de forma gratuita], e aí eu tive vendo um balanço do governo. O projeto nunca tinha sido feito porque o custo da instalação em cidades remotas é muito alto. Quando eles fizeram o Luz para Todos, ah, o governo vai bancar, porque tem dinheiro e tal, depois que viram o balanço, só o pagamento de imposto daquelas pessoas que tiveram acesso à luz na compra de eletrodomésticos, da conta de luz e aí por diante, o pagamento de imposto em pouco tempo devolveu ao governo muito mais do que foi investido. Então, é muito importante o trabalhador ter um bom salário, porque isso movimenta a economia. Compra-se mais comida, roupa, carros e imóveis. Isso vem muito da qualificação. Isso que o Brasil está fazendo agora expansão do ensino profissional público a Índia fez há uns anos. Começou um pouco mais cedo. A Coreia do Sul fez isso na década de 60. Naquela época, a Coreia teve um presidente que resolveu pegar o dinheiro e resolveu investir tudo em educação. Isso em 30, 40 anos, transformou a Coreia do Sul em uma das potências mundiais. O investimento em educação é o melhor investimento que se pode fazer, porque as pessoas melhoram de vida. Eu estava lendo uma vez uma entrevista com o ministro da Economia da Índia, que ele falou o seguinte: Nós criamos universidades públicas nos setores tecnológicos, engenharia, nessas áreas de tecnologia da informação. Pegamos alunos pobres, com idade para ir à universidade nas cidades da Índia. A renda familiar lá, como agricultor, era em média de US$ 560, US$ 600 por ano, e as famílias não são pequenas. Quando ele vem aqui e faz o curso superior, de engenharia ou tecnologia da informação, o primeiro salário dele, depois que se forma é de US$ 4 mil.
DIARINHO Curso técnico ou ensino superior regular? O que é melhor para Itajaí?
Widomar As duas coisas são essenciais. Mas hoje a grande falta que se tem é de técnicos. Lá em Florianópolis, criou-se a engenharia de aquicultura, nós temos os aquicultores que são os artesanais e temos também a engenharia de aquicultura que o pessoal tem uma altíssima qualidade, bom curso, uma altíssima qualidade de desenvolvimento tecnológico. O que acontece? Há um hiato aí no meio, porque na minha visão o correto é primeiro criar um curso técnico. Porque quando o técnico entra, ele começa a trabalhar nas empresas, o salário menor, e as empresas têm condições de absorver. E aí ele começa a dar produtividade e qualidade aos processos que tem na indústria. O primeiro passo que tem para melhorar é o técnico. Quando a empresa adquire um certo porte, que pode ter uma questão estratégica em termos tecnológicos, em termos de gestão, aí é interessante o profissional de nível superior, um engenheiro, um administrador e daí por diante. Mas o primeiro processo é a empresa ainda pequena botar os processos em dia e para isso ela precisa de um técnico. [Então uma empresa dita ideal teria uma mistura de profissionais da área técnica e ensino superior?] É, em geral se tem aí nas empresas para cada um do nível superior, de três a 10 pessoas de nível técnico. Hoje, no Brasil, nós temos muitos cursos superiores e temos pouca oferta de cursos técnicos. Se eu não me engano, são quatro milhões e pouco de matriculados no nível superior e somente 700 mil nos cursos técnicos. [E tem muita gente formada em cursos técnicos ganhando mais do que os formados em ensino superior...] Por exemplo, na área mecânica, dei muito tempo aula no departamento de mecânica em Florianópolis, nós temos os cursos superiores técnicos. E havia muita procura por eles, das grandes empresas do estado, o salário inicial desse formando era de em torno de R$ 2,8 mil, salário inicial de um técnico formado num curso de um ano e meio. Há uma coisa assim: no Brasil o importante é a pessoa ser doutor. Tem nível superior, então Ah, é um doutor e na verdade isso não representa nada. Nós temos uma questão do status que é muito forte no Brasil. Na verdade, o que precisava era ter bons trabalhadores, seja de nível superior ou técnico em quantidade suficiente para o desenvolvimento do país. Nós temos um outro dado bastante interessante, no Brasil, quatro cursos superiores praticamente têm mais de 80% dos formandos: direito, administração, contabilidade e pedagogia. Então, esses cursos são mais fáceis em termos de recursos. São cursos que a gente chama de cuspe e giz, que precisa de um quadro, professor e alguns recursos básicos. Um curso de mecânica, por exemplo, para montar os laboratórios básicos, gasta no mínimo R$ 2 milhões. Os cursos das áreas industriais são muito caros. Tem um equipamento que a gente já comprou que custa quase R$ 200 mil e é necessário porque a indústria mecânica vai ter, então o aluno é obrigado a saber usar. Saber mexer, saber programar. Por isso é mais fácil para as universidades particulares terem esse tipo de curso. A gente até teve uma preocupação no nosso planejamento, na hora de decidir pelos cursos também, dentro do arranjo produtivo local, a orientação da nossa reitora é assim: Façam primeiro os cursos mais caros. Primeiro, para quem vai pagar é muito mais caro que os outros, por causa dos investimentos feitos. Aí, os cursos que não necessitam dessa estrutura, são, de forma geral, mais baratos, porque é mais fácil para as entidades particulares ofertarem. Então, nós optamos por cursos bem mais caros. Aí, esses cursos conseguem completar aqueles que não têm nas outras instituições.
RAIO-X
Nome: Widomar Pereira Carpes Junior
Naturalidade: Florianópolis
Idade: 43 anos
Estado civil: Casado
Filhos: Não tem
Formação: Doutor em projetos de produtos
Trajetória profissional: Sempre atuou na área da educação, exercendo cargos de professor em cursos de engenharia do estado.
No Brasil, quatro cursos superiores praticamente têm mais de 80% dos formandos: direito, administração, contabilidade e pedagogia.
Temos um equipamento que custa quase R$ 200 mil. É necessário porque a indústria mecânica vai ter, então o aluno é obrigado a saber usar