Violência gratuita. Justiça com as próprias mãos. Sadismo. Estes são os ingredientes de dois vídeos que mostram a agressão promovida pelo segurança terceirizado Rafael Fernando Pessoa, 28 anos, contra um pobre coitado suspeito de furtar seis barras de chocolate das prateleiras do supermercado Mini Preço, na rua Indaial, bairro São João, em Itajaí. A filmagem chegou ao DIARINHO através de uma denúncia e registra o fato, ocorrido no depósito do estabelecimento, no feriado do dia 15, às 11h. O perrengue chegou aos ouvidos da empresa de segurança privada Viaseg, que afirmou à reportagem que demitiu ontem Rafael.
A pessoa que denunciou a agressão afirmou ter escutado gritos perto da sala da gerência do Mini Preço e foi bizolhar o perrengue diperto. Eu vi o segurança espancando e torturando um cara na sala ...
A pessoa que denunciou a agressão afirmou ter escutado gritos perto da sala da gerência do Mini Preço e foi bizolhar o perrengue diperto. Eu vi o segurança espancando e torturando um cara na sala da gerência. Quando ele viu que o cara estava fazendo muito escândalo, resolveu levá-lo para o depósito. E aí começou a tortura, com socos e chutes. Ela descreve ainda a postura do segurança: Meu vizinho trabalha no Mini Preço e edisse que esse segurança gosta de bater nas pessoas. Ele me disse que o segurança quebrou a costela do cara. Jogaram água fria e deram choque nele. Nada justifica. Somos seres humanos, opina.
No vídeo, enquanto o agressor age, dá pra perceber que há outras pessoas em volta. No entanto, ninguém quis evitar a covardia.
O gerente do Mini Preço Corujão, José Carlos, afirmou ao DIARINHO que não tinha conhecimento do furto das barras de chocolate e nem das agressões. Segundo ele, todo santo dia alguma mão ligeira carrega produtos do comércio, contudo, garante que nenhum prestador de serviços tá autorizado a usar de força pra deter a bandidagem. A polícia deve ser acionada pra isso. Em hipótese alguma pode torturar uma pessoa. Isso não existe, se defende. José Carlos ainda se comprometeu em identificar se algum funcionário da casa colaborou com a violência e não explicou a versão do denunciante de que a sessão de torturas teria iniciado na sala da gerência.
Foi pra rua
O segurança Rafael trampava há oito meses na empresa de vigilância e segurança Viaseg, responsável pelas bizolhadas do Mini Preço do São João. Ontem, ele foi pro olho da rua. Ele pegou o cara nos fundos porque tava com seis barras de chocolate. Nada justifica o que ele fez. A nossa empresa não concorda com essa ação, disse ao DIARINHO o diretor comercial da Viaseg, Robson Alexandre Roschel. De acordo com a empresa, o segurança aparece no vídeo sem o uniforme, pois ainda não estava no horário de serviço, que iniciava ao meio-dia.
Surpreso com o ocorrido, o diretor comercial da Viaseg ressalta que os vigilantes são orientados, em casos de roubo ou furto, a guentar o meliante e chamar a polícia. Com mais de 300 vigilantes efetivos, Robson garante que todos passam 15 dias em treinamento numa academia vinculada à polícia Federal, além de contar com acompanhamento psicológico.
Agressor olha para câmera
Advogada afirma que essa conduta é bastante comum entre vigilantes terceirizados
A advogada Cintia Lessa, representante do conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNH) em Santa Catarina, avalia que a atitude do vigilante do Mini Preço é reflexo da falta de punição contra os seguranças de empresas privadas. A dotora orienta que, em casos como este, o agredido registre o fato em um boletim de ocorrência.
Esses excessos têm se tornado comuns. Só denúncias vão coibir isso. Precisa haver punição. O que temos hoje é um poder paralelo da segurança privada, que busca punir pelas próprias mãos. Ninguém tem o direito de agir dessa forma, afirma a sabichona.
Tortura é crime
Até ontem, a polícia Civil peixeira ainda não tinha recebido qualquer denúncia contra o segurança Rafael. Segundo o delegado Celso Correa, o machão pode ver o sol nascer quadrado por até oito anos, sem chance de pagar fiança. O delega revela que o crime de tortura é grave. O procedimento correto é deter a pessoa e chamar qualquer autoridade policial. Qualquer coisa que fuja disso é crime, explica.
A reportagem conversou ontem com o promotor da 8ª Vara Criminal de Itajaí, Ary Capella Neto. Ele prometeu avaliar o caso a partir dos vídeos e depois se pronunciar sobre o caso.
De acordo com a pessoa que denunciou a agressão, a vítima seria um pescador, uma pessoa simples e sem posses. A reportagem não conseguiu localizar o homem agredido.