Matérias | Polícia


Itajaí

"Ele obrigou meus filhos a me dar socos e chutes"

O drama da mulher torturada e marcada na testa com a palavra “adúltera” não terminou. Ontem, ela revelou detalhes de como foram os 12 anos de agressões e humilhações sofridas. A vítima teme pela vida, já que o marido ameaçou matá-la se fosse preso

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Uma vida nova. É tudo o que mais deseja R., 33 anos, vítima do homem que um dia amou. Ontem à tarde, pouco antes de ganhar alta do hospital de Camboriú, onde estava internada por ter sido torturada e ter a testa marcada com a palavra “adúltera”, a dona de casa contou ao DIARINHO como foram os 12 anos ao lado do companheiro que a submetia a agressões constantes e como foi passar 15 dias em cativeiro, sendo torturada e tendo que ver os filhos de sete e nove anos serem obrigados pelo pai a lhe espancar. “Meus filhos vão ter que passar também por tratamento. Ele os obrigou a me dar socos e chutes”, diz, enquanto as lágrimas lavam seu rosto.

R. desaba ao lembrar dos dois meninos de sete e nove anos e da sua bebezinha de dois meses. Comenta que toda humilhação e sofrimento que passou no cativeiro só ficaram ainda mais difíceis de suportar ...

 

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R. desaba ao lembrar dos dois meninos de sete e nove anos e da sua bebezinha de dois meses. Comenta que toda humilhação e sofrimento que passou no cativeiro só ficaram ainda mais difíceis de suportar quando as agressões chegaram aos filhos. Sua esperança só voltou quando policiais militares e conselheiros tutelares a resgataram, na tardinha de quinta-feira.

O vendedor de telefones celulares, Jeferson de Cássia Borges Marba, 34, teria feito a cabeça das crianças para agredir a mãe e ainda mandava que a chamassem de adúltera. “Ele obrigou os meninos a não falarem comigo”, lembra R., ainda aos prantos. Com tanta humilhação e sem forças, a mulher chegou a passar dois dias sem leite no peito pra amamentar a pequenina.



Além da violência física, Jefferson também é acusado de ameaçar a mulher e os filhos de morte caso fosse denunciado. Com receio que o pior acontecesse, R., que vinha sendo mantida em cárcere privado há cerca de 15 dias e era espancada todo dia, nunca pediu ajuda dos vizinhos. Quanto as autoridades chegaram pra salvá-la, ela nem queria sair de dentro da casa. “Eu me tranquei com os meus meninos com medo dele. Ele disse que se fosse preso ia me matar. Sei que ele não vai me deixar em paz”, desespera-se.

Cocaína e ciúme doentio

O motivo de toda a desgraceira foi uma suspeita de traição que R. jura que jamais aconteceu. Há duas semanas, Jefferson trancou toda a família dentro de casa, na rua Santa Rita, no bairro Barranco, e iniciou uma sistemática e diária sessão de tortura. “Ele me batia com cano PVC e me obrigava a dizer o que não é verdade”, conta R., relatando que era obrigada a confessar a traição que não teria acontecido.


Ter consumido cocaína e ter transado com um antigo vizinho de Curitiba era o que Jefferson a forçava a dizer. Há cerca de um mês a família mudou-se da capital paranaense pra Camboriú.

Durante as torturas, o monstro amarrava as mãos e pés da mulher com um cadarço e a amordaçava.Os espancamentos foram tantos e tão fortes que R. não escuta mais direito, tem dificuldades de caminhar e tem marcas por todo o corpo. Dois dias antes de ser resgatada, o marido usou uma faca quente pra gravar a palavra “adúltera” em sua testa. “Tentei me defender, mas ele tem mais de 1,80 metro e vinha em cima de mim”, diz.

Tinha esperança que Jefferson mudasse

A violência sempre foi constante na vida do casal, afirma R. E isso desde os primeiros anos de namoro, em 2000. Volta e meia Jefferson lhe dava alguns sopapos durante discussões por ciúmes. A desconfiança do cara era tão grande que ela foi obrigada a largar os empregos de babá e vendedora. “Todos me avisavam que ele era perigoso, agressivo, mas eu acreditava que ele ia mudar”, admite. Ela conta que sempre depois de lhe bater o cara aparecia com o rabinho entre as pernas pedindo perdão.

Há cerca de três anos, quando moravam em Curitiba, R. chegou a procurar a polícia e registrar uma das agressões que sofreu, mas acabou retirando a queixa a pedido do marido. “Por mais que goste, nunca deve se deixar dar o primeiro tapa, por que ele vai voltar e dar outros”, ensina a dona de casa, que aprendeu a lição da pior maneira.


Jeferson, que se diz religioso, mantinha os pratos, objetos e roupas da mulher separados. Não permitia nem que ela sentasse na cama ou tocasse nos seus objetos pessoais. “Ele dizia que eu não era digna de tocar no que é dele”, relata.

R. revela que o ex-companheiro é viciado em cocaína. Volta e meia ele pegava pesado com a droga e voltava agressivo pra casa.

Vizinhos nunca viam ninguém na casa

Os moradores da rua Santa Rita juram de pés juntos que não ouviram as agressões denunciadas por R. Contam apenas que havia pouca movimentação por lá. Os muros altos e o portão de ferro impediam que se pudesse ver o que rolava no quintal da baia.


A vendedora Dilma Abramaris, 57, diz que não chegou a conversar com os vizinhos que vieram há pouco tempo de Curitiba. Conta que a casa tava sempre fechada. Ela ainda lembra que raras vezes viu Jefferson passar na rua e nunca viu os rostos de R. ou das crianças. “Parecia que nunca tinha ninguém na casa”, comenta.

Moradora do lado esquerdo, a dona de casa Anita Dallpeas, 56, diz que só encontrou R. no dia da mudança e nunca mais a viu sair de casa. “Só ouvia a televisão muito alta e mais nada”, afirma. Ela conta que Jefferson até passava, conversava, falava muito sobre religião e do seu trabalho de vendedor de celular. “Ele parecia ser uma pessoa boa. Jamais pensei que pudesse estar acontecendo isso”, admira-se.

Marido monstro já foi preso com cocaína

A delegada Gisele Lima, responsável pelo caso, informa que o inquérito foi encerrado com o depoimento dos conselheiros, policiais, da vítima e do próprio agressor. Pra delegada, Jeferson admitiu que teria batido em R. durante uma discussão, mas negou praticar o cárcere privado, tortura ou ter feito as marcas na testa dela. “Ele preferiu não falar mais nada. Apenas em juízo”, conta a dotora.

Jeferson já tem passagens pelas polícias de Itapema e de Curitiba por envolvimento com drogas. Caiu há cerca de dois anos com cocaína e voltou a ter que responder pra dona justa há pouco mais de 15 dias, em Itapema. Chegou a ser preso na companhia de traficantes, mas foi autuado como usuário.

Este é o segundo caso de cárcere privado registrado este ano em Camboriú, diz a delegada Gisele. O primeiro rolou em setembro, quando o marido espancou a mulher e a manteve amarrada na cama por uma semana.


“Não sei o que fazer”

Apesar de ainda ter muita dificuldade de ouvir e ter hematomas por todo o corpo, R. ganhou alta ontem do hospital de Camboriú. Ao conversar com o DIARINHO, disse que não pretendia voltar pra casa alugada há pouco mais de um mês no Barranco. Vai passar alguns dias com parentes, na companhia dos filhos e tentar pensar no futuro. “Não sei o que fazer. Acho que não fico mais aqui”, desabafa.

Sônia Regina de Oliveira, conselheira tutelar, explica que o foco principal do apoio dado à família será o acompanhamento psicológico das crianças. “Ele estava com umas ideias revolucionárias, falou sobre política e instigava as crianças contra a mãe”, fala a conselheira.

Mesmo ainda visivelmente abalados, os meninos pareciam mais aliviados ontem, contou a conselheira. A informação de que Jefferson quebrou o braço de um dos filhos não se confirmou.

Silêncio ajudou a piorar a situação, diz juíza

Pra juíza Sônia Moroso Terres, de Itajaí, o silêncio de R. durante os mais de 10 anos que passou sendo agredida por Jefferson ajudaram a fazer com que ela acabasse em cativeiro e sofrendo as torturas. “Aquele provérbio de que quem cala consente aplica-se direitinho nesse caso”, comenta.

Infelizmente, diz a juíza, o silêncio é algo comum entre as mulheres agredidas. “Até esta data (ontem), Itajaí tinha 1222 casos registrados nas delegacias de violência doméstica, mas no fórum, até agora, chegaram apenas 350 casos”, lamenta. Medo e a dependência financeira e psicológica dos maridos e fazem com que as mulheres sofram as agressões caladas, analisa a dotora.




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