Moradores, turistas, representantes de órgãos ambientais e especialistas em patrimônio histórico têm algo em comum na city peixeira: todos são contra o desmatamento de um terreno em Cabeçudas que está colocando em risco a capela quase centenária de Santa Terezinha. Após uma batalha judicial, que já dura mais de dois anos, os proprietários do terreno conseguiram na Justiça uma permissão pra desmatar uma área de 1.388,37m². As otoridades da city afirmam que vão tentar acompanhar a situação, mas que não podem desrespeitar uma decisão judicial. Os especialistas criticam a decisão de deixar um patrimônio histórico em risco de ser detonado.
No meio da semana, peões com maquinário pesado voltaram a retirar árvores do terreno, fazendo a sacristã Salésia Pereira, 42, que cuida da igrejinha há cinco anos, lembrar dos perrengues que ela ...
No meio da semana, peões com maquinário pesado voltaram a retirar árvores do terreno, fazendo a sacristã Salésia Pereira, 42, que cuida da igrejinha há cinco anos, lembrar dos perrengues que ela já passou lá por causa de deslizamentos. No início do ano, houve um deslizamento de terra nos fundos da capela e um quarto ficou cheio de barro. Com esse desmatamento, o risco de algo ruim acontecer é ainda maior, lamenta a sacristã, que cuida da igrejinha que já tem 91 anos de história.
O coordenador técnico da Fundação do Meio Ambiente de Itajaí (Famai), Lair Jorge de Oliveira, explica que a proprietária do terreno, Neuza Maria Ceni, deveria realizar o corte das árvores por poda técnica, ou seja, cortar a árvore começando pelos galhos. Porém, não é isso que vem ocorrendo. Naquele terreno, o mais indicado é o corte de poda técnica. Colocando o maquinário na área, o risco de um acidente é maior. Infelizmente, com a decisão judicial, só podemos acompanhar o andamento da ação, mas não embargar, lamenta o sabichão.
O ex-professor de história da Univali e atual secretário municipal de Educação, Édison dÁvila, lembra do valor histórico da igrejinha e reclama da decisão da dona justa. É um absurdo! A Justiça fez o interesse de uma pessoa prevalecer sobre dois outros: o da preservação da natureza e da integridade de um bem histórico. Quando a pessoa comprou o terreno, já sabia, ou deveria saber, que há limitações para desmatar a área, se revolta Edison.
A decisão foi caneteada pelo juiz da Vara da Fazenda Pública de Itajaí, Carlos Roberto da Silva, no último dia 30 de novembro. No papéli, ele obriga a Famai a revalidar uma licença ambiental que a fundação deu pra proprietária em abril de 2011.
O superintendente da Famai, Paulo César dos Santos, explica que a licença só previa o corte de algumas árvores. Permitimos o corte de 25 árvores, mas com restrições. Da forma como está sendo feito o desmate agora, o risco de algum acidente acontecer é maior, alerta o bagrão, lembrando as restrições ambientais previstas na lei de Zoneamento do Município. A área é de 1.757,80m², mas os proprietários podem desmatar até 1.388,37m². Além disso, há limites para construções em terrenos acima de 20 metros de altura do nível do mar, que é o caso de parte desse terreno, conclui o bagrão, que também revelou que um dos proprietários é procurador da União.
Dona justa
O Ministério Público também recebeu denúncias sobre a bronca. De acordo com a assessoria da 10ª Promotoria de Defesa do Meio Ambiente de Itajaí, na última terça-feira, o promotor Marcelo Truppel Coutinho enviou um pedido em caráter de urgência pra superintendência da Famai pedindo explicações sobre o assunto. A Famai tem até 10 dias úteis pra responder o promotor.
O DIARINHO tentou conversar com o juiz responsável pela decisão, Carlos Roberto da Silva, mas ele está de licença e retorna apenas em janeiro. Nossa equipe também tentou contato com a proprietária do terreno, Neuza Maria Ceni, mas ninguém atendeu no número de telefone disponível no processo.
Povão também é contra a destruição
O povão também ficou na bronca com a decisão da dona justa. O casal Vanderley Pereira, 34, e Débora Laufer, 29, estava passeando pela praia de Cabeçudas, na tarde de sexta-feira, e se espantou com a cena de destruição ao lado da igrejinha. Vemos tão pouco de área verde na região, então é triste ver que vamos perder mais um pouco por causa da ação do homem. Além disso, estão deixando um patrimônio da cidade correr risco, critica Débora.
Quem também não gostou da devastação no morro foi a vendedora Tânia Regina Pereira, 56, que já trabalha há mais de 30 anos na praia e diz que nunca viu algo igual. É a primeira vez que vejo uma destruição tão grande. Espero que não aconteça nada, pois a igrejinha é um dos principais pontos turísticos da região, e eu vivo das vendas para esses turistas, reclama.