Itajaí

Barco afundou com todo mundo dentro

Filho do mestre do barco Vô João conta os momentos de terror da tripulação

O vento sul soprava a 45 quilômetros por hora quando o barco Vô João G zarpou de Itajaí, na noite de terça-feira, dia 3. Nada que o mestre Mário César Jacinto, 58 anos, não tenha enfrentado antes, ao longo de 42 anos de vida no mar. O aviso meteorológico para aquela madrugada alertava pra possibilidade de tempestade, mas às 20h30 o mar estava calmo e o bater tranquilo das águas na embarcação embalaram o sono de Mário em mais uma viagem de trabalho.

“Vai virar, o barco vai virar!”, ouviu gritos o mestre no momento em que caiu no chão do pesqueiro. Perto das 23h, a tripulação de 17 homens se viu derrotada pela fúria da natureza. Eles tentaram ...

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“Vai virar, o barco vai virar!”, ouviu gritos o mestre no momento em que caiu no chão do pesqueiro. Perto das 23h, a tripulação de 17 homens se viu derrotada pela fúria da natureza. Eles tentaram seguir pra ilha dos Tamboretes, no Balneário Barra do Sul, próximo a São Francisco do Sul, mas uma tormenta envolveu a embarcação que começou a afundar pelo lado esquerdo.

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Foi então que iniciou a luta desesperada pela sobrevivência. O relato das horas de terror é narrado por Mário César Jacinto Júnior, 25 anos, filho do mestre da embarcação que mora em Itajaí com a família. “Meu pai tá muito debilitado, com o braço todo roxo e arranhado. Tá muito machucado, tanto fisicamente quanto psicologicamente pela luta pra sobreviver. Todos os que sobreviveram lutaram muito”, conta.

De acordo com o coordenador da Rádio Costeira de Itajaí, Jairo Romeu Ferracioli, a força do vento na noite de terça-feira e madrugada de quarta variou entre cinco e seis graus, o que é considerado moderado a forte. Quando esse número chega a sete, a capitania dos Portos costuma fechar a boca da barra e não permite a navegação.

“O acidente não deve ter sido causado pela força do vento, mas sim por conta de uma tormenta forte. O vento sul sempre vem carregado com nuvens, trovoadas e chuva. Essa é a pior condição pra navegação”, afirma.

Primeira fúria

Quando o barco virou, a tripulação correu pra porta da cozinha pronta pra abandonar a embarcação. Contudo, quando estavam quase a salvo, o barco mudou de inclinação e afundou com todos os tripulantes. Nessa hora, qualquer buraco serviria de canal de salvação. Um dos tripulantes meteu os pés na janela de vigia, aquela redondinha e pequena, e se espremeu tanto pra passar ao ponto de arrancar a pele das pernas.

Nessa hora, Mário ajudava os marujos a destrancarem a porta lateral. A passagem foi aberta e todos conseguiram sair e ficar em cima do barco. “Meu pai foi o último a sair e já saiu tomando muita água e óleo que tava saindo do barco. Deve ter sido uma onda de três, quatro metros que derrubou o barco”, acredita Junior. Quando todos estavam em cima da embarcação, a tripulação recuperou o bote e, um após o outro, começaram a entrar no bote. Nesse momento cinco homens já estavam desaparecidos. Um deles teria ficado preso na embarcação.

O vento sul ainda sopravaforte e começou a empurrar o bote pra longe do barco. Como o rádio-comunicador não estava funcionando, a tripulação começou a remar em direção à praia. Foram sete horas e meia de muito esforço. Remaram, remaram, remaram e quase morreram na praia. Isso porque quando estavam praticamente a um quilômetro da costa, o bote virou.

Frio, fraqueza, desilusão. O mar, companheiro de tantas viagens, traiçoeiramente roubava a última esperança de vida. “Eles tiveram que ir a nado. Tomaram mais um pouco de água e tavam com muita hipotermia”, revela o filho do mestre. Os tripulantes conseguiram chegar à praia da Enseada, em São Francisco do Sul, no amanhecer de quarta-feira.

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Caminhoneiro que fazia entrega de móveis foi quem socorreu pescadores e os levou pro pronto-atendimento

Trêmulos do frio e com a pele arroxeada, os 12 tripulantes que conseguiram sobreviver à tragédia foram resgatados por um motorista de caminhão de frete que tava na região pra fazer a entrega de móveis. Esse bom coração, que não revelou o nome pra ninguém, colocou todos no veículo e seguiu pra unidade de Pronto-Atendimento (Upa) de Ubatuba, em São Chico.

Todos os resgatados passam bem. Já os cinco desaparecidos ainda não foram localizados. Segundo o comandante da capitania dos Portos de São Chico, delegado de fragata Cláudio Luis Estrella Pereira, as buscas já avançaram pra 60 quilômetros da praia. Até o início da noite de ontem, nenhum corpo tinha sido localizado. Entre os sumidos tá o pescador que mora em Itajaí, Cedemir do Nascimento, 59. O delegado informa que as buscas não vão parar durante a madrugada. A operação tá sendo realizada com duas lanchas, um helicóptero e o faroleiro Mario Seixas, da Marinha. A Aeronáutica também tá colaborando com um avião.

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O barco que naufragou pertence à empresa J. Gonçalves Comércio de Pescados, que tem sede em Floripa, mas registrou a embarcação em Itajaí, onde rolavam as entradas e saídas do Vô João G. Durante todo o dia de ontem, uma equipe de mergulhadores profissionais contratados pela empresa não conseguiu acessar o interior da embarcação. Eles querem verificar se algum corpo ficou preso no barco. A despachante do pesqueiro, Kelly Regina Gomes, revela que o barco vai ser desvirado hoje e a missão continua.

Um processo administrativo já foi aberto pela capitania dos Portos pra apurar as causas do acidente. A investigação termina em até 90 dias. “Não posso afirmar que houve negligência. Estamos colhendo depoimento dos tripulantes que estão bem. Mas como eles estão muito abalados, só conseguimos pegar algumas informações, até mesmo pra preservar a saúde psicológica deles. Só o inquérito encerrado vai apontar as causas do naufrágio”, reforça o delegado Estrella.

Sindicato vai auxiliar familiares

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Caso os cinco desaparecidos, Carlos Alberto Souza do Carmo, 47, Laureci Batista, 42, Rodnei Peixoto, Emerson Luiz, 35, e Cedemir do Nascimento, 59, não sejam encontrados com vida, o sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Pesca de Itajaí Região (Sintrapesca) vai auxiliar os familiares nos encaminhamentos legais para que recebam indenizações.

O presidente do sindicato, Manoel Xavier de Maria, que já quase morreu em alto-mar, revela que quando o tripulante está dormindo, é muito difícil de sobreviver a um naufrágio. “É muito rápido. Os pescadores pra passar no curso da Marinha têm que saber nadar, mas isso não garante vida a ninguém”, comenta. Ele afirma que todas as embarcações industriais têm que ter equipamentos de salvamento, porque a fiscalização é rigorosa.






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