Pelo o que o DIARINHO apurou, a denúncia foi feita por uma ex-funcionária da autoescola Stop, que é a empresa acusada de fazer parte da camanga. Quem pagasse uma graninha a mais passaria no teste, mesmo que fosse tão barbeiro quanto o mister Magoo, aquele personagem dos desenhos animados que, mesmo praticamente cego, fazia questão de dirigir um carango. Também teria os casos em que o candidato a motorista nem mesmo pegou no volante pra fazer a prova prática.
O delegado Osnei Valdir de Oliveira, chefão da DIC, é quem toca a investigação. Ontem à tarde, ele confirmou que tá fuçando na treta, mas preferiu não se manifestar pra não atrapalhar o trampo da sua equipe na apuração do caso. O delegado Arthur Nitz, diretor de polícia Civil do Litoral, também confirmou o rolo e a sindicância que foi aberta pela corregedoria pra tirar a limpo a história que envolve um supervisor e um examinador da Ciretran.
Arthur Nitz disse que recebeu a informação sobre a denúncia da delegada regional Magali Ignácio Nunes. Foi a dotora quem pediu para que os dois tiras suspeitos fossem colocados em férias, pra garantir a lisura das investigações. Além do descanso forçado, os policiais também foram oficialmente afastados das funções que exerciam na circunscricional de Trânsito.
O chefão da polícia Civil do Litoral fez questão de dizer que a sindicância da corregedoria é um procedimento preliminar de investigação. Ela só será transformado em processo administrativo caso o envolvimento dos tiras seja confirmado. O processo, explicou ainda o delegado, pode resultar num pé na bunda dos policiais, que ainda correm o risco de responder criminalmente se o esquema for comprovado. Como está em fase de investigação, não tem como punir ninguém. Até agora o que temos são denúncias, ressaltou.
O delegado Arthur não divulgou o nome dos policiais envolvidos e não relevou qualquer detalhe do que foi apurado até agora pelos corregedores, sob alegação de que qualquer informação vazada pode melar as investigações.
Veja o caminho legal pra tirar a carta certinho
Dono de uma autoescola há 40 anos em Itajaí, Tadeu Pereira Raimundo ficou dicara com a denúncia. Uma carteira comprada é a mesma coisa que colocar uma metralhadora na mão de uma criança. Uma pessoa que não é avaliada na prática é uma arma que pode causar danos seríssimos à sociedade, dispara o empresário. Segundo ele, o Brasil gasta 28 bilhões de reais da saúde pública com vítimas de trombadas ou atropelamentos e 65% dos leitos hospitalares são ocupados por pessoas que sofreram algum acidente.
A pedido do DIARINHO, o dono da autoescola Tadeu explicou o passo-a-passo pro povão tirar a primeira habilitação pra poder sair por aí na boleia de um possante, de uma cabrita, de um busão ou um bruto. A primeira exigência, lembra o empresário, é o candidato ter 18 anos completos. Aí, vai ter que apresentar identidade, CPF e comprovante de residência, além de passar no exame médico e psicotécnico agendado pelo órgão de trânsito. O exame é feito por um centro de avaliação de condutores (autoescola), que é terceirizado e credenciado através do instituto da permissão do Detran de Santa Catarina, afirma.
Depois do candidato ser aprovado naqueles dois exames, pra ver se não é cegueta nem pirandelo, aí sim é que começa a frequentar o curso teórico com 45 horas/aula. Aprende a legislação, sinalização, direção defensiva, primeiros socorros e mecânica básica, lista Tadeu. Depois disso, vai a uma circunscricional de Trânsito e precisa acertar 28 questões da prova teórica, que tem 40 perguntas.
Se o cara passar na prova, que consiste principalmente em conhecer sinais de trânsito e legislação, aí recebe uma Licença de Aprendizagem e Direção Veicular (LADV). Com esse documento estará habilitado a frequentar o curso prático, explica Tadeu.
Feita a prova teórica, o aluno frequenta 20 horas de aula prática em cada categoria: carro, moto ou caminhão. Tem obrigatoriedade de fazer 20% das aulas à noite e é encaminhado novamente à Ciretran, onde vai ser avaliado na parte prática. Essa prova tem uma série de itens que são verificados, tais como controle de direção, direção defensiva, obediência à sinalização, diz. Quem não passa na prova prática tem que voltar a fazer as aulas.
Dono da autoescola jura que é inocente
Rodrigo da Silva, dono da autoescola Stop, jura de pés juntos que o esquema de facilitação nas provas práticas da Ciretran, envolvendo sua empresa, não existe. Provavelmente quem denunciou foi um ex-funcionário que está com raiva, carcou. O empresário garantiu que nem ele ou qualquer outro funcionário do centro de formação tentaram fraudar o processo de emissão dos documentos. Não tem como a autoescola fazer fraude. Quem faz o exame é um policial, defende-se Rodrigo.
O dono da Stop admite que sabia da acusação e confirmou que desde a semana passada não são mais os mesmos tiras que pintam na rua da autoescola pra aplicar a prova prática. São apenas denúncias. Denúncias qualquer um pode (fazer), rebate.
A Stop funciona desde 1994. A sede fica na rua 2438, no centro do Balneário Camboriú.