O povão que vive nessa área ribeirinha tá cansado de promessas. Há anos convivem com frequentes alagamentos e desde 2008 esperam pela construção dos 223 apartamentos populares que a prefa se comprometeu a entregar até 2011. A obra tá dois anos atrasada e o cenário no terrenão onde o prédio deveria ser construído é de abandono: o matagal e a lixarada quase escondem o pouquinho que foi levantado pro fundamento da edificação. A prefeitura diz que a construção do prédio tá parada por falta de comprometimento da empresa que venceu a licitação, e garante que vai lançar um novo edital na primeira quinzena de outubro. Na época de eleição, veio todo mundo aqui. Agora, só pensam em Marejada e regata, desabafa dona Delma.
O construtor Jacir de Oliveira, 40 anos, foi quem procurou o DIARINHO pra denunciar o perrengue. Ele tem a sorte de morar numa das únicas partes da rua Vereador Telêmaco de Oliveira que não alaga a cada chuva. Mesmo assim, resolveu mobilizar os moradores pra buscar os direitos da comunidade, que sofre com o abandono. Falaram que em seis meses iam ter as casas prontas, mas já faz dois anos, reclama.
A costureira Celia Aparecida Barcelos, 48, diz que se preocupa com os alagamentos e acredita que a criançada do bairro corre perigo andando no meio dos bichos e da água das cheias, que levam embora os poucos bens conquistados pelos moradores. Ela diz que o povão do bairro teve paciência demais e pensa em tomar atitudes drásticas. Se demorar, nós vamos invadir [o terreno onde deveria ter o prédio], avisa. O pescador Luiz Carlos Pereira, 53, também não guenta mais a situação.
Prefa promete agilizar novo edital
Até semana passada, a HRG Engenharia, empreiteira de Curitiba, era responsável por tocar a obra, orçada em R$ 22 milhões. A grana tava liberada pela Caixa Econômica Federal e, mesmo assim, a empresa não mexeu os pauzinhos pra construir os apês. Pelo menos é o que afirma o secretário de Habitação de Itajaí, Laudelino Lamin. O contrato com a empresa, afirma o abobrão, foi rescindido semana passada e a empreiteira tá impedida de licitar com a prefa.
Um novo edital será lançado até o dia 15 de outubro pra que outra empresa tome a frente do projeto. O processo deve durar um mês e as obras podem recomeçar ainda este ano. O secretário, porém, não quis estipular data pro início da construção, mas disse que tá correndo atrás.
Minha Casa, Minha Vida
A escolha duma nova empresa não será a única mudança nesse caso. De acordo com o secretário Lamin, a construção iria rolar pelo programa Prioritário de Investimento (PPI), aderido pelo governo municipal no ano em 2005. Nesse projeto, a prefa tinha que dar 40% de contrapartida, grana que agora o município vai economizar ao mudar pro programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. O abobrão conta que duas reuniões já foram feitas pra adiantar esse processo que, segundo ele, é um pouco mais complicado. É mais exigente. Tem que ter acessibilidade pra deficientes e idosos, vai ter que ter elevador. Mas é viável, jura.
Moradores querem reformar casa
Pra costureira Celia Aparecida Barcelos, 48 anos, uma alternativa pra resolver o perrengue do povão seria a prefeitura deixar os moradores reformarem as casinhas, que estão em área de invasão, pra tentar diminuir o risco de alagamentos pelo menos enquanto os apês não ficam prontos. Todas as casas tão registradas na secretaria de Habitação e a fiscalização é intensa. Não pode colocar uma tábua na casa que eles embargam, conta o vizinho Jacir.
Lamin admite que a prefa tá mesmo de olho pra evitar que os moradores mexam nas casinhas. A intenção é brecar novas invasões. Segundo o abobrão, a comunidade tá proibida de aumentar o número de metros quadrados nas casas, mas reformas que visem apenas evitar os alagamentos tão liberadas. Nesses casos, os interessados precisam ir até a secretaria de Habitação pedir a mudança. Depois disso, um funcionário da prefa vai no local, analisa a situação e fotografa a casa pra ter um registro dela antes da reforma. O morador precisa assinar um termo de compromisso e só então vai ter permissão pra fazer alterações na baia.
Falta manutenção
Na rua Vereador Telêmaco de Oliveira, na área da invasão, é difícil encontrar um trecho sem buracos ou matagal. Tem vala aberta, buraco, lama. Fizeram tudo pela metade e tá tudo lá aberto, tem perigo até de criança cair ali, aponta o morador Jacir. Segundo ele, desde que a obra dos apês populares foi abandonada, a situação da rua tá cada vez pior. Não passam máquinas na rua, não colocam macadame, não fazem nada, lasca.
O construtor diz que passou uma semana inteirinha na cola do pessoal da prefa pedindo pra alguém dar uma garibada na estrada, mas não teve resposta. Pro DIARINHO, o secretário de Obras, Tarcizio Zanelato, prometeu que uma equipe daria uma bizolhada na situação e arrumaria o que fosse necessário na rua.
Versão da empresa
Por telefone, um funcionário da HRG Engenharia, empreiteira de Curitiba, disse que as informações sobre a obra eram besteira. O cara não quis se identificar e pediu que a reportagem encaminhasse um e-mail. Até ontem, no início da noite, a empresa ainda não tinha se pronunciado sobre o caso.