Imagine passar pela rua de bicicleta e, ao parar para ver um perrengue envolvendo policiais militares, civis e peritos do Instituto Geral de Perícias (IGP), descobrir que no local há um cadáver. Logo depois, descobrir que o morto é seu próprio filho. Foi isto o que aconteceu ontem à tarde com Vera Lúcia Ferreira, moradora do bairro Santa Regina, em Camboriú. De simples curiosa na pequena multidão, Vera passou a personagem envolvida na trama de um crime, ao saber do assassinato do filho Alisson Ferreira, 15 anos, que aconteceu no interior de um sobrado em construção. Faísca, como era conhecido o rapaz, levou uma pancada na cabeça e teve parte do corpo incendiado. É possível que também tenha sido espancado.
Era cerca de 15h quando a coitada da Vera pedalava pelo bairro, onde mora com dois dos quatro filhos: um de 16 anos e o Faísca. Sozinha, pedalava tranquilamente sua zica, até que resolveu parar ...
Era cerca de 15h quando a coitada da Vera pedalava pelo bairro, onde mora com dois dos quatro filhos: um de 16 anos e o Faísca. Sozinha, pedalava tranquilamente sua zica, até que resolveu parar na rua Jerusalém, na esquina com a rua Argel, para ver a muvuca. De repente soube que era o próprio filho que estava morto. Precisou ser socorrida às pressas: foi levada ao pronto socorro. Enquanto isso, os peritos recolhiam o cadáver do garoto. As queimaduras encontradas no corpo iam do pescoço até a cintura. Um porrete ensanguentado foi encontrado na obra.
A polícia precisa esperar o resultado do laudo do instituto Médico Legal (IML) a fim de saber exatamente a causa da morte. Mas para a delegada Daniela de Souza não há dúvida de que se trata de um assassinato. O laudo do IML também vai apontar se Alisson morreu vítima da pancada na cabeça ou se ainda estava vivo quando foi queimado.
Ontem mesmo a polícia já tinha um suspeito, um dimenor que por volta das 18h de segunda-feira passou na baia de Faísca. Eles saíram juntos. Os dois, conforme a polícia, teriam rolo com bandidos ligados ao tráfico de drogas. Esse menor, por enquanto, é o principal suspeito. Foi a última pessoa vista junto com Alisson enquanto ele estava vivo. Já foi identificado, e vamos tomar o depoimento dele, disse a delegada.
Quanto às possíveis motivações, a delegada preferiu não arriscar teorias, mas adiantou que os tiras estão trampando com algumas hipóteses. O próximo passo dos agentes é tomar depoimentos de pessoas que possam dar pistas para elucidar o caso. Entre elas, está Vera Lúcia, a mãe de Faísca.
O garoto, apesar da tenra idade, já tinha passagens pela polícia. Foi apreendido em 2011 na cidade vizinha Balneário Camboriú por furto em comércio. Também teve passagem em 2012, em Camboriú, tendo em poder um veículo furtado.
O PASSO-A-PASSO DO DRAMA
Quando passava de bicicleta pela rua Jerusalém, Vera viu uma muvuca, além de viaturas policiais e do rabecão do IML. Desceu da zica. Queria saber o que estava acontecendo. A mulher foi informada que tinham encontrado um gurizão morto num banheiro do segundo piso do conjunto de sobrados em construção
O coração da mãe já ficou apertado, pois na noite anterior o filho tinha saído de casa e não retornou mais. Intrigado, um policial Militar foi até o interior da obra, onde tava o corpo. Tirou uma foto e trouxe pra mãe olhar
A intuição do PM e até da mãe estavam certas. Quando viu a foto de Faísca, Vera Lúcia chorou copiosamente. Falou palavras desconexas de pura dor. O desespero tomou conta da mulher que, de curiosa entre a pequena multidão, virou mais um personagem do drama
Conselho Tutelar já acompanhava os passos do menino
Parecia que a morte de Alisson era uma tragédia anunciada. Em setembro do ano passado, o guri foi encaminhado ao conselho Tutelar por estar faltando muito na escola. A presidente do conselho, Tanalu Garcia, revela que os conselheiros foram até a casa da família, que fica também no Santa Regina.
Ela também diz que foram detectados vários problemas, por isso as duas filhas de Vera Lúcia acabaram indo morar uma com um padrinho, a outra com o pai. Só ficaram na casa os dois meninos. Todos passaram a ser acompanhados pelo conselho, com assistência de psicólogos e assistentes sociais. Até a defesa Civil foi acionada, pois os conselheiros constataram problemas como falta de água e luz, além de outros, os quais preferiram não falar.
Na época, surgiu a suspeita de que Alisson pudesse estar usando drogas. Por este motivo foi encaminhado ao núcleo de Prevenção as Drogas e Pedofilia. Manoel Mafra, que é do núcleo, conta ter conversado com o dimenor, que negou o envolvimento com drogas. A gente sugeriu uma internação, mas ele não quis. Então, ele foi encaminhado para escolinha de futebol do Kadiz. Ficou certo tempo lá, mas abandonou a escolinha há cerca de um mês, contou.