Fotos: Felipe Schürmann
Que tal sair por aí de bicicleta e curtir estrada de chão, morros, praias e visuais únicos? Pois saiba que nossa região é recheada de caminhos traçados exclusivamente pra serem encarados em duas rodas. O DIARINHO se aventurou por dois percursos montados pelo consórcio Intermunicipal de Turismo Costa Verde & Mar (Citmar), que abrange 11 cidades vinculadas à associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí (Amfri). Passamos por Camboriú, Itapema, Balneário Camboriú, Itajaí, Navegantes e Penha
1º trecho
Do lado direito, a praia. À esquerda, as belas casas de Cabeçudas. Foi com esse visual que demos a primeira pedalada, em um trecho total de 27 quilômetros. Esta primeira parte foi bem tranquila. Pouquíssimas subidas e muito terreno plano.
Do calçadão de Cabeçudas, a bicicleta do repórter seguiu pela rua Deputado Francisco Evaristo Canziani, que margeia as praias do Geremias, Atalaia e a prainha do pescadores artesanais. No meio do caminho, uma parada para apreciar o Bico do Papagaio e ajustar a marcha da bike.
De volta à estrada, esbarramos com tipos muito diferentes: o pescador e seu puça, o corredor, o casal aos beijos num banco, os surfistas correndo para a Atalaia. De dentro de um carro, até veríamos essas cenas, mas numa velocidade maior e que, provavelmente, não guardaríamos na memória.
Depois de cruzar a frente da Atalaia, uma passada no molhe da praia que, naquele horário, 8h50, estava tomado de gente. Parte das pessoas lançava os olhos ao largo, na boca da barra. Um navio cargueiro era guiado pela praticagem em direção do complexo Portuário do Rio Itajaí. A cena enche os olhos, tanto pelo tamanho do navio quanto pela proximidade da embarcação nas margens do Itajaí-açu.
Com o pé no pedal, encaramos o belo traçado da Beira Rio de Itajaí, a avenida Ministro Victor Konder. Ao estilo de Cabeçudas, estava tomada por esportistas ocasionais, filhos e pais empinando pipas no céu e cães que corriam de um lado para o outro.
No final da avenida e uma curva à direita e outra à esquerda, passamos pelo píer turístico Guilherme Asseburg, na praça Vidal Ramos, o marco zero de Itajaí, até chegar ao ferry-boat.
Hora de repor as energias
A parada no ferry-boat foi um alívio. Apesar de percorridos alguns quilômetros, já estávamos sem fôlego e apelamos para a água mineral e um banco do ferri. Descanso básico de 10 minutos.
Já do outro lado do rio, em Navegantes, seguimos pela avenida João Sacavem em direção à beira-Mar, a avenida Prefeito Cirino Adolfo Cabral. O trecho de 12 quilômetros margeando a praia foi o mais tranquilo. Não havia vento nem trânsito intenso.
Em poucos minutos, o belo visual do Gravatá e uma passadinha pelo calçadão da praia fecharam o trecho de Navegantes. Dali pra frente, esbarramos na palavra dificuldade. Muitas subidas no Gravatá de Penha e no bairro Armação, fechando o percurso na praia Grande. Pronto, vencemos 27 quilômetros.
2º trecho
Se o primeiro desafio exigiu pouco do corpo, no segundo quase desistimos. Fizemos o trecho dia 5 de dezembro, uma quinta-feira à tarde, quando as temperaturas estavam lá no alto.
Saímos da prefeitura de Camboriú rumo ao Rio Pequeno, pedalando pela estrada Geral do Encano, recheada de barro, areia e pedra. O nosso destino era o morro do Encano, entre Camboriú e Itapema.
Nesta etapa, contamos com o apoio do empresário Henrique Wendhausen, da associação de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú. Com 51 anos, Henrique deu um banho na reportagem. Pedalou o trajeto completo. A equipe do DIARINHO não aguentou o tranco e parte da subida do morro do Encano foi a pé, empurrando a bicicleta. Quando o sol castigava e o corpo pedia arrego, fomos brindados pela mãe natureza: uma aranha caranguejeira cruzava, solene, a estrada Geral do Encano. Era o que faltava para o nosso fôlego retornar. Ficamos tão maravilhados com a surpresa que o cansaço deu uma trégua. A aranha, visivelmente incomodada com a nossa presença, rumou, a passos lentos, para a encosta do morro.
Deixamos a habitante do Encano para trás e, 500 metros de subida depois, alcançamos o topo do morro. Lá do alto, uma imagem de encher os olhos: à esquerda, ao fundo, um transatlântico atracado em Porto Belo. À nossa frente, os prédios da orla de Itapema.
E prevalecendo a máxima de que tudo que sobe um dia desce, encaramos a descida do morro do Encano com freio solto. Do topo para baixo, vento no rosto e uma dose cavalar de adrenalina.
A estrada do Encano começa em Camboriú, no Rio Pequeno, e termina em Itapema, no bairro Alto São Bento. Na Capital dos Ultraleves, optamos por uma passadinha na orla da praia. De lá, encaramos os perigos da BR-101, passando pelo túnel do morro do Boi, chegando na balsinha da Barra, em Balneário Camboriú. Após a travessia e alguns metros depois, o fim da aventura foi na barra Sul, ao pé dos bondinhos do parque Unipraiais.
Infraestrutura
Além das belezas naturais, as rotas do cicloturismo da Costa Verde & Mar proporcionam contato com hotéis, restaurantes, mercados e oficinas de bicicleta. E não é à toa. A equipe do DIARINHO, por exemplo, teve problemas numa das bikes logo no início do segundo trajeto, em Camboriú. Sem ferramentas à mão, corremos para o oficina JK Bikes. O ajuste foi tranquilo e não tivemos nem que pagar nada. A loja fatura com venda de equipamentos de segurança, como capacetes e luvas, bikes e consertos dos mais variados.
Em Itapema, demos uma parada no mercado Sandro. A proprietária Marli Ferreira contou que recebe com frenquência cicloturistas, que compram água mineral, frutas e isotônicos. Foi bom esse percurso passar por aqui [bairro Alto São Bento, na descida do Encano], ajuda muito, diz a empresária.
A ACBC não indica onde os ciclistas devem comer ou dormir, como explica Henrique Wendhausen. Não há convênio com nenhum parceiro. O que faz com que o cicloturista chegue num restaurante, pousada ou hotel são os adesivos colocados geralmente nos vidros da frente, que indicam que aquele local é um parceiro do circuito. Portanto, a escolha é livre para todos.
Manutenção
Há duas maneiras de se guiar pelos trechos organizados pela Costa Verde & Mar: por GPS ou ficar atento às setas no caminhos, grudadas em postes de energia elétrica. A manutenção desses indicadores é responsabilidade da associação de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú (ACBC). Antes da subida no Encano, o empresário Henrique Wendhausen, integrante da entidade, trocou a pintura num poste por uma seta plotada e de fácil visualização.
A ACBC tem um papel importantíssimo, porque é ela que presta a manutenção total nos 270 km do circuito. Saímos pedalando uma vez por mês em cada uma das seis partes do roteiro para fazermos a reposição das setas. Averiguarmos se as estradas estão transitáveis para os cicloturistas e até as condições de recepção e infraestrutura dos parceiros. Sem esta ação mensal haveria muita perda de informação, bem como a deterioração dos elementos de infraestrutura do roteiro, pondera Henrique.
As seis rotas
Abaixo, os percursos organizados pelo Citmar. No site www.costaverdemar.com.br, você encontra dicas e fotos de cada trecho
1º Trecho: Balneário Camboriú, Itajaí, Navegantes, Penha, Balneário Piçarras
2º Trecho: Balneário Piçarras, Luis Alves
3º Trecho: Luis Alves, Ilhota
4º Trecho: Ilhota, Camboriú
5º Trecho: Camboriú, Itapema, Porto Belo, Bombinhas
6º Trecho: Bombinhas, Balneário Camboriú
Bate-papo com Carlos Beppler, um dos idealizadores das rotas de cicloturismo
DIARINHO - Como surgiu a ideia dos roteiros?
Carlos - A ideia surgiu em 2006, durante o encontro Nacional de Cicloturismo realizado em Timbó, oportunidade em que foi inaugurado oficialmente o circuito Vale Europeu de Cicloturismo. Surgiu um sonho de termos algo parecido aqui, na região. Ficamos quase dois anos, eu e minha mulher, Malu França, tentando alguma forma de viabilizar esse roteiro. Em 2007, com trabalho da ACBC, apoio do Citmar e da Amfri e, com a parceria do clube de Cicloturismo do Brasil, conseguimos demarcar, sinalizar e lançar oficialmente o circuito de cicloturismo Costa Verde e Mar na Adventure Fair de 2008.
DIARINHO - Qual a maior dificuldade na manutenção dessas rotas?
Carlos - A falta de cuidado de algumas prefeituras, que retiram a sinalização dos postes, vandalismo e a necessidade permanente de atualizar os parceiros.
DIARINHO - Hoje são seis rotas. Há planos para ampliar?
Carlos - Não existem planos para ampliar. Deve ser refeito o percurso em alguns pontos para se adaptar às mudanças viárias nas cidades e introduzir um roteiro alternativo na sexta etapa, Bombinhas Balneário Camboriú, para amenizar, que está bastante difícil.
DIARINHO - Que dicas você pode dar pra quem pretende encarar a aventura?
Carlos - Programar com tranquilidade, curtir os lugares e as pessoas, não se preocupar muito com desempenho em termos de tempo, pedalando com calma e apreciando a natureza. Se não dispuser de tempo para percorrer o circuito todo de uma vez, planeje em etapas, de acordo com sua capacidade de pedalar e do tempo disponível.
Pedalar apreciando a natureza é uma atividade que pode ser praticada em qualquer momento da vida
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