Os carros desaceleravam e buzinavam para os artistas. Pedestres caminhavam a passos lentos pela principal via do São João. Com olhares curiosos, todos queriam saber o que tava rolando no paredão. Angélica Peluque, 36 anos, acompanhada dos três filhos, seguia a pé do centro rumo ao bairro Imaruí. No caminho, passou pela rua Blumenau, e a parada pra recuperar o fôlego foi em frente ao paredão do porto.
As crianças ficaram amarradonas na arte, aprovada pela mãe. Se em todos os paredões, que só servem pra juntar sujeira, eles fizessem grafite, a cidade ficaria muito mais colorida e bonita, opina.
Ao todo, 36 grafiteiros de todas as partes do país tavam pelaqui, mas a iniciativa partiu de um morador de Balneário Camboriú. Diego Diant, 28, inscreveu o projeto na lei de Incentivo à Cultura e foi aprovado. Ele ganhou R$ 15 mil pra colorir os paredões do porto. Com a grana, reuniu os colegas de profissão e comprou 850 latas de tinta. Este é o nosso primeiro encontro nacional, e a gente tá aqui porque ama a arte mesmo, porque não tira lucro nenhum, revela.
Os grafiteiros interessados passaram por uma seleção, e cada um teve que vir por conta própria. Alguns conseguiram patrocínio pra pagar as passagens, como Johny Cavalcanti, 25, de Recife (PE). Ele diz que não é fácil viver do grafite. Mesmo trampando direitinho e com autorizações pra pichar os muros, várias vezes já foi levado pela polícia, confundido com bandido. Ele começou fazendo arte pra camisetas, mas confessa que gosta mais da plasticidade da parede.
Nos desenhos, o pernambucano buscou retratar características em comum de Itajaí e Recife, sem deixar de lado a pegada monstruosa, característica de seus desenhos. Como as duas cidades são portuárias, no topo ele fez um farol com cara de monstro e uma lata de spray como luzeiro. Na parte inferior, tentáculos, caranguejos e animais marinhos pra concluir a paisagem de litoral.
Grafiteiro há 10 anos, Marcelo Henrique Duarte, 25, veio doente de Belo Horizonte à city peixeira. Eu tava contando os dias pra esse evento; não podia deixar de vir, comenta.
A emoção de Marcelo é tão grande, ao falar de grafite, porque foi a arte urbana que mudou a vida dele. Na periferia da capital mineira, desde pequeno teve acesso fácil a armas de fogo e drogas. Foi então que, pra escapar da criminalidade que lhe batia à porta, resolveu se juntar à galera do grafite. Em vez de revólver, tinta. Com certeza eu estaria preso ou morto se não tivesse escolhido o grafite, revela.
Pro manezinho João Vejam, 25, o que não falta é intimidade com as tintas. Ele conhece cada uma pelo nome comercial. Se duvidar, sabe até o código da mercadoria. Nas horas vagas ele é grafiteiro, mas pra garantir o ganha-pão, o cara é revendedor de sprays. Viver só do grafite é muito difícil. Dá só pra sobreviver, lamenta.
Contentes com o resultado do trampo, eles prometem se inscrever o projeto de novo no ano que vem, pra diexar a cidade de Itajaí sempre mais colorida.