Itajaí
Itajaiense constrói castelo medieval
Fortaleza tem quatro torres, mais de 600 metros quadrados e três pisos
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Sandro Silva
sandro@diarinho.com.br
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De vez em quando, pra escapar da confusão do trânsito do trevo da avenida Contorno Sul com a BR 101, a professora itajaiense Lauana Andretti, 31 anos, desvia o trajeto entre sua casa e a escola onde dá aulas. Foi numa dessas fugidas dos engarrafamentos, que Lauana encontrou algo que a espantou: um enorme castelo Medieval sendo construído na pequena rua Herna Hoier Corrêa, na região do Carvalho.
A professora não tá delirando. Há pelo menos seis anos o empresário Adilson Vitti, 52, vem construindo ele mesmo um enorme castelo inspirado na arquitetura medieval europeia. A fortificação tem dois pisos. Se contar as torres, onde ficam as caixas dágua, chega a três pisos. A construção ocupa 630 metros quadrados, quase um terço de todo o terrenão ladeado de grandes árvores, como garapuvu, paineira, mamica de porta e até um pau-brasil.
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A obra já está no final e Adilson tem noção de que ela vem provocando curiosidade em quem passa por lá. Eu duvidei do que vi. No dia seguinte passei com calma para ter certeza. Era mesmo um castelo, conta Lauana, que se diz encantada com a obra. Chegou até a tirar fotos pra mostrar pros amigos incrédulos. As pessoas passam aqui na frente param pra fazer fotos, confirma o dono do castelo. Até uma noiva veio aqui fazer um ensaio de fotos pro álbum do casamento, completa.
Adilson morou quase três anos na Inglaterra. Trabalhou por lá na construção civil, com jardinagem e pintura. No tempo vago, conta, procurava se inteirar da cultura medieval. Sou um rato de museu e apaixonado pela arquitetura medieval, se assume. Visitei uns 10 castelos entre a Inglaterra e a Escócia, conta ainda.
A ideia de morar num castelo já fazia parte das metas desse itajaiense nascido lá mesmo, no Carvalho. Por isso, quando voltou ao Brasil, pôs mão à obra. Comecei em 2009. Aí começa, para, acaba o dinheiro, junta mais, começa de novo, diz, pra explicar o por que de tanto tempo pra concluir o prédio. Adilson calcula que já tenha gasto perto de meio milhão de reais no que considera um sonho. E isso porque eu mesmo faço a maioria das coisas, aí economizo na mão de obra, ressalta.
Justamente por conta da questão financeira é que Adilson vai transformar o castelo num misto de residência com empresa. Vai fazer uma casa de eventos, tipo aquelas que alugam espaços para shows e festas, incluindo casamentos. No salão do castelo, tem até espaço para palco, cozinha e bar. Mas aqui vai ser a minha suíte, diz, mostrando um dos 11 cômodos do segundo piso, que é onde pretende morar. Vou unir o útil ao agradável, justifica.
Metade do sistema de reservatório de água é do que vem das chuvas. Portas e janelas estão sendo feitas com madeira de reflorestamento. Adilson afirma que, em dois anos, quer instalar um sistema de captação de energia solar. Tô procurando fazer a coisa mais ecologicamente correta, solta.
A meta é concluir a obra até o final do ano.
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Cuidados para não transformar obra em versão teatral
O arquiteto e urbanista Marcel Paim, 27 anos, não se espanta com a construção da obra que imita um castelo, em Itajaí. Não é novidade na história do Brasil, pessoas comuns que queiram viver ou transformar suas moradas em monumentos arquitetônicos que em séculos passados eram exclusivos da aristocracia, afirma.
O problema, alerta, é que nem sempre o resultado é fidedigno. Por isso, sugere, é importante contratar um profissional de arquitetura, especializado no assunto. Um profissional que possa fazer essa releitura de forma fidedigna de modo a não se transformar numa versão teatral e rebuscada da verdadeira construção, opina.
Ainda pro arquiteto, é fundamental fazer uma reflexão sobre o tipo de construção que está sendo feita. Principalmente qual sua relação com a sociedade contemporânea e seus novos estilos de vida e como isso afeta diretamente ou prejudica nossa forma coletiva de convívio e a nossa busca por desempenhar um papel relevante na sociedade, pondera.
Por isso, defende que uma obra deve ser pensada olhando para o futuro mas adequada ao presente. Precisa ser condizente com o tempo em que vivemos e que contribua positivamente com o cenário que queremos para o futuro, conclui.
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OUTROS CASTELOS NA REGIÃO
Castelo Montemar
Esse é um dos mais antigos da região. Foi inaugurado em 1973 por empresários de Itajaí no alto do morro da Cruz. O nome fez uma referência ao morro e também à visão que se tem do oceano e da entrada da boca da barra.
Levou dois anos para ser construído e é todo feito de pedras.
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O castelo Montemar nasceu como restaurante e hoje é também um ambiente para eventos particulares.
Castelinho de Itapema
Ficava na pequena colina chamada Morretes, entre a praia do centro de Itapema e a Meia Praia. Foi construído como residência em 1982 pelo empresário Sebastião Coninck, o Tião, dono da imobiliária Andorinha. Depois virou sede da própria imobiliária.
No ano passado, a construtora J.A. Russi, que comprou o imóvel, botou o castelinho abaixo e começou a destruir o Morretes. A obra chegou a ser embargada pela justiça. O embargo foi derrubado e atualmente a detonação da colina continua.
Castelo Don Augusto
É da década de 80. Foi construído às margens da avenida Santa Catarina, na entrada da cidade de Camboriú. Por lá, de 1985 a 2009, funcionou o ostentoso bordel e casa de shows Marios House. Foi destruído em abril de 2013, depois que o imóvel foi comprado por uma das empresas do grupo Procave. A área vai virar um condomínio residencial.
Castelos mexem com o imaginário das pessoas, dizem historiadores
A professora Lauana não conhece Adilson. Mas toda vez que passa na frente do castelo, fica com a curiosidade instigada. A beleza está dentro do mistério que a construção transmite. Qual seria a ideia dele em ter construído um castelo, comenta.
Pro professor de história Helle Borges, 39 anos, é isso mesmo que os castelos provocam. Mexem com o imaginário das pessoas. Isso tá ligado, principalmente, pelas funções daquelas construções, avalia. Das guerras aos casamentos, dos banquetes às reuniões de negócios ou partilha de terras, tudo acontecia dentro de suas muralhas, explica.
Era como se o castelo fosse um ponto de aglutinação das pessoas. Havia um sentido de prosperidade coletiva que fazia do castelo uma fortaleza física e emocional, completa Helle. Por isso, construções que lembram ou imitam castelos proporcionam tanto fascínio. Por ser tão intenso na vida do medievo, sua influência e simbologia romperam a barreira do racional e do imaginário, afirma o professor de história.
A também professora de história Onice Sansonowicz, 43, ficou de cara ao saber que um castelo ao estilo medieval tá sendo construído em Itajaí. Que bacana, soltou. Pra ela, é mesmo a ideia de poder que os castelos transmitem que o fazem serem admirados pelas pessoas. E isso, a princípio, é alimentado pelas histórias infantis, opina.
Mas, ressalta Onice, é bom lembrar que havia uma características nada higiênica nos catelos medievais da Europa. Ressalte-se que eles não tinham essa visão romântica de organização e limpeza, afirma, referindo-se à insalubridade dos locais. Eram sujos, fétidos e sem iluminação.