Itajaí
Show do Mc Biel provoca protesto nas redes sociais
Cantor, que já foi acusado de assediar jornalista, é famoso por posts machistas
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
O show do Mc Biel hoje à noite em Balneário Camboriú provocou polêmica nas redes sociais. O cantor, que há cerca de três meses foi acusado de assédio sexual a uma jornalista e mais recentemente anunciou uma pausa na carreira, foi contratado pela Shed Western Bar. Porém, o evento repercutiu mal entre internautas e gerou vários comentários e avaliações negativas na página da balada no Facebook.
Uma nota de repúdio contra a casa noturna foi postada na rede social e teve centenas de compartilhamentos e curtidas. O texto diz que a objetificação do corpo da mulher recorrente dentro da casa, evidenciada pelas fotos dos eventos, pelas listas free, pela diferenciação nos valores dos ingressos femininos e masculinos e pela falta de respeito à busca pela igualdade foi confirmada com a contratação do Mc Biel.
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De acordo com a nota de repúdio, o evento dá visibilidade a uma figura inconsequente, preconceituosa, segregacionista e que, infelizmente, não mostra qualquer intenção de mudar. A casa noturna também é acusada de ser conivente com os atos e ideais disseminados pelo cantor.
A nota ainda cita que mulheres e homens que ficaram revoltados com o show fizeram um protesto na página da Shed, mas todos os comentários negativos foram excluídos e as pessoas bloqueadas.
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Polêmica
Ontem, havia ainda mais de 10 classificações ruins na página por conta da apresentação de Biel. Isadora Ricobom, por exemplo, comentou que com tanto artista bom e a Shed traz logo o Biel, machista, homofóbico e racista.
Outra seguidora, Sophia Knoll, postou que a Shed além de ser conivente com um artista preconceituoso e machista, o Biel, ainda silencia as mulheres que buscaram informações sobre a posição da casa sobre as declarações do cantor e protestaram contra a apresentação do mesmo. Uma enorme falta de respeito com as frequentadoras da casa.
Já Elisa Stadnick pediu um posicionamento sobre as críticas feitas pelo público ao cantor Biel. Parem de passar pano pra machista, tenham um mínimo de consciência social, pelamor, reclamou.
Por outro lado, também teve gente que defendeu a casa noturna, como a seguidora Priscila Prado. Ela respondeu a uma avaliação negativa dizendo que ninguém era obrigado a ir ao show. Já viu a quantidade de mulheres que confirmou no evento? Só porque não te agrada, não venha estragar a felicidade alheia. Falta de respeito da tua parte!!!, disse.
Além disso, uma promoção feita pela Shed para levar duas pessoas ao camarim de Biel bombou no evento criado no Facebook e no Instagram. Em uma hora, o post no Face já tinha mais de 40 compartilhamentos e 35 comentários sobre o assunto; no Instagram eram mais de 240 comentários e 180 curtidas.
Contratado há três meses
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A Shed respondeu ao DIARINHO que o show do Mc Biel foi contratado há três meses, antes de surgir a última polêmica envolvendo os posts preconceituosos postados pelo cantor no Twitter. Conforme a casa noturna, o cancelamento da apresentação iria gerar uma multa alta e prejuízo para o estabelecimento, por isso foi mantido no calendário.
Também foi informado que o bloqueio dos usuários que protestaram ocorreu porque eles estavam coagindo negativamente os clientes que tinham se interessado pelo evento, prejudicando a casa. Porém, disse que isso só aconteceu nessa situação e que comentários ou críticas sobre serviço sempre são respondidos.
A Shed reforçou que não concorda com as atitudes do cantor ou com o que ele falou, mas possui um contrato profissional com ele e não faz nenhum tipo de julgamento. A casa ainda alegou que tentou explicar a situação às usuárias que estavam encabeçando o movimento no Facebook, no entanto, elas não quiseram conversar.
A balada defendeu que recebe público de todas as classes. Informou também que a diferenciação no preço dos ingressos é uma prática cultural em Santa Catarina, mas que está começando a trabalhar com lista feminina paga.
Eu te estupraria rapidinho
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As polêmicas envolvendo o cantor Biel, de 20 anos, vieram à tona em junho quando ele foi acusado de assédio sexual por uma repórter do Portal IG. Também foram divulgados áudios gravados durante a entrevista com o Mc, nos quais ele chama a estudante de jornalismo de gostosinha, diz que a quebraria no meio e a estupraria rapidinho.
Na época, o cantor disse que a situação tinha sido um mal-entendido e que ele estava brincando ao fazer aqueles comentários. Trinta dias após o registro da denúncia na delegacia, vetos na TV e até a rescisão de um contrato publicitário, Biel divulgou um vídeo pedindo desculpas à jornalista que depois acabou sendo demitida do IG.
Ele também deu uma entrevista à TV Fama dizendo que a repórter prejudicou sua carreira, mas que ele tinha aprendido com o ocorrido. É um trabalho de anos não só meu, mas de um grupo empresarial, de uma gravadora. Ao mesmo tempo, queria agradecer porque eu aprendi muito com isso e poderia ter sido muito pior. Depois ele voltou a pisar na bola na festa de lançamento da novela Malhação, onde cantou versos como gostosinha e te quebro no meio, os mesmos ditos à repórter.
Em agosto, o funkeiro se envolveu em outra polêmica quando usuários do Twitter resolveram resgatar postagens antigas, de 2011 e 2012, com conteúdo machista, homofóbico, racista e de preconceito com idosos. O cantor deletou os tweets e tornou sua conta no Twitter privada, ou seja, só seguidores aprovados por ele podem ver os posts. Um dia depois, Biel anunciou uma pausa na carreira, disse que apenas cumpriria a agenda de shows e que focaria nos estudos e projetos pessoais.
Brasileiros culpam mulheres por estupro, diz pesquisa
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A vinda do funkeiro Biel para Balneário Camboriú revirou o estômago de muita gente que defende o fim da cultura do estupro. O assunto voltou a ser discutido após a divulgação de uma pesquisa do Datafolha, na quarta-feira. O estudo mostrou que um em cada três brasileiros culpa mulheres por estupros sofridos. Foram entrevistadas 3625 pessoas com 16 anos ou mais, entre os dias 1º e 5 de agosto.
Na pesquisa, 30% das mulheres e 30% dos homens concordaram com a frase a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada. O índice de concordância foi ainda maior entre moradores de cidades com até 50 mil habitantes (37%), pessoas que tem somente o ensino fundamental (41%) e idosos com mais de 60 anos (44%). Já entre brasileiros com até 34 anos a concordância caiu para 23%, e entre aqueles que têm ensino superior caiu para 16%. Outro dado revelado foi que 32% das mulheres e 42% dos homens entrevistados dizem acreditar que mulheres que se dão ao respeito não são estupradas.
Em 2014, uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já tinha revelado dados parecidos. Na época, o estudo chegou a apontar que 65,1% dos brasileiros acreditava que mulheres que mostram o corpo merecem ser atacadas, depois o percentual foi corrigido para 26%.
A pesquisa do Ipea provocou diversas manifestações e uma campanha #EuNãoMereçoSerEstuprada. Em entrevista à Folha de S. Paulo, a idealizadora da ação, Nana Queiroz, contou que não ficou surpresa do percentual de concordância ter sido igual entre homens e mulheres na nova pesquisa. A cultura do estupro é tão arraigada que acaba sendo reproduzida também por mulheres, afirmou à Folha.