Vai tomar banho, seu porco. Ditas em um tom de brincadeira pela vizinha Marta Beatriz Gomes, 33 anos, essas foram as últimas palavras que Edênis Paulo Cardoso, 47, o popular Nêne, ouviu. Ele foi encontrado morto na manhã de ontem, caído de bruços, na varanda dos fundos da casa abandonada onde morava, na rua Gercino José Correa, no bairro Cordeiros, em Itajaí. Nêne tava sumido desde a noite de sábado, quando Marta o viu chegando bêbado em casa.
Foi o marido de Marta quem encontrou o corpo sem vida. Ele foi à casa do vizinho depois que o Nêne não deu mais as caras nem apareceu para pedir café da manhã, como costumava fazer. Ao abrir o portão ...
Foi o marido de Marta quem encontrou o corpo sem vida. Ele foi à casa do vizinho depois que o Nêne não deu mais as caras nem apareceu para pedir café da manhã, como costumava fazer. Ao abrir o portão e procurar por ele, o marido de Marta o viu caído no chão, nos fundos da baia, só de cueca.
Com certo grau de retardo mental, ataques epiléticos e a bebedeira, Nêne não trabalhava e vivia com ajuda de vizinhos e da tia, Anita Ventura dos Santos, 64. Parente mais próxima do finado, dona Anita tava muito abalada com a morte do sobrinho. Os dois não se falavam desde sábado, quando ele foi até a baia da tia, na rua Henrique Bianchini, cuidar dos cachorros e entregar uma bíblia para ela. Tô indo na igreja e não no [bar] Ferreira, teria dito pra tia, que não conseguiu segurar as lágrimas.
Os dois moravam juntos desde que Nêne tinha 13 anos. Foi ele quem escolheu morar com a tia na city peixeira em vez de viver com os pais em Rio do Sul. Nêne se tornou alcoólatra, por isso mudou-se há cerca de três anos para uma casa abandonada onde pudesse beber em paz. Eu costumava brigar com ele por causa da bebida, lembra Anita, com a fala de quem só queria o bem para o sobrinho.
Até o final da manhã de ontem, a causa da morte de Nêne continuava desconhecida. O corpo passou por uma necrópsia durante a tarde e, segundo o IML, não foi possível determinar a causa da morte. Possivelmente, ele teve um enfarte. Os pais de Nêne também estavam vindo de Rio do Sul pra ver o filho pela última vez.
Corpo ficou um tempão no local
Por conta da falta de certeza sobre a causa da morte, um impasse foi criado na hora de recolher o corpo de Nêne. O corpo de Bombeiros, responsável pelo atendimento, solicitou ao IML que viesse recolher o cadáver, mas isso não aconteceu. Como não havia certeza de que a causa da morte teria sido violenta, o IML precisaria que um boletim de ocorrência fosse registrado pra recolhê-lo, senão nada poderia ser feito.
A documentação só ficou pronta final da manhã e, enquanto isso, o corpo de Nêne ficou jogado na baia, que foi isolada pela polícia Militar. A situação preocupou os vizinhos de Nêne, que chegaram a acreditar que o corpo dele ficaria lá jogado. Eu tô apavorada, revelou a dona de casa Isabel Maria da Silva, 50. O corpo de Nenê só chegou ao IML quatro horas depois de ter sido encontrado, quando a divisão de Investigação Criminal (DIC) registrou o BO e solicitou o recolhimento do corpo.