Ainda abalado com o que aconteceu, Fernando recebeu o DIARINHO ontem à tarde e contou, tintim por tintim, a sequência de acontecimentos daquele 12 de dezembro. Falar daquilo ainda me faz sentir medo. Eu sei que tô lidando com pessoas muito perigosas, acredita o ator.
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Tudo começou em 31 de dezembro do ano passado, quando rolou, na câmara de Vereadores de Itajaí, a votação da verticalização da Praia Brava. Fernando estava entre os manifestantes que tentavam vetar o projeto. Eu me lembro que o Pissetti, que era presidente da casa na época, desrespeitou todo o mundo. Xingou um casal de vagabundos, lembra.
Durante a sessão, Pissetti teria mandado parte do público calar a boca, que era ele quem mandava lá, afirma o ator. A grosseria do então vereador deixou muita gente indignada. Tanto que, após a sessão, uma chuva de comentários lotou o perfil pessoal e profissional do atual abobrão no Facebook. Como homem público, ele sabe que está sujeito a ouvir algumas coisas. Por isso, não deveria ter falado o que falou, critica Fernando.
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O artista também se manifestou contra Pissetti no perfil profissional chamado Dublê de Urso Panda e admite tê-lo xingado. Eu chamei ele de vagabundo. Não lembro agora o que mais eu disse, fala. O desabafo on-line custou-lhe um processo.
Foi chamado de viadinho
Em 12 de dezembro, quinta-feira passada, os dois voltaram a ficar frente a frente, desta vez no fórum de Itajaí, onde rolou a audiência de conciliação. Antes de entrarem, segundo Fernando, o abobrão teria feito um escândalo e, fora de controle, o ameaçou. Ele dizia: me chama de vagabundo de novo, agora, me chama!, narra.
A audiência conciliatória rolou apenas com Fernando. Pisseti, que esperou do lado de fora da sala, teria entrado apenas pra assinar um termo. Não teve acordo entre os dois e, ao fim do encontro, ambos saíram, o secretário em direção ao estacionamento, e o ator rumo ao bicicletário, pra pegar a sua magrela. Antes de sair, Pissetti encontrou o filho dele [Lucas] no estacionamento. Ele apontava pra mim e dizia: aquele lá é o vagabundo.
Mesmo de longe e na companhia de uma criança de pequena, Lucas, que ouvia o pai atentamente, passou a xingar e ameaçar o ator. Eu vou pegar você. Eu já puxei cadeia e sou muito perigoso. Eu vou te pegar, dizia o filho de Pissetti, de acordo com o denunciante. Neste momento, Pissetti teria jogado ainda mais lenha na fogueira. E parece que é viadinho ainda, teria dito.
Foi perseguido, levou tranco e diz que apanhou
Fernando trepou na magrela e saiu em direção ao bairro São Judas. Enquanto pedalava pela rua Silva, percebeu que Lucas, na boleia de um carro vermelho, o seguia. O filho de Pissetti o alcançou na metade da rua Pedro Joaquim Vieira, no São Judas. Ele jogou o carro na traseira da bicicleta. Eu caí e fiquei por baixo dela, recorda. Lucas saiu do carro, avançou contra o ator e o teria espancado com socos e pontapés. Enquanto a agressão rolava solta, a mesma criança de quatro anos chorava no banco de trás do carro. A criança tava na cadeirinha, no banco de trás, e não parava de chorar, mas ele nem deu importância, fala.
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Fernando ameaçou levar o caso à polícia. Nesse momento, Lucas teria dado mais uma prova de seu descontrole: ele mandou fazer o BO e dizer que a pessoa que o espancou era bandido. Diz que eu sou bandido, conta o ator.
Com ferimentos pelo corpo, Fernando foi até a central de Plantão Policial (CPP), na rótula do Vanolli, e tentou registrar um boletim de ocorrência contra Lucas. Segundo ele, contudo, só foi possível oficializar a agressão na terça-feira, cinco dias após ter apanhado. Eu fui na quinta-feira [um dia depois do fato], na sexta, no sábado, no domingo e na segunda. Sempre que eu ia, tinha um flagrante acontecendo e não dava pra registrar, lembra.
Abalado, Fernando não tem dúvidas de que a agressão de Lucas e as injúrias de Pissetti mancharam não apenas a reputação dos artistas, mas a de toda a população itajaiense. Eu não consigo mais dormir nem trabalhar, com medo do que me pode acontecer. Eu sou apenas um trabalhador, e eles detêm o poder, desabafou.
O DIARINHO entrou em contato com o secretário Pisseti, atraves do telefone celular, mas as chamadas caíram na caixa de mensagens. Barnabés da secretaria de Planejamento e Gestão prometeram que o chefão retornaria a ligação, mas isso não ocorreu até o fechamento do jornal.
Sociólogo náo acha que artistas sejam mais vulneráveis à violência
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Essa não é a primeira manifestação de um representante do poder público contra um artista de Itajaí. Em 3 de dezembro, o vereador José Alvercino Ferreira (PP), o Zé da Codetran, defendeu a interrupção abrupta do show da cantora Giana Cervi, que se apresentava na Vila da Regata.
Visivelmente irritado com a repercussão negativa do ato, praticado pelo presidente da comissão organizadora da Vila da Regata, Amílcar Ganizaga, Zé disse que Giana merecia uma surra. Ele [Amílcar] devia ter tirado da tomada, dobrado em dois e dado nas costas dela ainda, pra ela aprender, sugeriu o vereador. Giana, depois, foi à câmara de vereadores e Zé se desculpou com ela.
Apesar das circunstâncias semelhantes das duas ocorrências, o sociólogo Sérgio Saturnino não acredita que os artistas estejam mais susceptíveis a injúrias, como as proferidas contra Giana e Fernando. Não há um grupo, digamos, preferencial para esse tipo de comportamento. Há uma infeliz coincidência, avalia o sabichão.
Para Saturnino, o tempo em que os artistas eram perseguidos por causa da expressão crítica contida em sua arte já passou. Se alguém ainda pensa que isso possa ocorrer, provavelmente tem uma visão completamente ultrapassada. Os artistas, de uma forma geral, passam ilesos, explica.
Sérgio cita outra comunidade como uma das principais vítimas desse tipo de perseguição, ainda que de forma isolada. Os jornalistas e as instituições jornalísticas, certamente, são mais susceptíveis, concluiu.
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