Pra ser bem imparcial em seu trampo, a reportagem do Jornal mais lido do sul do mundo esteve em pontos de coletas de duas bancas que estão atuando em Itajaí. As duas levaram atraque da polícia Militar nos últimos meses. Em 26 de novembro de 2013, foi a União. Em 21 de janeiro, foi a Ponto Chic. Todas as duas tavam, esta semana, no nem-te-ligo e faziam normalmente as coletas de apostas.
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O primeiro ponto de venda visitado pelo DIARINHO foi o da União, perto da rótula da praça da Alegria, no bairro São João. Os caras têm até uma salinha específica pra jogos, onde vendem Tri Mania e jogo do bicho. Lá, foi pedida uma aposta na cobra. O apontador até mostrou um caderninho, no qual tinha os números de cada um dos bichinhos e explicou que quem sonha com cobra pode também jogar no jacaré. Foi feita uma aposta de R$ 6.
Também no bairro São João, foi visitado outro ponto da banca da União. Do outro lado da rótula da praça da Alegria, um boteco também coletava as apostas daquela banca de bicho. O apontador confessou que tinha começado recentemente a fazer jogo de bicho, por isso não sabia explicar direito como funcionava a jogatina. Mesmo assim, por lá foi feita uma aposta de 3 pilas.
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O terceiro ponto visitado foi da banca Ponto Chic, a mais famosa delas. Jogo escondido? Jeitinho pra ludibriar as otoridades? Que nada. A certeza da impunidade é tanta que a coleta funciona num quiosque construído pra ser mesmo um ponto da banca, com direito a logomarca da empresa e até frase de efeito: Ponto Chic, loterias desde 1957. Aqui você acerta na sorte!.
A casinha fica instalada na rua Indaial, bem pertinho de uma lotérica da Caixa Econômica Federal. O apontador chegou a ficar desconfiado, mas acabou fazendo a aposta no galo, número 13. Foram três pilinhas na cabeça.
O último ponto visitado foi um boteco na Arnaldo José de Oliveira, no bairro Fazenda, pertinho do terminal de ônibus da Coletivo Itajaí. Ali, são feitas apostas da banca Ponto Chic. Muito prestativa, a atendente chegou a sugerir que a repórter, que se fazia passar por apostadora, arriscasse também na borboleta, bicho que tem o número 13 entre suas dezenas. Lá se foram mais três continhos pra fazer a aposta.
Pra sociólogo, tá na hora de legalizar a jogatina
Se rico quer jogar, vai a Las Vegas. Já o pobre, vai ao bairro Espinheiros. A frase é do sociólogo Eduardo Guerini, professor do mestrado em gestão de políticas públicas da Univali. Pro sabichão, o jogo do bicho deve ser legalizado, já que é uma prática corrente e bastante difundida entre o povão.
Eduardo Guerini taxa como hipocrisia social a atitude do governo de querer controlar as atitudes humanas quando torna ilegal o jogo do bicho e, ao mesmo tempo, deixa funcionar e incentiva jogos como a Mega Sena e a Trimania. Manter o jogo do bicho na ilegalidade, acredita, só faz piorar a situação. Desta forma, ele (governo) está incentivando práticas corruptivas, como a segurança que policias dão às bancas ou o recolhimento das caixinhas, exemplifica.
O sociólogo diz, ainda, que o jogo do bicho é uma questão cultural. Os jogos de azar e sorteios, no Brasil, tão incutidos na sociedade desde o século 19, observa o professor da Univali. Os bingos, tão comuns em escolas e igrejas, são exemplos disso. Pra acabar com práticas assim, afirma Eduardo Guerini, o melhor caminho é legalizar. Até porque, ressalta, o jogo do bicho gera muitos postos de trabalho. O jogo gera renda, além dos empregos. Por isso, defendo que o caminho é a legalização.
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Como foram os dois atraques às bancas de bicho
Em 26 de novembro do ano passado, os fardados prenderam cinco pessoas numa banca que funcionava no beco do Mickey, na Vila Operária. O local seria uma central de recolhimento das apostas da banca União. Com o quinteto, foram apreendidos mais de R$ 11 mil e cinco motos que eram usadas pra buscar o bolo das apostas e a dinheirama nos pontos de coleta. Várias cadernetas com a movimentação econômica e envelopes fechados com a grana que ia ser paga aos apostadores rabudos também foram recolhidos. Um dos homens encontrado por lá tinha mandado de prisão por homicídio culposo.
A banca Ponto Chic levou o atraque dos fardados em 21 de janeiro. Na ocasião, foram presos quatro homens numa casa da rua Tijucas. Por lá, apontam as otoridades, funcionava uma espécie de central de recebimento de apostas. Além de canhotos com resultados do jogo bicho e folhas com recolhimento de apostas, foram apreendidos, ao todo, R$ 3,7 mil em dinheiro vivo, grana que seria entregue aos pontos de coleta de apostas da Ponto Chic espalhados pela cidade. Duas motos também foram apreendidas.
PM entregou relatório pro ministério Público
A polícia Militar foi a corporação que apurou a existência de duas centrais de distribuição de bancas de jogo do bicho em Itajaí e deu os atraques nos locais. E mais: a PM tem um mapeamento das bancas e dos pontos de coleta das apostas em praticamente toda a city peixeira. O levantamento foi feito pelo serviço de inteligência dos fardado, e o relatório já tá nas mãos do ministério Público (MP). O MP já está com a relação das bancas e pontos. Agora, estamos esperando uma decisão deles pra ver qual o foco a ser trabalhado, disse ontem ao DIARINHO o tenente Luís Antônio Pittol Trevisan.
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O oficial revela que a PM tem recebido uma pá de denúncias referente a pontos de coletas, mas argumentou que o interesse maior é pegar os chefões das organizações. Outro objetivo, afirma ainda o tenente, é também pegar quem trampa nas centrais de distribuição de apostas, pra conseguir autuar os bicheiros em flagrante pelo crime de lavagem de dinheiro. Pegar somente os apontadores, que é o pessoal que coleta as apostas, acaba não dando em nada. A dona justa interpreta que esse pessoal está, apenas, cometendo uma contravenção penal.
A PM descobriu que dependendo da banca, chegam a ser feitos dois recolhimentos de dinheiro por dia. Um no final da manhã e outra no final da tarde. Em 26 de novembro do ano passado, a PM interceptou o recolhimento de uma das centrais de distribuição de uma banca e apreendeu R$ 11 mil. Só que o grosso da grana fica com os cabeças, tascou o tenente.