A partir de hoje o povão poderá circular a pé ou de bicicleta pelo espaço sobre o rio Camboriú e, apesar de ser uma estrutura que chama atenção pelo tamanho e imponência, a passarela é a obra mais aguardada pelos moradores do bairro da Barra, que reivindicavam uma travessia decente há anos.
A comerciante Claudia Pegoraro, 48 anos, proprietária da panificadora Big Pan, na avenida Hermógenes Assis Feijó, conta que a passarela será útil aos trabalhadores do bairro que precisam ir para o centro da cidade e antes tinham que pegar a BR-101 ou atravessar o rio em uma balsinha capenga. Eu moro aqui há 23 anos e presenciei muitas famílias que perderam seus filhos em acidentes na rodovia. Pra população a passarela vai ser bem útil, diz.
Claudia lamenta que a obra tenha virado alvo de corrupção. Ela também não concorda que fosse preciso de algo tão grande para atender as necessidades da comunidade. Há muitos anos estamos esperando por esta travessia. Mas não precisava de uma estrutura luxuosa como esta. Para Balneário talvez precisasse, porque ela se tornou mais um atrativo turístico, comenta.
Como moradora e comerciante, ela espera que a passarela possa abrir caminhos para outras obras no bairro que, segundo ela, está jogado às traças. Eu acredito que a expectativa é grande para os moradores, para o setor imobiliário e para os comerciantes, porque será a união da Barra Sul com o bairro da Barra, diz.
Antônio Moreira de Oliveira, 40 anos, sócio gerente do restaurante Casa do Camarão, que fica na avenida Atlântica, na Barra Sul, está esperançoso com a inauguração da obra.
Ele acredita que o movimento vai aumentar no lado onde fica o seu estabelecimento, mas a maior vantagem será para os funcionários que moram do outro lado do rio. Hoje é o maior transtorno virem pra cá, diz.
Ele conta que atualmente muitos funcionários pegam uma balsa que faz a travessia do rio. Porém, o serviço, precário, funciona até às 23h. Mas à noite não tem a balsa e fica um cara ali com uma bateira e cobra do pessoal. Com a passarela, vai ser muito bom, é importante pra gente, comenta.
Estrutura
Do lado da Barra Sul, a passarela fica na avenida Normando Tedesco, em frente à rua 4800, e no lado da Barra, ela está na praça do Pescador. O acesso à passarela será feito por quatro elevadores com capacidade para 20 pessoas ou 1500 quilos cada. Do térreo até o vão central são 25 metros de altura e 190 metros de comprimento.
O engenheiro da secretaria de Planejamento e fiscal da obra, Claudinei Trichês, comenta que alguns detalhes ainda faltam, principalmente acabamentos na parte elétrica. Nos primeiros dias de funcionamento, apenas dois elevadores vão operar, sendo um de cada lado. Vamos monitorar o comportamento dos elevadores e os técnicos vão estar de plantão para trazer segurança, diz. A passarela possui um gerador, por isso, mesmo que falte luz, não há risco de o elevador parar.
Lá em cima, o povão poderá contemplar a vista do mar, do rio e de ambos os lados da cidade. As laterais da passarela possuem guarda-corpo em aço e tudo é envidraçado. Há alguns locais onde foram instaladas redes de proteção para evitar acidentes, principalmente com crianças.
Dos dois lados há espaço para futuros comércios. Estes locais, com 300 metros quadrados cada, serão licitados pela prefeitura para a ocupação de restaurantes e lojas. A passarela ficará aberta 24 horas por dia e a guarda municipal deve fazer a segurança.
Para inaugurar a estrutura, a prefeitura modificou a praça do Pescador, no bairro mais antigo da cidade. A rua José Francisco Vítor, que antes ficava em frente à Casa Linhares, foi transferida para o outro lado. Em frente a casa foi ampliada a praça desde a passarela.
O secretário de Obras, Atílio Catafesta, informa que uma área de 20 mil metros quadrados, próxima à praça, foi desapropriada e a intenção é criar uma área de lazer, com campo de futebol, parquinho infantil, além de posto da polícia e o lendário Mercado do Peixe. As obras foram feitas pelos peões da Obras em 20 dias. A comerciante Claudia Pegoraro diz que ficou muito bonito, mas critica que muita vegetação foi suprimida. O secretário garante que o que as árvores cortadas foram com autorização da secretaria do Meio Ambiente.
Entenda a baita
As obras da passarela começaram em 2012 e a previsão era concluir os trabalhos até dezembro daquele ano. A Helpcon Construtora, Projetos e Serviço Ltda., foi a empresa que ganhou a licitação, no valor de R$ 23 milhões. Porém, depois de vários aditivos a obra aumentou seu custo para R$ 28 milhões.
Em 2014, a passarela foi alvo da Operação Trato Feito, realizada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em setembro daquele ano. Entre as suspeitas, está a fraude na licitação, o superfaturamento, estimado entre R$ 6 a R$ 8 milhões, e o envolvimento de dirigentes da companhia de Desenvolvimento e Urbanização (Compur), que era responsável por fiscalizar o serviço.
Desde então, as obras estavam paradas. A Helpcon abandonou o canteiro de obras no mês de setembro de 2015, alegando não ter mais condições para seguir com os trabalhos. Com a quebra que contrato, a Helpcon foi multada em R$ 3 milhões. A prefeitura também cobra, na justiça, que a empresa devolva cerca de R$ 1 milhão, que foram pagos por serviços não realizados.
Em abril deste ano a empresa PGC Engenharia de Obras, de Curitiba, ganhou a licitação, no valor de R$ 2,1 milhões, para finalizar os serviços de acabamento. Outra empresa foi contratada para instalar os elevadores e o gerador. O custo da obra passa dos R$ 30 milhões.