Colunas


Casos e ocasos

Casos e ocasos

Rosan da Rocha é catarinense, manezinho, deísta, advogado, professor e promotor de Justiça aposentado. Sem preconceitos, é amante da natureza e segue aprendendo e conhecendo melhor o ser humano

A longa história de golpes e a inédita punição aos golpistas de 8 de janeiro


A longa história de golpes e a inédita punição aos golpistas de 8 de janeiro
(foto: Joedson Alves/Agência Brasil)

O Brasil convive com golpes e tentativas de golpe desde o período imperial. A própria Proclamação da República resultou de um golpe militar, com a derrubada de D. Pedro II pelo Exército. A partir de então, o país presenciou o golpe de 1930 – deposição de Washington Luís e impedimento da posse de Júlio Prestes, inaugurando a Era Vargas; o Estado Novo (1937) – autogolpe de Getúlio Vargas, fechamento do Congresso e instauração de uma ditadura; e o golpe de 1964 – deposição de João Goulart e início da ditadura militar. Desde então, o Brasil teve cinco presidentes militares (oficiais de carreira das Forças Armadas) que governaram sob um regime autoritário.

Durante a Ditadura Militar (1964–1985), esses cinco presidentes foram: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e João Figueiredo. Este último, além de ser o derradeiro presidente do regime, foi quem sancionou a Lei da Anistia, em 1979, permitiu as eleições diretas para governadores em 1982 e deu continuidade à abertura política iniciada no governo Geisel. O regime militar só chegou ao fim diante da pressão popular, do agravamento da crise econômica, da hiperinflação e do abandono de inúmeras obras pelo país, em meio a um cenário de verdadeiro caos.

Em 1984, a população foi às ruas no movimento das “Diretas Já”, exigindo eleições diretas para presidente. A emenda, porém, foi derrotada no Congresso, que elegeu, por meio de um Colégio Eleitoral, Tancredo Neves. No entanto, Tancredo faleceu antes de tomar posse, assumindo o vice-presidente José Sarney, em 15 de março de 1985, o que marcou o fim formal da ditadura militar e o início da Nova República.

O processo de redemocratização foi consolidado com a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição de 1988, marco fundamental do regime democrático no Brasil ...

Já tem cadastro? Clique aqui

Quer ler notícias de graça no DIARINHO?
Faça seu cadastro e tenha
10 acessos mensais

Ou assine o DIARINHO agora
e tenha acesso ilimitado!

Durante a Ditadura Militar (1964–1985), esses cinco presidentes foram: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e João Figueiredo. Este último, além de ser o derradeiro presidente do regime, foi quem sancionou a Lei da Anistia, em 1979, permitiu as eleições diretas para governadores em 1982 e deu continuidade à abertura política iniciada no governo Geisel. O regime militar só chegou ao fim diante da pressão popular, do agravamento da crise econômica, da hiperinflação e do abandono de inúmeras obras pelo país, em meio a um cenário de verdadeiro caos.

Em 1984, a população foi às ruas no movimento das “Diretas Já”, exigindo eleições diretas para presidente. A emenda, porém, foi derrotada no Congresso, que elegeu, por meio de um Colégio Eleitoral, Tancredo Neves. No entanto, Tancredo faleceu antes de tomar posse, assumindo o vice-presidente José Sarney, em 15 de março de 1985, o que marcou o fim formal da ditadura militar e o início da Nova República.

O processo de redemocratização foi consolidado com a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição de 1988, marco fundamental do regime democrático no Brasil.

É sempre importante lembrar que o número oficial de pessoas mortas ou desaparecidas em razão do golpe de 1964 e da subsequente ditadura militar, reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), é de 434 vítimas. No entanto, diversos estudos posteriores apontam um número bem maior. Em outubro de 2024, uma procuradora propôs uma recontagem, sustentando que o total de mortos e desaparecidos pode “passar de 10 mil” pessoas, quando se consideram todas as vítimas da repressão, incluindo conflitos no campo e populações indígenas, muitas vezes não computadas nos relatórios iniciais, que se concentravam nos opositores políticos urbanos.

Também durante o Império e ao longo do período republicano, o Brasil passou por autogolpes e inúmeras tentativas de ruptura institucional, inclusive dentro do próprio regime de exceção, como se observa com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que aprofundou a repressão em plena ditadura militar.

Apesar de toda essa trajetória de violência política contra governos e contra a Nação, praticamente nenhum dos agentes responsáveis pelos golpes anteriores sofreu punição efetiva ou prisão.

Com a redemocratização e as eleições diretas de 1989, o Brasil iniciou uma nova etapa, buscando consolidar sua democracia. Após 21 anos de ditadura, o povo elegeu o primeiro presidente da Nova República, Fernando Collor de Mello. A partir daí, seguiram-se nove eleições presidenciais e dois processos de impeachment.

Contudo, na eleição de 2022, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato derrotado, Jair Bolsonaro, liderou uma tentativa de golpe de Estado, alegando fraude nas eleições sem apresentar qualquer prova. Articulou, para isso, ministros militares e civis de seu governo, insuflando parte da população contra o resultado das urnas. Já antes do pleito, Bolsonaro dava claros sinais de que não aceitaria o resultado caso fosse derrotado e, após a eleição, reuniu-se com seus aliados para discutir uma minuta de golpe de Estado. Essa minuta previa a decretação de um Estado de Defesa “com vistas a restabelecer a ordem e a paz institucional, a ser aplicado no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral, para apuração de suspeição, abuso de poder e medidas inconstitucionais e ilegais levadas a efeito pela presidência e membros do Tribunal, verificados através de fatos ocorridos antes, durante e após o processo presidencial de 2022”.

Dentro desse enredo golpista, estavam previstos até mesmo os assassinatos do presidente e do vice-presidente eleitos, bem como do presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Como os Comandantes do Exército e da Aeronáutica não aceitaram a proposta contida na minuta, Jair Bolsonaro não se sentiu encorajado a assiná-la, temendo um forte confronto também dentro das Forças Armadas. Ainda assim, não desistiu completamente: apoiado pelo comandante da Marinha, pelo Ministro da Defesa e por outros militares de seu governo, estimulou e induziu parte da população a ir às ruas pedir intervenção militar. Bolsonaro, que se recusou a participar da cerimônia de transmissão de cargo ao presidente eleito, viajou para os Estados Unidos e, mesmo a distância, contribuiu para a articulação da invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal em 8 de janeiro de 2023, com o claro objetivo de impedir o exercício do mandato pelo presidente legitimamente eleito.

Após intensa investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, acompanhada pelo Supremo Tribunal Federal, centenas de golpistas que promoveram violência contra policiais, invadiram e depredaram prédios públicos foram denunciados, processados e tiveram oportunidade de celebrar acordos para evitar a prisão. Aqueles que recusaram ou não se enquadraram nas condições, passaram a cumprir as penas impostas.

Faltava, porém, o núcleo central: aqueles que planejaram, organizaram, instigaram e executaram os crimes de tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, organização criminosa, dano ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

Com farta prova documental, delações premiadas, diversas testemunhas e até confissões parciais em interrogatórios, dentro do devido processo legal e com amplo direito de defesa, o Supremo Tribunal Federal, pela primeira vez na história do Brasil, condenou e determinou a prisão de um ex-presidente da República, além de vários ministros e militares.

Que cumpram rigorosamente suas penas, para que sirvam de exemplo de que o país não tolera mais grupos fascistas, extremistas ou autoritários que pretendam tomar o poder pela violência de um golpe, destruindo a conquista mais sofrida, dolorosa e difícil do povo brasileiro: a democracia.


Conteúdo Patrocinado


Comentários:

Deixe um comentário:

Somente usuários cadastrados podem postar comentários.

Para fazer seu cadastro, clique aqui.

Se você já é cadastrado, faça login para comentar.

ENQUETE

O que mais te irrita quando acaba a luz?



Hoje nas bancas

Confira a capa de hoje
Folheie o jornal aqui ❯


Especiais

“Marketing” e “força eleitoral”: por que Hugo Motta insistiu na aprovação do PL Antifacção

PL ANTIFACÇÃO

“Marketing” e “força eleitoral”: por que Hugo Motta insistiu na aprovação do PL Antifacção

“Caos climático” pode ser evitado: veja os caminhos indicados pela Ciência

MUNDO

“Caos climático” pode ser evitado: veja os caminhos indicados pela Ciência

Linha de frente da crise climática toma as ruas de Belém

CRISE CLIMÁTICA

Linha de frente da crise climática toma as ruas de Belém

Cúpula dos Povos reúne 20 mil e apresenta agenda popular para a COP30

COP30

Cúpula dos Povos reúne 20 mil e apresenta agenda popular para a COP30

Gigantes das criptomoedas movimentaram bilhões ligados a fraudes, traficantes e hackers

CRIPTOMOEDAS

Gigantes das criptomoedas movimentaram bilhões ligados a fraudes, traficantes e hackers



Colunistas

Green no Black Friday

Charge do Dia

Green no Black Friday

A vida brota, a notícia pulsa

Clique diário

A vida brota, a notícia pulsa

A longa história de golpes e a inédita punição aos golpistas de 8 de janeiro

Casos e ocasos

A longa história de golpes e a inédita punição aos golpistas de 8 de janeiro

Dentro e fora do rinque

Via Streaming

Dentro e fora do rinque

Sertanejos em BC

Coluna do Ton

Sertanejos em BC




Blogs

Rubens Campagnolo

Blog do JC

Rubens Campagnolo

O Rio do Ontem, o Lixo de Hoje: Um mergulho nas nossas águas internas

VersoLuz

O Rio do Ontem, o Lixo de Hoje: Um mergulho nas nossas águas internas

Mais árvores para a cidade

Blog do Magru

Mais árvores para a cidade

Bayer 04 reúne lendas e imprensa em São Paulo (SP) para balanço da temporada no Brasil

A bordo do esporte

Bayer 04 reúne lendas e imprensa em São Paulo (SP) para balanço da temporada no Brasil






Jornal Diarinho ©2025 - Todos os direitos reservados.