Coluna Fato&Comentário
Por Edison d'Ávila -
Hugo Calgan: mistério da pintura de Itajaí - 1884
Um mistério cerca o sumiço da pintura histórica “Vista de Itajaí”, 1884, do pintor alemão Hugo Calgan. Essa “Vista de Itajaí”, de Calgan, e a gravura “Vila de Itajaí”, de Henry Lange, também alemão, de 1882, são as únicas vistas da cidade no século XIX, quando a fotografia ainda não tinha chegado aqui. Elas têm, portanto, enorme importância para a história itajaiense.
Antes, porém, de se falar do misterioso desaparecimento da pintura, é preciso conhecer o seu autor e as circunstância em que ela foi criada. Hugo e sua mulher Carolina, deixaram o porto de Hamburgo, na Alemanha, com destino a Santos, São Paulo, em 6 de setembro de 1872. Ele tinha 20 anos, era natural de Berlim e tinha sido aluno do famoso pintor da escola Realista alemã, Ferdinand-Theodor Hildebrand, emérito retratista e paisagista, professor da Academia de Düsseldorf e membro das Academias de Berlim e Viena.
A estadia de Calgan no Brasil tem muitas controvérsias no que diz respeito a datas e acontecimentos. Desembarcado em Santos, ele viveu alguns anos em São Paulo e Rio de Janeiro, a fazer pinturas e apresentações de “Física Recreativa”, com a esposa Carolina, que era cantora. Essas apresentações se compunham de show de pirotecnia, repuxos d´água coloridos, aquática chinesa e outros mais correlatos. Ele divulgava que, no Rio de Janeiro, teve entre assistentes de suas apresentações o próprio D. Pedro II.
Corria o ano de 1880, quando o pintor viajante se estabeleceu em Curitiba, pintando diversas aquarelas com vistas da cidade. Dois anos depois, chegou a Joinville, produzindo uma série de retratos de casais dali e duas telas famosas: “O Pavão e a Rainha” e “O Viúvo”. Em 1883, o casal Calgan deixa repentinamente e sem avisar a cidade dos Príncipes e vem se instalar em Itajaí. Foi dito à época que estavam endividados, mas ele respondeu ser calúnia.
A estadia de Hugo Calgan em Itajaí transcorreu nos anos de 1883 e 1884. Do primeiro ano, existe no Museu Histórico de Itajaí uma sua tela, pintura a óleo do retrato de Carlos Serino Müller, negociante; e de 1884 a já citada pintura da “Vista de Itajaí.” Não se sabe quem encomendou essa tela, ou a adquiriu. Sabe-se que, em 1947, ela estava de posse do Centro Cultural de Itajaí. Como o maior benfeitor do Centro Cultural fora Marcos Konder, seu presidente de honra, é de supor-se que tenha sido ele o doador do quadro e que seu pai, Marcos Konder Sênior, fosse o primeiro proprietário.
Acontece que, logo a seguir, a pintura histórica veio a ser emprestada a Alexandre Konder, filho do possível doador, para que fosse levada ao Rio de Janeiro e dela se fazer uma cópia. Depois disso, nunca mais se soube que fim teve ou com quem ficara. Tomou misterioso sumiço. Em Itajaí, diversas pessoas e também itajaienses que residiam no Rio de Janeiro em vão fizeram inúmeras demandas por encontra-la e se lançaram pedidos de ajuda pela imprensa. Por sorte, da “Vista de Itajaí”, 1884, de Hugo Calgan, fez-se uma fotografia, a qual serviu para que Lygia Pereira Silveira, esposa do jornalista e escritor Silveira Júnior, e a pedido dele, fizesse uma cópia, óleo sobre tela, em 1976 e que agora se encontra no acervo do Museu Histórico de Itajaí.
Será que ainda se vai decifrar todo esse mistério?