Estudiosos e outros interessados em processos e acontecimentos históricos, referentes a uma cultura, comunidade ou a pessoas referenciais, têm o costume meritoso de revisitar esses acontecidos, dar-lhes relevo, ressignificando aqueles com pertinência para cada época.
Está posto que tais escolhas são feitas muito em acordo com ideias, visões da história, linhas de pesquisas desses estudiosos, pesquisadores e interessados em geral. Mesmo porque, para melhor se compreender o passado, toda escolha teórica tem validade como elemento de reflexão e entendimento.
Para este ano de 2022, vão-se elencar três datas de significado para a história e cultura local. São elas: o centenário de fundação do Sindicato dos Estivadores de Itajaí e os centenários de nascimento da líder espiritualista Maria Cartola e do poeta Marcos Konder Reis, cuja relevância histórica e cultural para a comunidade itajaiense agora se aponta.
A diversidade e diferenciação do trabalho no porto, além de uma postura mais politizada daqueles portuários que trabalhavam nos navios, fazendo o correto carregamento (estiva) dos porões e suas descargas, levou à fundação, em 5 de março de 1922, da Sociedade União Beneficente dos Estivadores de Itajaí; depois, em 1933, transformada em sindicato. Nessa fundação, muito se empenharam trabalhadores com ideias socialistas: Joaquim Lopes Corrêa, Firmino Alfredo Rosa e Bernardino Maria de Borba. Os estivadores organizados em união beneficente/sindicato, há 100 anos, transformaram-se, no período 1930/1960, na vanguarda das lutas operárias da cidade como segmento de trabalhadores politizados e ativos agentes sociais.
A parte da cultura brasileira de raiz africana somente se construiu pela resistência de escravizados negros, ex-escravizados e seus descendentes que cultuavam suas tradições apesar do preconceito e da violência escravocrata. Uma dessas tradições, que sobreviveu aos séculos da escravidão, foi o culto religioso de matriz africana. Em Itajaí, essa resistência e sobrevivência da religião afro-brasileira muito deveu à mulher negra e mãe-de-santo Maria Lopes Klüser, conhecida pelo povo como Maria Cartola. Seu centenário de nascimento é ocasião para assinalar uma liderança feminina que atuou pela preservação da cultura dos afrodescendentes da cidade.
Na poesia de Marcos Konder Reis, Itajaí – sua cidade natal – e a infância toda aqui vivida, são o fundo do tema. Poeta maior da cidade, fazia questão de sempre se apresentar como itajaiense e catarinense. No dizer do escritor Iaponan Soares, Marcos Konder Reis foi “um dos grandes poetas catarinenses, depois de Cruz e Souza e Luiz Delfino”.
Se vivo, o poeta estaria completando 100 anos. Então, muito em boa hora, amigos dele e investidores de Itajaí se conversam para apoio a um programa de eventos e ações culturais, alusivo ao seu centenário.