O mês de agosto em curso, precisamente no dia 18, sinalou os cinquenta anos de falecimento do jornalista, contista e trovador itajaiense Jayme Fernandes Vieira.
Nascido no ano de 1897, ele descendia de antiga família de Itajaí residente na Fazenda, os Fernandes Vieira, onde se contam os que se dedicaram ao magistério e às letras. Enquanto cursava os anos iniciais da escola primária, no Liceu Infantil do mestre negro Manoel Ferreira de Miranda, por influência do professor já se pôs com colegas a editar um jornal escolar.
Logo que se parou moço, empregou-se como estafeta dos Correios. Cabia-lhe fazer o transporte a cavalo das correspondências entre Itajaí e Barra Velha. Nos Correios foi que cumpriu carreira profissional, ascendendo a telegrafista e por fim chefe da agência de Itajaí.
O estímulo recebido na escola do professor Manoel Ferreira de Miranda, ele também jornalista e escritor, fizera de Jayme Fernandes Vieira um apaixonado pela poesia e pelo jornalismo. A maior parte de sua produção literária, contudo, restou inédita, porque ele sempre fora avesso a publicar e com sua morte lamentavelmente tudo veio a se perder.
Em 1924, juntamente com o amigo jornalista e também literato Juventino Linhares, publicou o “Anuário de Itajaí para 1924”, obra marcante do jornalismo e da literatura local. Aí estão publicadas duas produções literárias de sua lavra. O saboroso conto “Valentias”, escrito de forma sucinta, resgatando o linguajar do homem simples do sítio, do antigo homem da roça, a incluir-se na temática regionalista. E “Trovas”, um conjunto de vinte primorosas quadras, que são excelente mostra da poética deste trovador inspirado.
Jayme F. Vieira foi também um intelectual engajado, progressista, que após a redemocratização do Brasil, pós-1945, participou ativamente das lides políticas, sendo eleito vereador à Câmara Municipal pelo antigo Partido Trabalhista Brasileiro.
Ele tinha, além disso, grande entrosamento no meio social da cidade, sendo homem de proverbial elegância pessoal e apurada maneira de se apresentar e de se comunicar com quem quer que fosse. Presidiu também a Sociedade Guarani.
Mas o mister que mais encantava Jayme Fernandes Vieira sempre foi o jornalismo, atividade da qual praticamente nunca se afastou por toda a vida, colaborador que era de diversos jornais da cidade. Desses, merece destaque o “Jornal do Povo”, em que, com o pseudônimo de “Zé Fumaça”, publicava trovas satíricas sobre cousas e lousas de Itajaí.
Está aí rico material literário e memorialístico da vida da cidade daqueles anos de 1950 e 1960, que merece ainda ser coligido e colecionado num volume para publicação, a bem da cultura de Itajaí e merecida homenagem ao ilustre intelectual, patrono da cadeira nº 15 da Academia Itajaiense de Letras.