No capítulo final do romance, a principal personagem, a jovem professora Clarissa, sozinha, numa noite de luar, olha através da vidraça da janela de seu quarto, a rua deserta da cidade encantada onde mora e imagina perceber o sonido leve, fluído, fugidio, de uma música ao longe...
Aqui em Itajaí, agora, também sozinha ante essa pandemia cruel, a cidade olha pelas vidraças de tantas janelas entristecidas, nas noites sem encanto, a relembrar o som dos vivazes concertos dos maestros Nilton Silva e Jair Maciel Rosa e sente que já se vão ao longe...
Porque os maestros partiram, ambos, vítimas do atroz vírus.
O operoso maestro Nilton Silva regia há vinte e cinco anos o Coral Vozes do Vale, de Itajaí, e também era o regente do Coral Vozes do Mar, de Balneário Camboriú. Ele se notabilizou por divulgar e ensinar a bela música clássica. Seus concertos de Natal marcaram época em Itajaí e assinalarão para sempre a sua memória.
O dedicado maestro Jair Maciel Rosa esteve à frente da regência do Coro da Associação Coral Villa-Lobos, desde que fora criado em 1974. O Coral Villa-Lobos foi o primeiro legado musical do Festival de Inverno de Itajaí, evento de arte e cultura criado no ano de 1973 por Antônio Augusto Nóbrega Fontes. A música era o primeiro maior programa em número de apresentações artísticas do Festival.
Essas apresentações musicais entusiasmaram cantores da cidade, que logo se organizaram em associação e já no ano seguinte o Coro da Associação Coral Villa-Lobos fazia o encerramento do 2º Festival de Inverno de Itajaí, com o maestro Jair Maciel Rosa a regê-lo, sob aplausos entusiásticos dos itajaienses.
Ganhava a cultura de Itajaí, engrandecia-se a boa música da cidade, com o primeiro legado do Festival de Inverno no campo musical e a maestria de Jair a dar a sua valiosa contribuição.
Ele regeu o Coral Villa-Lobos em todos os outros Festivais de Inverno, até que o extinguiram em 1983; assim como, em outros festivais e encontros pelo Brasil. Em Itajaí, sua presença se fazia constante nas apresentações de abertura do Natal e no tradicional concerto da “Noite dos Candelabros”, feliz sobrevivência de um programa vindo também da época dos Festivais de Inverno.
O quanto a música e a cultura de Itajaí perderam com essas partidas inesperadas, ainda não se teve suficiente tempo para avaliar.
Retomando Erico Veríssimo, no mesmo livro e capítulo: “E o silêncio fundo que de quando em quando se faz...”