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Coluna Fato&Comentário

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Edison d´Ávila é itajaiense, Mestre em História e Museólogo, mestre em Cultura Popular e Memória de Santa Catarina. Membro emérito do Instituto Histórico e Geográfico de SC, da Academia Itajaiense de Letras e da Associação de Amigos do Museu Histórico e Arquivo Público de Itajaí. É autor de livros sobre história regional de Santa Catarina

Semana santa e a cultura do povo


O tempo da Semana Santa, comemoração cristã que se inicia com a solenidade do Domingo de Ramos, a relembrar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém,  e termina com a festa da Páscoa da ressureição de Cristo, foi sempre um período rico de manifestações da cultura popular na beira-mar de Santa Catarina.

As tradições da religiosidade do povo já começam a se manifestar no domingo anterior ao início da Semana Santa, quando em muitas comunidades litorâneas os fiéis católicos  realizam as tradicionais procissões do Senhor Jesus dos Passos ou procissões do Encontro. Nestes tempos de pandemia, tudo tem sido cancelado.

  As imagens sacras de Jesus nos passos com a  cruz e da Virgem Dolorosa, saindo em procissões diferentes,  convergem para um determinado ponto, no qual com cânticos e sermão de pregador especialmente convidado, celebra-se o emocionante Encontro do Filho sofrente com a Mãe das dores.  A mais tradicional dessas procissões acontece em Florianópolis há cerca de 200 anos. Foi ela declarada já patrimônio imaterial da cultura catarinense.  A de Itajaí, em  2024, completará 100 anos.

A culinária desses dias da Semana Santa, em que eram recomendados  jejuns e  abstinência de toda carne que houvesse padecido morte, inclusive  peixes, é outro aspecto cultural e tem variedade de iguarias típicas da época. As mais conhecidas ficaram sendo a canjica, saboroso cozido de grãos de milho com leite e coco, e as amêndoas, preparadas com sementes de amendoim açucaradas.

Agora, por mais paradoxal que seja, visto o recolhimento e o respeito guardados nesse período santificado,  havia mesmo assim  nos dias da Semana Santa, de tempos atrás,  certas brincadeiras ou divertimentos de grande apelo popular.

Entre eles, estavam a malhação do Judas e as brincadeiras com o boi. O Judas significa, no imaginário popular, o ser desprezível em quem recaem as culpas dos males do povo. Num sentido mais largo, Judas pode ser qualquer pessoa incompatibilizada com a comunidade. Na madrugada do Sábado de Aleluia, o Judas é pendurado numa árvore ou poste da praça ou rua central da comunidade e ao soar dos sinos das nove horas, anunciando o romper da Aleluia, ou Alegria,  o boneco  é descido para ser  levado de arrasto pelas ruas e malhado. Em poucos minutos, o Judas é dilacerado, desfazendo-se em pedaços o desprezível traidor, justiçado dessa vez pela fúria santa da rapaziada excitada e feliz,  com  aplausos da assistência dos mais velhos.

Já as brincadeiras com o boi instalam um tempo festivo entre os  envolvidos. O boi solto e enfurecido investe contra tudo e contra todos, a correr animal e gentes por caminhos, quintais e matos,  fazendo-se as maiores estripulias. Esse brincar antigo com o boi, de uns anos para cá, degenerou-se em descabidas violências contra o animal, o que acabou resultando na proibição dessas brincadeiras. Bem se fez. 

 


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