Muito boa, extensa e recente reportagem do DIARINHO trouxe ao conhecimento público o grave risco que corre atualmente a casa em que funcionou, até bem pouco, a sede da Polícia Federal de Itajaí, na rua XV de Novembro, depredada e sob ameaça de destruição por vândalos e pelo abandono irresponsável do poder público, seu proprietário.
O histórico do que se passa com aquele prédio de valor histórico e arquitetônico é digno de um drama kafkaniano, conforme relatado na reportagem pelo responsável da área cultural da municipalidade. O município quer o prédio para si, para nele sediar o Conservatório de Música Popular, mas quando lhe foi oferecido, alguém na prefeitura não sabia disso e recusou. Pois agora, o município aguarda que a modorrenta burocracia oficial torne (ou não) a lhe fazer a oferta. Enquanto, isso, no abandono negligente, o imóvel é degradado e destruído.
Cumprirá ele a mesma sina do prédio dos Correios?
A ex-sede da Polícia Federal é hoje o único exemplar de arquitetura art-déco da cidade de Itajaí, posto que com alguns elementos clássicos, compondo um conjunto em estilo eclético. O ecleticismo na arquitetura significou a justaposição numa mesma edificação de elementos escolhidos em diferentes estilos. A obra edificada em 1934 é uma sólida, vistosa e elegante construção de dois pavimentos, que bem poderia chamar-se de palacete.
A casa é exemplar de residência dos grandes empresários do comércio de exportação e importação, bem como, de prestadores de serviços no porto de Itajaí do começo do século XX. A grande exportação de madeira fizera surgir na cidade uma classe burguesa endinheirada que buscou morar e viver com confortos.
Nelson Seára Heusi, que a mandara construir para residência de sua família, prosperou em seus negócios associados a despachos aduaneiros. Teve destacada atuação política como vereador e presidente da Câmara Municipal e sempre foi ligado às atividades sociais e ao esporte, notadamente ao hipismo, tendo inclusive mantido por longos anos um haras próprio.
Não se encontrou registro que indicasse a autoria do projeto arquitetônico da construção. Nas plantas baixas existentes no Arquivo Público de Itajaí, que integraram o processo de licenciamento da obra em 1934 pela prefeitura de Itajaí, há espaço para tal indicação. No entanto, o espaço se encontra em branco. Tudo leva a crer, mesmo assim, que o autor desse projeto arquitetônico tenha sido profissional técnico de grande gabarito, atualizado com estilos e padrões de arquitetura em voga no Brasil das primeiras décadas do século passado, quando se fazia a transição do neoclássico para o art déco.
Embora intervenções externas e internas feitas posteriormente, sem cuidado com a proposta da arquitetura de origem, tenham ocasionado algumas alterações, no entanto, a elegante construção guarda muito da sua beleza arquitetônica original e imponência visual. É valioso registro artístico e histórico, que deve ser preservado e protegido logo; antes que se perca. Com a palavra, o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural!