Antes, o ciclo de festas populares natalinas tinha início em 6 de dezembro, Dia de São Nicolau. O santo amigo das crianças e provedor de presentes, de quem, dizem, originou-se a figura do Papai Noel, tinha seu dia festejado com a criançada a fazer “ninhos” ornados com ervas e flores, nos quais contava ganhar balas e outras guloseimas. Esse mesmo costume era repetido no Dia de Santa Luzia, 13 de dezembro, quando também se faziam iguais “ninhos” e se ganhavam os mesmos bombons e doces. Antes de surgirem balas, doces e chocolates, ganhavam os pequenos ovos de galinha cozidos e coloridos; daí porque se faziam “ninhos”. Associar São Nicolau a presentes é costume quase universal. Contudo, a mesma associação à Santa Luzia parece ser uma tradição muito regional, da cultura popular de base luso-açoriana.
Afora esses entretenimentos infantis, havia, sobretudo, entretenimentos populares, que começavam em dezembro e iam até o Dia dos Santos Reis, comemorado a 6 de janeiro, os grupos com “bois-de-mamão” ou “paus-de-fitas” e as cantorias de “ternos-de-reis” e de Santo Amaro. Esses grupos, acompanhados de elevado número de homens, mulheres e crianças, visitavam casas de famílias, exibiam-se em números de danças e cantos, recebendo sempre boa acolhida e gratificada homenagem.
Os “ternos-de-reis” e os “bois-de-mamão”, em especial, eram os folguedos preferidos da época natalina. Existe “boi-de-mamão” em todo o Brasil com diferentes designações, mas sempre a mesma brincadeira. No entanto, a bernúncia, com sua bocarra, assustando mulheres e engolindo crianças desprevenidas, só existe no “boi-de-mamão” catarinense. Segundo o folclorista Nóbrega Fontes, foi em Itajaí que surgiu a primeira bernúncia e ficou definitivamente incorporada ao folguedo de todo o litoral de Santa Catarina.
Essas apresentações se constituíam em verdadeiras performances ao ar livre, em que artistas e plateia vivenciavam um clima lúdico, divertido e prazeroso.
Em verdade, esses eventos culturais, de bases folclóricas e também religiosas, constituíam-se em rituais de passagem, que o Natal significa, no solstício do verão. O boa-nova do nascimento do Menino Jesus, anunciado pelas cantorias dos “ternos-de-reis”, refazia as esperanças da comunidade num futuro melhor, numa sociedade mais justa, apregoados pelos valores do Cristianismo.
“Lá do céu desceu um anjo,
Veio na terra avisar.
E respondeu uma ovelha:
Cristo nasceu em Belém!”