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Arquitetura, Porto Alegre e Barcelona


Toda pessoa que veja o Museu Iberê Camargo de Porto Alegre, projetado pelo genial Álvaro Siza, dar-se-á conta, imediatamente, de estar ante magistral obra arquitetônica e um edifício extraordinariamente bem construído, a partir de um pressuposto superior ao de um prédio convencional. Porém, a efetiva razão de sua qualidade é que ela advém da atitude das pessoas que participaram do processo.

Em recente conversa com o arquiteto José Luiz Canal, responsável por sua impecável execução, ele confirmou algo que se deve esperar no Brasil e em qualquer lugar: o custo de construir bem não é necessariamente superior ao de construir mal. Uma arquitetura bem projetada e bem edificada não só pode ser menos onerosa como mais econômica e socialmente muito rentável.

Barcelona é um bom exemplo nesse aspecto da qualidade, que pode ser útil neste momento em que o Brasil realiza grandes obras para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Considero bastante positiva a aposta que a cidade espanhola fez na planificada transformação estratégica e de qualidade. Todo o conceito de urbanismo que permeou sua transformação nasceu com o trabalho de Cerdá para a primeira expansão (Eixample) da cidade, onde a insistência na qualidade tem sido promovida e apoiada nas últimas décadas pela administração pública e a sociedade.

Tão inspiradora quanto o caso de Barcelona é a experiência do Cais da Mauá de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, que recupera para a cidade uma área pública de muita importância para a sua transformação e que fará com que o centro entre em contato com o cais do rio Guaíba. A capital gaúcha aproveita inteligentemente a circunstância de ser sede da Copa do Mundo para potencializar a capacidade regeneradora de uma operação urbana.

A reincorporação ao centro da cidade de um terreno inacessível até agora para os cidadãos é o objetivo fundamental do projeto. A nossa proposta para a transformação do porto, juntamente com o grande arquiteto brasileiro Jaime Lerner, foi feita para uma concessão, mas pensando exclusivamente no interesse público, criando um pedaço de cidade para todos e pensando acima de tudo no futuro. Esperamos que a evidente priorização do interesse público, a profunda reflexão sobre a multiplicidade de atividades, o desenho dos novos edifícios e a proteção do patrimônio façam do Cais da Mauá uma nova referência de revitalização de frente portuária capaz de superar, se não em volume, ao menos em qualidade conceitual e arquitetônica ao não muito distante e bem-sucedido exemplo do Porto Madero, na Argentina.

Impressiona a alguém, como eu, que tenha trabalhado em muitos projetos similares na Espanha, onde com frequência as transformações políticas tornam impossíveis projetos importantes, o quanto em Porto Alegre todos os órgãos públicos alinharam-se, independentemente da sua orientação político-partidária, para não perder uma oportunidade excepcional. Assim, em poucos meses deverão ser iniciadas obras de um projeto que recorda algumas das transformações de Barcelona dos últimos anos, a começar pelo essencial apoio popular.

*O autor é diretor da b720 Arquitectos, com escritórios na Espanha (Barcelona e Madri) e no Brasil


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