Diz aí, Glauco Piai!
"Eu nunca ia matar ninguém. Eu sou ex-padre, missionário"
O empresário Glauco Piai foi entrevistado pela jornalista Fran Marcon e pelo colunista JC. Glauco foi o centro de um escândalo na última eleição em Balneário Camboriú.
Franciele Marcon [fran@diarinho.com.br]
O senhor foi detido pela GM com R$ 100 mil em dinheiro e foi o centro de denúncias que impactaram a reta final das eleições do ano passado. Esse dinheiro apreendido abasteceria algum esquema de Caixa 2?
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Glauco: Absolutamente não. Primeiro que foi uma prisão ilegal, feita pelo ex-prefeito Fabrício [Oliveira], que está em casa agora lambendo ferida porque perdeu a eleição ...
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Glauco: Absolutamente não. Primeiro que foi uma prisão ilegal, feita pelo ex-prefeito Fabrício [Oliveira], que está em casa agora lambendo ferida porque perdeu a eleição e nós ganhamos. Eu torci para os Pavans ganharem. Da mesma forma que eu gosto do Robison, por uma relação pessoal. Esse dinheiro estava sendo usado para a folha de pagamento de um grupo de funcionários nossos porque eu tenho uma incorporação junto com o Pavan, com a Leone Construtora. [Esse dinheiro estava sendo levado para a folha de pagamento desses trabalhadores? Esse dinheiro era seu ou era da incorporadora?] Era meu enquanto estava comigo. Estava sendo levado para a incorporadora. Agora está lá na mão da polícia, espero que me devolvam com juros e correção monetária. Junto com meus dois celulares. [O senhor falou “nós ganhamos”. O senhor estava trabalhando na campanha?] Eu torci por eles. Aqui eu não me meto em política. Eu sou do PT lá de São Paulo, sou ex-dirigente do PT. Eu não me meto em política aqui porque eu sei que aqui as coisas são mais difíceis. Mas, graças a Deus, o PL voltou para casa em Balneário Camboriú. Aqui também vai voltar porque eu estou me esforçando para tirar o Robison Coelho do PL e trazer para o PSD do [Gilberto] Kassab. Nós vamos mandar o PL para casa. [Existe alguma conversação nesse sentido com o prefeito Robison?] Eu pedi para ele. Ele falou assim: “qualquer dia a gente fala sobre isso, Glauco”. Eu falei com ele e com o assessor dele. Ele falou: “um dia a gente conversa sobre isso”. A gente está se esforçando para fazer Santa Catarina voltar ao que era. Aqui nasceram as comunidades eclesiásticas de base, no oeste catarinense nasceu o PT e não dá para um estado tão bonito ser tão direitista e preconceituoso da forma que está sendo.
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Corre nos bastidores que um motorista seu furtou o seu celular e saiu “leiloando” o conteúdo. Qual a sua versão desses fatos?
Glauco: É verdade. Ele roubou o celular. Bandido, safado e sem-vergonha, agora está foragido. Ele vendeu para o Fabrício. O Fabrício pegou e manipulou o conteúdo, porque o conteúdo do celular roubado não tem nem valor legal. Ele manipulou o conteúdo e saiu falando bobagem. [O material divulgado na época não é verdadeiro?] Papagaiada, papagaiada... Pegaram só para manipular, mas não adiantou nada. Porque perderam a eleição e foram para casa. O Periquito foi para casa, o Fabrício foi para casa, e vão ficar lá enquanto eu estiver aqui. [Qual foi o valor da venda do celular?] O meu novo motorista falou que foi R$ 300 mil. [O senhor falou que seu motorista está foragido, há um mandado de prisão contra ele?] Porque está todo mundo atrás dele, porque ele foi mais sujo que pau de galinheiro, desculpe o termo.
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Num dos áudios vazados sugere-se que o senhor teria envolvimento com a morte de uma pessoa. Esse áudio é real?
Glauco: Isso não existe, imagina. Cadê o corpo? Cadê o corpo? Para ter morto tem que ter um corpo. Isso não existe. Eu nunca ia matar ninguém. Eu sou ex-padre, missionário. Eu nunca levantei a mão para ninguém, nem para a minha cachorra. Eu não tenho nenhum antecedente. Agora tenho, né? Porque Fabrício mandou a guarda metropolitana me prender e manipulou a guarda metropolitana. Tem um próprio agente da guarda metropolitana que fala: “a nossa guarda foi usada para questões políticas, para manchetes de jornal. A gente estava indo lidar com um bandido. Encontramos um senhor, em uma Land Rover, que não apresentava perigo, que não tinha arma....”
"Eu estou me esforçando para tirar o Robison Coelho do PL e trazer para o PSD"
Como está o inquérito que foi aberto para apurar a apreensão do dinheiro? Já prestou depoimento?
Glauco: A advogada de São Paulo está acompanhando. Dei depoimento na hora que o delegado me prendeu. O próprio delegado falou: “mas qual é o crime que tem aqui? A Land Rover dele está em ordem. A carteira de motorista dele está em ordem”. Aí os guardas metropolitanos: “ele está com R$ 100 mil”. O delegado falou: “mas é 100 mil euros? 100 mil dólares? Não, R$ 100 mil. Não é crime andar com o dinheiro”. Aí o guarda: “ele tem que provar a origem e o destino”. Aí eu falei: à Receita Federal quando fizer minha declaração de imposto de renda, não para a polícia do Fabrício.
Qual a sua relação com os prefeitos na região?
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Glauco: Boa. Eu quero ser amigo de todo mundo. [Mas antes disso, qual era a sua relação com eles? Com o Fabrício? Com o Robison? Com o Liba? O senhor conhecia essas pessoas?] Não. [O Pavan?] O Pavan, sim. Eu tenho uma filiação com a Leone, que é a empresa dele. [O senhor disse que quer trazer o prefeito de Itajaí para o PSD. Em Santa Catarina, a maior liderança é o João Rodrigues, que se lançou inclusive candidato. Ele é bolsonarista como Jorginho...] Vou fazer o quê? Mandar o Kassab ligar para ele, dar uma centralizada nele, para ele entrar no trilho. Talvez seja só uma questão para ganhar voto aqui no Estado. Eu sei que ninguém é como os petistas. Ninguém é firme na luta, igual a nós somos. [O senhor tem filiação no PT de Itajaí?] Estou filiado aqui. [Por que o PT não teve candidato na eleição?] Falei isso para o presidente: é uma vergonha a gente não ter candidato. [Qual a relação do senhor com o Décio Lima, presidente estadual do PT de SC?] Eu acho que ele não gosta muito de mim. Eu também não vou muito com ele.... [Por qual razão?] Porque não era para o PT estar fraco desse jeito aqui. Não dá para o cara ser presidente porque criou a filha do Lula. Ou porque deu emprego lá em Blumenau para a filha do Lula. A gente não é assim. Provavelmente eu vou sair candidato a deputado federal pelo PT de Santa Catarina. Acho que ganho porque sou bom de discurso. Só que tem que rodar o estado.
Como o senhor analisa a federalização do Porto de Itajaí?
Glauco: Já voltou a funcionar. Já tem navio entrando. Antes estava parado. Porto é do governo federal. O prefeito Arnaldo Schmitt, num gap da Constituição, conseguiu municipalizar o porto. Era o único do Brasil municipalizado. Isso não existe. Porto é uma questão federal. [Era municipalizado e que deu bons resultados, até o governo Bolsonaro entrar e iniciar um processo de privatização sem tempo hábil para acontecer...] O governo Bolsonaro queria vender e deu ordem para sucatear o porto, para vender mais barato e alguém do esquema dele comprar. [Quem ia comprar?] Isso eu não sei. O governo federal assumiu e agora está funcionando... [Começou a funcionar porque a JBS começou a operar...] E quem colocou a JBS?! Você não vai me falar que foi o município... [Nesse processo de federalização, a família Lima chegou a anunciar o advogado João Paulo para a superintendência. Por que ele não assumiu?] Você não me perguntou a força do Décio? Está aí a resposta. Cadê essa força? Ele já tinha anunciado o [Marcelo] Sodré. Não durou cinco minutos o anúncio. Eu não tô brigando, eu não tenho nada a ver com o Décio, nem com a família Lima. Tô nem aí pra eles. Depois anunciou esse advogado, que nem tá no PT. Eu quero saber quem avalizou a ficha de filiação dele.
"Fabrício manipulou o conteúdo, porque o conteúdo do celular roubado não tem valor legal"
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O senhor falou que já andou com mais dinheiro, mas R$ 100 mil chama atenção para mim, para o JC, e talvez pra grande parte das pessoas que estão assistindo essa entrevista. Qual a sua profissão? Do que o senhor sobrevive? De onde vem o seu dinheiro?
Glauco: Eu sou jornalista, especializado em economia. Eu faço projetos de cidades inteligentes. Eu faço plano diretor de smarterização... [O senhor disse, também, que é empresário e tem uma incorporação com o Pavan...] Isso, mas a incorporação não saiu do papel ainda. Precisa fazer a fundação, levantar a superestrutura, fazer o fechamento. [Mas já estão circulando valores, tanto é que estava levando dinheiro pra pagar...] Porque para você fazer a fundação, para você contratar as pessoas, precisa de dinheiro. [Qual o seu último trabalho com relação a cidades inteligentes?] Em Brusque, com o Paulo Eccel e aquela cidade pra baixo de Florianópolis, do lado direito, Içara. [Atualmente o senhor trabalha com alguma prefeitura aqui de Santa Catarina?] Não, nem quero. [Trabalha em São Paulo?] Sim, eu assessoro duas grandes construtoras. [Com interesses aqui em SC?] Mas que não querem mais trabalhar aqui, por causa do que aconteceu comigo.
Corre que sua passagem à frente da Itajaí Participações foi traumática e que o senhor foi afastado a pedido de outros membros do conselho. Como o senhor chegou e saiu da empresa pública?
Glauco: Eu sentei com o Volnei [Morastoni] para conversar sobre um projeto ítalo-brasileiro, que eu sou italiano, da construção de hospital de queimados. Aqui, quando você se queima, vai pra Porto Alegre, sobe pra Curitiba, ou morre queimado. Eu falei: eu vou trazer recursos. O projeto do Renzo Piano, que é o Oscar Niemeyer internacional, que fez projeto do aeroporto de Tóquio, para nós construirmos um hospital ítalo-brasileiro. Ele virou e falou: “tô precisando de um presidente pra Itajaí Participações. Você me ajuda?" Eu disse: claro. Fui lá e nos 100 primeiros dias de governo ele chamou e falou assim: “o Conselho inteiro está contra você”. Eu falei, lógico, o senhor só colocou gente de direita no Conselho. O único que tá do meu lado é o Thiago Morastoni. [O Thiago assinou o documento e o ex-reitor Univali, que também tava no Conselho, o Provesi, assinou pedindo a sua saída...] Todo mundo assinou. Porque nós estamos no estado, que é um pouquinho diferente da minha lógica. Eu queria botar a turma para trabalhar e parece que a turma não é muito chegada nisso...
Já se passaram quase duas décadas do governo da Marta Suplicy, no qual o senhor trabalhou. Neste ínterim o que o senhor fez? Com quem trabalhou?
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Glauco: Com o Haddad. Eu fiz vários projetos para lá, construímos quatro CEUs, eu estava mais na articulação e nos bastidores, porque eu estava já na iniciativa privada e não queria misturar as coisas. [E hoje está na iniciativa privada ou na pública?] As coisas se misturam. [Essas construtoras de São Paulo são construtoras ligadas à esquerda?] Essas construtoras de São Paulo falam assim para mim: “Glauco, antigamente só megaconstrutoras trabalhavam em São Paulo, essas gigantes. Quando vocês entraram no poder, vocês pegaram uma obra de R$ 200 milhões e dividiram em 10 obras de R$ 20 milhões. Aí a gente passou a ter como trabalhar. A gente cresceu por causa de vocês, senão estavam eles mandando até hoje.” Isso que a gente do PT faz. A gente dá oportunidade para quem nunca teve oportunidade.
O senhor tem negócios hoje públicos com as prefeituras de Balneário Camboriú, Camboriú?
Glauco: Não tenho, não preciso, não quero. [Então por que o senhor acha que ganhou a eleição?] Porque não é o Fabrício e não é o tal do Piriquito. São os dois Pavans. [O Piriquito, inclusive, entrou com uma denúncia também contra o senhor. O senhor sabe como é que está essa denúncia?] Não vai dar em nada. O Ministério Público não acolheu, não vai dar em nada. Só escreveu a papagaiada lá. [Por que o senhor disse que o prefeito Fabrício foi pra casa e não volta mais?] Porque agora virou pessoal... O cara manda te prender, para usar politicamente...
Na época da eleição o DIARINHO o procurou para dar sua versão dos fatos e o senhor não quis falar. Por que mudou de ideia agora?
Glauco: Porque eu estava estressado, estava cansado. Eu estava lá em São Paulo e tinha que ser uma entrevista pessoal. Hoje eu vim e estou aqui.