Cultura
Último sebo da região fecha as portas após 22 anos de história
Livrusado, de Navegantes, tem acervo de 40 mil obras e história marcada por amor à leitura
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Quem gosta de ler e mora na região terá mais uma perda este ano: os proprietários do sebo Livrusado anunciaram o fechamento da loja até o final de junho. O comunicado é feito a cada um dos compradores pelos proprietários Rubens e Sandra. E como não poderia ser diferente, primeiro os clientes estampam um ar de perplexidade em suas faces e depois questionam os motivos. Muitos dos clientes, inclusive, mantêm elos de amizade com o casal.
É comum se entrar no local nas manhãs de sábado e encontrar figurinhas já carimbadas acomodadas nos pequenos banquinhos de madeira se deliciando com o acervo disponibilizado, de mais de 40 mil exemplares. São os tradicionais “ratos de sebo”, que sempre acabam garimpando coisas muito boas. O administrador Cláudio é um deles. “Nunca fico com as mãos abanando. Frequento o sebo há mais de 10 anos e sempre encontro preciosidades, principalmente na área de filosofia, que amo.”
Com a professora Antônia Soares não é diferente. “Sempre saio com algo bom, principalmente títulos da literatura nacional e estrangeira. Já comprei aqui muitas obras do Gabriel Garcia Marques, Llosa, Neruda, Lígia Fagundes Telles, a incríveis livros do Fernando Pessoa e seus heterônimos”. O que Antônia não teve foi a mesma sorte de um cliente de Rubens, que conseguiu garimpar em exemplar do escritor peruano Mario Vargas Llosa, Nobel de literatura em 2010, autografado pelo autor.
Outro caso especial relatado pelo comerciante foi a venda da obra Mein Kampf (em português: Minha Luta), que é o título do livro de autoria de Adolf Hitler, no qual ele expressou suas ideias antissemitas. Rubens encontrou o exemplar, de 1936, em uma empresa de reciclagem e a preciosidade acabou sendo o livro mais caro já comercializado.
E, além dos adeptos da literatura, tem os estudantes que vão em busca da bibliografia proposta pelas universidades a preços acessíveis. A clientela do sebo conta ainda com crianças que semanalmente passam pra comprar suas revistas em quadrinhos e por prendadas senhoras que compram suas revistas de artesanato e acabam levando também o material necessário, que compram na loja de aviamentos que funciona ao lado.
A lojinha foi uma alternativa que o casal buscou para incrementar as vendas e conseguir arcar com as despesas fixas. Porém, sem sucesso. “Nós jamais fecharíamos o espaço se ele fosse sustentável. Nos últimos tempos o que faturamos não paga o aluguel e os salários das duas funcionárias. Estamos abertos de teimosos e por muito amor a tudo isso, pois há cinco anos trabalhamos no vermelho”, diz Sandra.
E, se servir de consolo para alguém, todos os produtos estão com 20% de desconto até junho. Para o último mês, Rubens deve fazer uma promoção ainda maior.
Sonho antigo
O bancário aposentado Rubens Corrêa sempre foi um adepto da literatura e, como ele se autodefine, também um “rato de sebo” nos tempos em que morou em Blumenau ...
 
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