A entrevista completa, em áudio e vídeo, você confere no portal DIARINHO.net e também em nossas redes sociais. As imagens são de Fabrício Pitella.
DIARINHO - São 10 anos de espera pela conclusão do centro de inovação. O projeto não perdeu o timing ou ele continua atual?
Emerson: Eu digo que não só a gente não perdeu o timing como está sendo inaugurado no timing certo. Acho que os fatos que aconteceram para que ele não pudesse ter sido inaugurado antes contribuíram para que, de fato, a gente entregasse num momento oportuno. [Por que oportuno?] Maturidade do nosso ecossistema. A gente precisava fazer um trabalho antes de ativação do ecossistema. Para que as coisas funcionem bem, tem que ter um hardware, que seria o prédio físico, e o software. O software, que é todo esse ecossistema de inovação, na nossa região, hoje, ele está ativado. Ele está funcionando. Eu consigo conectar os dois de uma maneira muito mais suave, muito mais fácil e agregar mais valor. Talvez se tivesse sido inaugurado antes, teria sido de forma precária e sem entregar toda a potencialidade que a gente imagina.
Vamos inaugurar, se não com 100% de ocupação, muito próximo dos 100%”
DIARINHO – Como esse centro tecnológico e de inovação vai atuar?
Emerson: A ideia é que ele seja ocupado, majoritariamente, por empresas nascentes, que a gente chama de startups, com o objetivo de fomentar o empreendedorismo e a inovação. Para que a inovação aconteça, precisa-se de alguns atores. A gente chama de tríplice hélice. Eu preciso ter, de alguma forma, o governo participando, sendo um ator de fomento à inovação. Outra hélice importante é a academia. O nosso centro, diferente dos outros 15 do governo do estado, ele nasce com a presença de pelo menos três a quatro universidades. Nós temos a Univali, que estará lá dentro com laboratórios. Nós temos a Udesc, que estará lá dentro com laboratórios e programas. Nós temos o IFSC e a UFSC que vão dividir o mesmo espaço. Um ambiente perfeito do ponto de vista acadêmico. A lei nos permite dar gratuidade de espaço apenas nesse caso: para as instituições de ensino. A contrapartida é entregar o serviço para a sociedade. Falei do governo, falei da hélice das instituições de ensino, falo da hélice dos empresários. Sem esses três atores, a mágica não acontece. As startups seriam o braço empresarial que a gente quer que esteja lá dentro. Lutei muito para salvar o espaço, por exemplo, reduzir um pouco o espaço da academia para aumentar o espaço para os empresários. Quanto mais empresas a gente tiver lá dentro, mais vai estar realizando a nossa missão que é conectar estímulos à inovação e ao empreendedorismo. Há um edital aberto: 16 empresas já submeteram, 10 já foram selecionadas, já tem lá sua sala. As outras seis estão em análise. A gente não tem mais muito espaço disponível. Vamos inaugurar, se não com 100% de ocupação, muito próximo dos 100%.
DIARINHO – A UFSC, Udesc e a Univali estão entre as melhores universidades da América Latina e fazem parte do Elume. O que elas oferecerão à comunidade?
Emerson: O governo do estado lançou um guia para a implantação do centro de inovação. A gente tentou se manter o mais fiel possível a ele. Dentro dele tem um conjunto de funções e subfunções que se espera do centro. A soma disso tudo dá aproximadamente 56 funções. Por exemplo, eu tenho um projeto da UFSC para trabalhar a melhor idade, inclusão digital para vovôs e vovós. Laboratório Social, a Univali vai abordar a questão da inovação para a área social. Várias funções serão executadas. Mas uma das principais é a formação de talentos. Uma das funções que é importantíssima no eixo inovação é a incubação de empresas. Essa é uma espécie de consultoria que vai ser oferecida pela Univali. A gente costura parceria Univali mais Sebrae com a metodologia Miditech - metodologia já bastante consagrada no ecossistema de incubação. A ideia é que as empresas que ali estejam, não só as instaladas fisicamente, mas as que queiram participar desses programas, possam, de alguma forma, usar todo esse benefício, toda essa cadeia a seu favor, para que elas possam crescer de uma maneira estruturada, para que a gente não tenha aquele histórico ruim de que a maioria das empresas que abre no Brasil fecha depois de dois anos.
O Marco Regulatório das Startups permite hoje a contratação sem passar por aquele processo burocrático de edital ou licitação”
DIARINHO – O espaço vai dispor de ambientes para funcionamento de startups e para laboratórios das melhores universidades de SC. Qual o critério para uma empresa ser aceita pra ter sua sede no centro?
Emerson: Um dos critérios para se instalar fisicamente é submeter um edital que está disponível no nosso site, na aba “Seja Elume”. Ele vai ter uma sala, vai pagar um aluguel. A gente tentou colocar um valor de aluguel mais baixo para poder estimular as empresas a irem para lá. Nós teremos outros programas que também vão permitir às empresas se instalarem. Eu não posso ficar limitado aos 16 postos. Preciso criar mecanismos e programas que possam receber outras empresas. Nós fechamos na semana passada o edital para a seleção de uma empresa de coworking. Ela vai operar um espaço para rodar os programas. Essa empresa vai pagar por aquele espaço e eu rodo os programas ao mesmo tempo ela pode trazer outras empresas para a sala de uso compartilhado. [Vocês colocaram um aluguel mais acessível, qual é a média de valor?] A gente cobra R$ 30 o metro quadrado da sala. Tem salas a partir de 25 metros quadrados, que a pessoa paga R$ 700 de aluguel. Tem uma série de benefícios para essas empresas, além de ter um aluguel mais barato, a gente colocou alguns benefícios de locação de auditório, de locação de salas de treinamento, locação de equipamentos, uso dos laboratórios.
DIARINHO – Como o centro de inovação pode melhorar o ambiente de novos negócios ligados à tecnologia em Itajaí e região?
Emerson: O Centro Regional de Inovação não é à toa que congrega os 11 municípios da Amfri. A gente está, através dos laboratórios, trazendo o City Lab, que é um laboratório de cidades. A sociedade pode se beneficiar porque os laboratórios estão sendo constituídos para estimular pesquisa e desenvolvimento de soluções, sejam de produtos, serviços, melhoria das condições das cidades, saúde, educação, mobilidade, enfim, por todos os problemas das grandes cidades, grandes centros. A gente vai estimular muito, através da academia, para que as empresas queiram desenvolver soluções. O Marco Regulatório das Startups permite hoje a contratação de startups sem passar por aquele processo burocrático de edital ou licitação. Existe uma lei federal que permite a qualquer órgão público contratar soluções de startups diretamente. Lógico, pode-se melhorar as legislações dos municípios. Criar o que a gente chama de “sandbox regulatório”, ou seja, em uma determinada área qualquer a empresa pode apresentar o seu produto, testar. Um dos laboratórios que a gente está tentando desenvolver lá dentro, ele ainda não está confirmado, mas é o de segurança, segurança física e de mobilidade também. Envolve segurança de trânsito, envolve leitura de placa, reconhecimento facial. Segurança para o próprio prédio que vai ser um case. Dentro desse laboratório quero trazer todos os prefeitos, todos os embaixadores de inovação, para que eles entendam e conheçam as tecnologias que estão disponíveis e vejam de que forma aquela tecnologia pode ser levada para os seus respectivos municípios.
“Nós temos convicção de que a matriz econômica da região será mudada, assim como foi em Florianópolis”
DIARINHO – Com que orçamentos o Elume se manterá? Nessa parceria há o envolvimento da Amfri, da prefeitura e governo do estado?
Emerson: Nos primeiros dois anos, principalmente, é natural, dos outros 15 centros que nós temos espalhados pelo estado, que o governo municipal aporte recursos. Nós estamos construindo um orçamento para que o mais rápido possível não dependa mais do governo municipal. Hoje nós temos um orçamento para a vigilância, para a limpeza, para manter aquele prédio. E quem está pagando por essa conta é o município de Itajaí. Hoje nós temos um contrato, um convênio com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, para ser o gestor daquele prédio. A Itajaí Participações foi contratada para ser a gestora. O recurso da secretaria mantém a manutenção. Por outro lado, como não quero ter essa dependência, nesse momento a gente está começando a fazer todo um road show pelas empresas da região para que patrocinem o centro, para que queiram vincular as suas marcas lá dentro. Eu tenho também patrocínio para o evento de inauguração, mas esse é pontual. Os patrocínios vão ser uma fonte de renda importante para o Elume, para que ele se mantenha e cresça. Parte desse pagamento pelo serviço que uma empresa vai consumir lá dentro fica pro Elume. Ela fica pro Centro Regional de Inovação. Também é uma forma de viabilizá-lo financeiramente. Vou dar um exemplo concreto. Existe um programa da Acate de Florianópolis que é o Link Lab. É um programa de inovação aberta para grandes corporações. O Fort, por exemplo, que é daqui da nossa região, faz parte do Link Lab em Florianópolis, porque não tinha aqui, agora vai ter. A gente tomou um cuidado, quando criou o centro por força de lei, de dizer que qualquer receita extraordinária tem que ser reaplicada no centro. Isso dá uma segurança de que a gente estará sempre alimentando o ecossistema. Outra coisa que tomamos bastante cuidado é para que sofresse menos, vamos dizer assim, interferência política. Nós criamos um Conselho Técnico Deliberativo. Tem 16 membros nesse conselho e as instituições indicaram as pessoas. Eu tenho aqui o IFC de Balneário Camboriú, Rotary, OAB, Acibalc, ACII, o governo do estado, a Amfri... Isso para que a gente se blindasse um pouco dessas pressões políticas que existem às vezes.
“Hoje nós temos uma carência absurda de profissionais da área de tecnologia. O ticket médio dessas pessoas é elevadíssimo, ou seja, uma pessoa capacitada na área de tecnologia tem grandes chances de ser a maior renda da família”
DIARINHO - O Elume fará parceria com as cidades da Amfri? Já existem projetos ? Alguma área específica?
Emerson: Dentro da Amfri temos algumas personalidades jurídicas, uma é o Consórcio Multifinalitário da Cim-Amfri. Sabendo da maturidade do nosso ecossistema, que estava num processo crescente ainda, sabendo que a gente queria ser um centro regional de inovação e tendo feito um diagnóstico, uma análise de forças, fraquezas, ameaças, oportunidades, nós desenhamos um plano de ação mesmo antes de ter a obra pronta. Há um programa dos Embaixadores de Inovação. Esse programa foi acolhido por 10 das 11 cidades e passou por uma indicação dos prefeitos de dois embaixadores por município. Funcionários públicos, preferencialmente que os dois sejam concursados, mas obrigatoriamente que pelo menos um seja concursado. Numa parceria que envolveu a Univali e a La Salle, de Barcelona, desenvolvemos todo o conteúdo programático. A gente precisava que esses embaixadores estivessem no mesmo patamar de conhecimento. Esse programa foi aprovado, os prefeitos aportaram recursos no consórcio e o consórcio contratou a execução junto à Univali, junto à Universidade de La Salle, de uma formação de 40 horas. […] É O Pacto Regional Pela Inovação. A gente sabe que ano que vem tem eleição. Queremos que as pessoas assumam um compromisso pela inovação na região. Abaixo desse pacto existem outros projetos que nós priorizamos e estamos levando para os prefeitos através do Consórcio Multifinalitário da Amfri. Projetos específicos na área da educação, de laboratórios, de investimentos, de incentivos fiscais, porque foram esses os projetos que durante essa jornada a gente entendeu como prioritários para a região. No dia da inauguração, os embaixadores apresentarão esses projetos para os prefeitos. [Essa carta de compromisso seria também uma garantia que, mudando o governo nas eleições, o projeto não volte à estaca zero? Temos 11 cidades na Amfri e, se não estou enganado, somente duas têm possibilidade de reeleição ano que vem…] O pacto serve para isso. A governança que a gente vai estabelecer em cima dele é que vai definir se ele vai sofrer interferência política ou não. Importante dizer que ele é um pacto do governo, quem assina esse pacto são todos aqueles atores da quádrupla hélice: empresários, governantes, academia e sociedade. São eles que vão garantir maturidade e que ele vai ser perene. […] Nós temos total interesse que outros prédios iguais a esse, ou maiores ou menores, sejam levados para as cidades, se tiver demanda por inovação em Navegantes, Camboriú, Balneário… Nós seremos um incentivador para que no futuro tenha diversos hubs de inovação na região. Nós temos convicção de que a matriz econômica da região será mudada, assim como foi em Florianópolis. Se você olhar para Florianópolis alguns anos atrás, a principal matriz econômica era o turismo. Hoje não é mais, é a inovação. São empresas de base tecnológica. Aqui vai acontecer desta forma. Estamos há 10 meses sem movimentação no porto, temos uma dependência forte do porto e estamos sentindo os impactos disso. Se eu diversificar, eu reduzo a exposição a esse risco. A inovação vai transbordar para o turismo, para a saúde... Ela promoverá uma mudança e um aumento no faturamento de todo mundo, na capacidade de geração de riqueza em todos os segmentos.
“Temos que preparar nossa região para que ela continue crescendo. Para que não sofra com os gargalos típicos de crescimento”
DIARINHO - A Rede de Centros de Inovação de Santa Catarina, que promove a cultura de inovação e empreendedorismo no estado, capacitará pessoas para novos negócios? Como funciona o acesso a essa rede? Quem pode receber a capacitação ou contratar serviços?
Emerson: O governo se faz presente dentro dos centros principalmente através da Fapesc, Fundação de Amparo à Pesquisa e a Tecnologia. Através dos editais da Fapesc, tem diversas ações onde a sociedade pode se beneficiar. Vou dar um exemplo. Hoje nós temos uma carência absurda de profissionais da área de tecnologia. O ticket médio dessas pessoas é elevadíssimo, ou seja, uma pessoa capacitada na área de tecnologia tem grandes chances de ser a maior renda da família. Nós temos um programa que nasceu lá em Blumenau, que é o Entra 21, que foi ampliado pela Fapesc para todo o estado. Está rodando, inclusive, aqui em Itajaí. Forma jovens para o mercado de trabalho, sem custo, ou seja, de forma gratuita. Capacitando profissionais para o mercado, da área de tecnologia principalmente, a área de programação, e conectando com as empresas para que esses profissionais saiam já contratados. Esta é uma forma como a gente pode conectar, ou seja, a rede de centros se faz presente através dos cursos. O governo do estado tem estado bastante vigilante nesse aspecto porque esse desafio, esse gargalo de mão de obra não é nosso, é mundial. A gente não concorre mais só com São Paulo, não concorre com Florianópolis, a gente concorre com o mundo.
DIARINHO - Existem outros centros de inovação na região, como Blumenau e Joinville. Qual será o diferencial do Elume?
Emerson: As pessoas deveriam vir para o centro regional de Itajaí porque aqui nós vamos ter a presença da quádrupla hélice, que é fundamental para que esse ecossistema seja positivo. Fizemos um trabalho prévio, antes da inauguração, de olhar para o mercado e o que tem de melhor no mercado, chamar essas empresas para conversar e colocar elas lá dentro. Eu tenho que mostrar que serviços e conexões vão encontrar. Eu tenho que mostrar para um dono de empresa que ele pode querer investir seus recursos em capital de risco, em startups. Um capital intelectual e financeiro elevadíssimo na nossa região. Tem que fazer bom uso disso. Para que a gente se diferencie dos demais, a gente construiu uma rede muito forte. Nosso programa de Aceleração gravita por diversas camadas, vários parceiros que vão trabalhar talento, capital, programas de conexão, de mentoria, de laboratórios.
Raio X
NOME - Emerson Luís Pereira
NATURALIDADE - Rio do Sul
IDADE – 49 anos
ESTADO CIVIL - Casado
FILHOS – duas
FORMAÇÃO: Bacharel em Ciências Contábeis e Mestrando em Gestão, Logística e Internacionalização
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL: 9 anos de experiência em empresas internacionais de Auditoria Externa (Price Waterhouse Coopers, Deloitte e Ernst & Young) e 5 anos em auditoria interna em empresas de grande porte. Na BRF (Perdigão + Sadia), trabalhou nas funções de Auditoria, Controles Internos e PMO de Melhoria Contínua, responsável pela implantação de Centros de Serviços Compartilhados (CSC) na Argentina, Áustria e Emirados Árabes (Dubai). Como Gerente de Desenvolvimento Organizacional do CSC da Fiesc respondia pelo Escritório de Processos – BPM, Escritório de Projetos (PMO), Escritório de Conhecimento (KMO), Escritório de Governança de Dados (DGO), Central de Atendimento SUSERV – CAS (0800) e pelo modelo de gestão por processos adotados por todas as gerências do Centro de Serviços Compartilhados. É o diretor-executivo do Centro Regional de Inovação – Elume, diretor para Assuntos de Governo da Rede Catarinense de Inovação (Recepeti), diretor-presidente da Itajaí Participações S.A., Investidor Anjo na empresa Conmaket Mercado de Autoatendimento para condomínios empresarias e residenciais e Founder da Brazilian Phytocare (empresa que atua na área de cannabis medicinal).
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