Saúde
Campanha informa comunidade trans sobre tratamento hormonal no SUS
Falta de informação leva transexuais à automedicação. Espera por procedimentos pode chegar a 10 anos
Juana Dobro [editores@diarinho.com.br]
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) lançou nesta semana uma campanha para levar à população trans as informações sobre como acessar a terapia hormonal para transição de gênero pelo SUS. A ação é especial pelo Dia da Visibilidade Trans, comemorado em 29 de janeiro. A campanha também traz um guia com as unidades de saúde no Brasil especializadas no atendimento à população transexual e travesti.
Desde agosto de 2008, o Sistema Único de Saúde brasileiro prevê a oferta de procedimentos à pessoa trans, como a terapia hormonal para afirmação do gênero e cirurgias de redesignação sexual. Porém, segundo a diretora da SBEM, Karen de Marca, há pouca divulgação sobre o tema.
"Não saber como é o caminho faz com que pessoas acabem utilizando medicações por conta própria. A maioria aprende com outros usuários. O que eles me dizem é: 'entrei no site, entrei no YouTube, entrei no Instagram e tinha uma pessoa falando como usava e eu usei", relata a médica.
"Os riscos são as complicações com altas doses, pessoas com trombose, com infarto do miocárdio, complicações hepáticas e complicações nos procedimentos estéticos, que causam necroses", acrescenta a endocrinologista.
Ela conta que é comum pacientes buscarem medicações por conta própria ou mal orientados ao se depararem com a desinformação ou com o excesso de demora para conseguir acessar a terapia.
Segundo a médica, a espera pela redesignação sexual pode levar até 10 anos em razão dos gargalos na oferta da terapia em algumas localidades. A endocrinologista defende que haja investimentos para valorizar esse tipo de atendimento e atrair mais especialistas para a área.
Atendimento no SUS
O Sistema Único de Saúde brasileiro prevê a oferta a pessoas trans de procedimentos como a terapia hormonal para afirmação do gênero, cirurgias de redesignação sexual e acompanhamento multiprofissional, incluindo médicos e outros profissionais da saúde, como psicólogos e assistente social.
A idade mínima para se ter acesso ao acompanhamento ambulatorial no SUS, com processo terapêutico e de hormonização, é de 18 anos. Já cirurgias de redesignação sexual são previstas apenas para maiores de 21 anos.