Saúde

Salsicha, hambúrguer e nugget: pesquisa identifica agrotóxicos em alimentos

Campeão de veneno foi o empanado de frango, com resíduo acima do permitido; pesquisadores acharam agrotóxicos potencialmente cancerígenos nos alimentos

Empanado de frango da marca Seara  foi o alimento com o maior número de agrotóxicos identificados
(fotos: franciele marcon)
Empanado de frango da marca Seara foi o alimento com o maior número de agrotóxicos identificados (fotos: franciele marcon)

Hélen Freitas, Agência Pública/Repórter Brasil 

 

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Uma pesquisa inédita publicada nesta semana revela que alimentos de origem animal consumidos todos os dias por milhares de brasileiros, como mortadela, requeijão e linguiças, contêm resíduos de agrotóxicos. O segundo volume do estudo ‘Tem veneno nesse pacote’, realizado pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), analisou 24 alimentos ultraprocessados feitos à base de carne e lácteos e constatou a presença de agrotóxicos na composição de 58% dos produtos. Foram detectados pelo menos um pesticida em todas as marcas de salsicha, hambúrguer de carne bovina e empanados de frango analisados no estudo.

O campeão de venenos foi o empanado de frango Seara. Segundo a pesquisa, foram encontradas cinco substâncias nele, dentre elas glifosato e glufosinato. Já o requeijão Itambé e os nuggets de frango da Sadia e da Perdigão possuíam uma concentração de substâncias maior do que o permitido em seus alimentos base.

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não estabelece limites máximos de resíduos de agrotóxicos em produtos ultraprocessados, mas indica bases comparativas a partir de alimentos base. No caso do empanado de frango, por exemplo, os pesquisadores puderam identificar a presença acima do permitido do agrotóxico pirimifós metílico, que possui limite máximo de resíduo para o frango ou subproduto que serve de base para a produção dos nuggets. Outros agrotóxicos, como a bifentrina, não possuem limites máximos definidos pro alimento usado como matéria-prima do ultraprocessado, o que impede a análise da presença de pesticidas acima do permitido.

À reportagem, a Anvisa não respondeu se um produto que exceda o limite estabelecido para seu alimento base pode ser retirado do mercado. A Agência apenas informou que nos casos em que se detectam resíduos de agrotóxicos acima do permitido, é necessário realizar uma avaliação de riscos e identificar o potencial risco à saúde do consumidor. “Primeiramente é importante esclarecer que os resíduos acima do LMR [Limite Máximo de Resíduo] reportam um tipo de inconformidade que não necessariamente representa risco à saúde do consumidor”, afirmou a Anvisa.

Pro Idec, a Anvisa precisa retirar esses produtos das prateleiras a fim de garantir a segurança dos consumidores. Já a Seara Alimentos afirmou que “todos os produtos avaliados respeitam os parâmetros para itens alimentares regulamentados pela Anvisa”. Já a BRF Foods, dona das marcas Sadia e Perdigão, ressaltou que “aplica internamente rigorosos padrões de qualidade que atendem à regulamentação da própria Anvisa e do Ministério da Agricultura e são reconhecidos por diversos organismos de controle”.

Glifosato está presente em 37% dos processados

Pesquisa encontrou o pesticida glifosato que é altamente cancerígeno

Pesquisa encontrou o pesticida glifosato que é altamente cancerígeno

 

A pesquisa também traz outro dado preocupante. Em 37% dos produtos foi possível detectar glifosato. O ingrediente ativo é classificado como provavelmente cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc) e é o mais utilizado no Brasil. Apesar de ser um dos pesticidas que mais matam brasileiros, a Anvisa optou por manter o seu registro após uma reavaliação que durou 12 anos.

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O glifosato não é o único que levanta o alerta. Dos oito agrotóxicos detectados, seis estão relacionados ao aparecimento de doenças crônicas. O glufosinato, usado como alternativa ao glifosato, está relacionado à má formação embrionária e a problemas no sistema nervoso central, segundo testes feitos em ratos.

A bifentrina, fipronil e cipermetrina são classificados como possivelmente cancerígenos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protection Agency, na sigla em inglês). Já o clorpirifós está associado a problemas de desenvolvimento neurológico, principalmente em crianças. No ano passado a agência americana baniu o uso deste agrotóxico no país. Já no Brasil ele segue na lista dos 10 pesticidas mais vendidos.

O coordenador do Idec ainda chama a atenção às consequências pra saúde. “Foram cinco ingredientes diferentes encontrados no nuggets, nove encontrados na bisnaguinha em 2021. O estudo mostra que além de por si só os agrotóxicos serem isoladamente potencialmente carcinogênicos, tem o coquetel que deixa o risco mais elevado”, pontua Rioja.

 

Alimentos consumidos por crianças

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Há cerca de um ano, o Instituto já havia revelado que 59% dos alimentos consumidos principalmente por crianças, como cereais matinais, bolachas e bebidas lácteas, também tinham algum tipo de agrotóxico em sua composição. Desta vez, os pesquisadores decidiram testar produtos de origem animal para verificar se mesmo depois da metabolização pelo organismo desses animais e do processamento da carne e do leite ainda seria possível identificar resíduos desses venenos, o que foi comprovado.

Os pesticidas aparecem nos derivados de leite e de carne de duas maneiras. A primeira é de forma direta, por exemplo, a partir da aplicação de substâncias nos animais para evitar a infestação por parasitas. A segunda é por meio das rações produzidas a partir da soja, do milho e de outros grãos, culturas que utilizam agrotóxicos de forma intensiva. Pesquisas mostram que 63% dos venenos usados no Brasil vão para a cultura da soja e 77% da produção do grão viram ração para animais.

“Os dados são preocupantes porque tecem um panorama de que cada vez mais os alimentos que chegam na mesa da população brasileira, seja para crianças, adultos ou idosos, estão com resíduos de agrotóxicos”, afirma Rafael Rioja, coordenador de consumo sustentável do Idec.

 

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Não há regras ou limites para o uso

Apesar de a possibilidade de aparecimento de agrotóxicos nos produtos ultraprocessados já ser de conhecimento dos órgãos governamentais e das empresas, nada foi feito para criar regras que definam limites máximos de resíduos para esses alimentos.

De acordo com o Idec, os resultados da pesquisa foram “bem acolhidos e recebidos pela Anvisa”. A agência já analisa alguns produtos processados – derivados diretamente de alimentos in natura – em seu Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). É o caso da farinha de trigo e da bebida de soja.

O órgão quer incluir aos poucos novos produtos ao seu monitoramento. Contudo, além de não ampliar o número de alimentos analisados, desde 2019 a Anvisa não publica os novos resultados do PARA. Procurada, a Anvisa informou que o programa de análise de alimentos está previsto para ser publicado ainda este ano.

A Vigor disse à reportagem que não teve acesso  aos dados técnicos da pesquisa. A Aurora afirmou que não iria responder os questionamentos e que iria solicitar esclarecimentos sobre a metodologia dos testes.  A laticínios Itambé não respondeu os questionamentos.




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