CPI da Pandemia
Relatório pede indiciamento de Hang
Comissão acusa empresário de ter financiado e disseminado informações falsas
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

O empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, está entre os 68 pedidos de indiciamento, sendo 66 pessoas e duas empresas, do relatório final da CPI da Pandemia, apresentado pelo relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB). A conclusão da CPI é que Hang teria praticado incitação ao crime, por financiar e disseminar notícias falsas sobre a covid-19.
Segundo a CPI, o empresário faria parte do núcleo de financiadores de “fake news”, junto com empresário Otávio Fakhoury, vice-presidente do instituto Força Brasil (IFB), que também aparece com pedido de indiciamento no relatório. No grupo ainda estão políticos, blogueiros e outros empresários que atuariam na produção e divulgação de informações falsas da pandemia e tratamento precoce.
A investigação da comissão contra Hang levou em conta a troca de mensagens entre o dono do site Terça Livre, Allan dos Santos, e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), filho de presidente Jair Bolsonaro, ainda em 2019, em que o empresário é citado. Em depoimento na CPI, Hang disse que os anúncios de suas lojas podem ter sido direcionados pelo Google para sites de espalham “fake news”.
Na parte contra o empresário, o relatório da CPI aponta a necessidade de os órgãos de investigação aprofundar a apuração. Um dos pontos a serem confirmados seriam os indícios de pagamento para impulsionar as redes sociais de grupos bolsonaristas por meio de empresas offshore em nome do empresário.
A investigação feita por um grupo de jornalistas internacionais sobre os arquivos do Pandora Papers revelou que Luciano Hang manteve por quase 20 anos uma offshore em paraíso fiscal, sem ter comunicado a existência da empresa ao governo brasileiro, o que configuraria crime de sonegação fiscal.
Os documentos da investigação, que lista empresários, políticos e personalidades do mundo inteiro com contas em paraísos fiscais, aponta que a offshore Abigail Worldwide, em nome de Luciano Hang desde 1999, só foi apresentada ao Brasil em 2020. Na ocasião, o empresário tinha anunciado plano de lançar a Havan na bolsa de valores.
O aparecimento da offshore de Hang teria comprometido a entrada da Havan no mercado de ações. Os investidores descobriram que a offshore fazia parte do patrimônio da rede varejista desde 2016, quando lei sancionada por Dilma Rousseff permitiu a repatriação de recursos de quem tinha dinheiro não declarado em contas do exterior.
“Quem não deve, não teme”, diz Hang
Pelas redes sociais, Luciano Hang se manifestou sobre o relatório da CPI. Ele lembrou o depoimento prestado à comissão, onde disse que teve “a oportunidade de explicar aos brasileiros o que eu e a Havan fizemos durante a pandemia”.
“Sobre o relatório mencionar o meu nome, não esperava nada diferente, pois trata-se de uma comissão política amparada em narrativas e não em fatos. Tenho certeza que a verdade irá prevalecer. Quem não deve, não teme”, escreveu.
Os pedidos de indiciamentos da CPI serão encaminhados ao ministério Público Federal (MPF) ou às promotorias estaduais, conforme a prerrogativa de foro das pessoas citadas no relatório. No caso de Luciano Hang, o encaminhamento seria ao ministério Público de Santa Catarina. O presidente Jair Bolsonaro, acusado de nove crimes, terá o pedido da comissão analisado pela procuradoria-Geral da República.