Itajaí

Casinha é símbolo de resistência

Moradia da Barra Sul, rodeada de prédios, é icônica. Imóvel é herança da família Macedo, que não tem o plano de vendê-lo

Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

Casa da Barra Sul destoa dos arranhas-céus
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Uma ilha de charme cercada de arranha-céus. Assim pode ser descrita a simpática casinha de madeira, número 4100, na avenida Atlântica, na Barra Sul, em Balneário Camboriú. Hoje em dia branca de janelas vermelhas, ela já foi amarela com cinza clarinho. É uma das poucas que ainda resiste à verticalização da praia Central. Vizinha dos edifícios Saint Tropez e Joana do Mar, a moradia tem uma legião de fãs, que a definem como um marco do patrimônio histórico da cidade. No sábado, o DIARINHO repostou um clique de Naná Koerich no Instagram e em pouco tempo os comentários e curtidas se multiplicaram aos milhares. Além dos elogios à casa, surgiram dúvidas quanto ao tempo que os proprietários conseguiriam preservar o imóvel. Outros leitores alegavam que o terreno era pequeno demais e por isso não despertou o interesse da construção civil. O DIARINHO foi atrás de desvendar essa lenda urbana. Muito antes dos gigantes “Conheço a casa desde criança. Saiu uma notícia na televisão faz uns anos. A reportagem dizia que o dono não queria vender”, revela o historiador e escritor Isaque de Borba. A casinha da praia foi construída em 1956, seis anos antes de ser erguido o edifício Punta del Leste, o primeiro prédio da praia central. Nos anos 60, comenta o historiador, não se dava tanta bola à vista do mar ou à localização. Tanto que há um prédio antigo na orla, que não tem frente nem fundos pro mar. O prédio fica ao lado da casa do Luciano Hang, ele mesmo, o dono da Havan. Dos anos 90 para cá os prédios começaram a ser construídos com mais de 20 andares. E dos anos 2000 em diante, o céu é o limite. Exemplo disso são as torres YatchHouse, da Pasqualotto GT, o residencial mais alto da América Latina, que com seus 81 andares parece desafiar a lei da gravidade. As torres que levam a assinatura do escritório italiano Pininfarina estão a menos de três quilômetros da singela residência dos Macedo. Um tesouro de família A casinha de janelas vermelhas está espremida entre os prédios da Atlântica. Foi comprada em 1973 pelo empresário Lio César de Macedo, para o lazer de sua família, que residia em Itajaí. Depois de recusar muitas ofertas para vender o imóvel, Lio faleceu, em 2016. Hoje a casa está sob a responsabilidade de seus filhos, o administrador de empresas, Lio Cesar de Macedo Junior e o engenheiro civil João Ferreira de Macedo Neto. “Em 73 compramos. Era de uma senhora que tinha um terreno grande, mas o esposo ficou doente. Ela vendeu um pedaço, onde está a casa”, diz João. A compra ocorreu na época em que o Balneário tinha poucos prédios e começou a chamar a atenção de turistas de outras cidades e regiões. Muitos vinham de Brusque e Blumenau, cidade onde moravam os antigos proprietários. “Nós que somos descendentes de portugueses, caímos no meio da alemoada”, diz sorrindo o espirituoso João. Ele salienta que não há o menor interesse em vender o imóvel. Mesmo porque, se fosse avaliado apenas o valor do terreno, um bom negócio seria trocar por algo em torno de cinco apartamentos num possível edifício. Considere-se que na Atlântica um apartamento chega a valer R$ 10 milhões, numa conta rasa, a casinha poderia valer em torno de R$ 50 milhões. “Nem tanto”, pondera João, que afirma que independente do valor financeiro, valoriza mais a história vivida ao longo de 46 anos na simpática casinha da praia, que ainda hoje é usada pela família para as comemorações de Natal, Réveillon, Carnaval. “Mantemos a casa conservada todos esses anos, meu pai sempre conservou. Vamos cuidar eternamente e desfrutar, enquanto se tem saúde. Temos uma família grande, disposta a curtir”, reforça. Para ele, que também é dono de um apartamento, há um detalhe importante. “Traço um paralelo. Apartamento é lava-pés, elevador. Ali saiu, tá na praia. Não tá engaiolado. Essa é uma vantagem que enquanto der pra ir curtindo, a gente vai curtir”. Não vai ser prédio O diretor de Planejamento de Balneário Camboriú, Vladirmir Marcolin Trautwein, informou que o local permite a construção de prédios. O gabarito é livre, ou seja, é possível construir edifício com número ilimitado de andares. Porém, é preciso obedecer aos recuos laterais, frontal e de fundo, e isso limita o terreno da casinha. “Se for aplicar os recuos e chegar até cinco metros nas laterais e do fundo, a área é muito pequena. Então a casa é praticamente uma ilha. Até pode ser construído um imóvel de dois a três pavimentos, mas nunca será um prédio. Se aplicar todos os recuos é inviável alguém comprar pra edificar alguma coisa”, explica o diretor. Torcida é grande “Ela vai ficar até sempre”, comenta a aposentada Iara Santos, 70 anos, uma das fãs da casa, que conversou com a reportagem do DIARIa terça-feira à tarde, enquanto levava a pequena Gigi para passear no calçadão da Atlântica. “Sempre passo aqui e fico admirando. Os donos cuidam muito, eles têm um carinho especial por ela. E nós também”, comenta. “Essa casa traz a história da cidade em suas paredes. Com sua humildade, ela tem resistido ao tempo e ao progresso. É uma heroína diante dos arranha-céus”, filosofa o empresário Artur Carlos Vieira, dono de uma cerâmica que vendeu milhões de tijolos para construir os enormes edifícios da orla. “É admirável esta casa resistir assim, em meio a tantos prédios. São poucas”, diz Adriano Fincato, 64, que veio de Brasília para veranear.“Ela é uma vencedora”, completa Rita Machado, 59, que trabalha no edifício Joana do Mar, onde os pais de Eduardo Zeferino Ramos, 34, trabalhavam como zeladores nos anos 90. Dono de uma auto escola, ele passou a infância brincando com as netas do proprietário, principalmente subindo na árvore em frente à casa. “Os donos vinham passar o final do ano ali. Eu e meu irmão éramos muito pequenos. Lembro só que a gente brincava com as netas dos donos. Isso era em 92, 93, por aí”, recorda, cheio de nostalgia. Icônica, diz restauradora Diretora de arte da Fundação Cultural de Balneário Camboriú, a conservadora e restauradora, Lilian Martins observa que diante do avanço dos prédios e o número cada vez mais reduzido de casas em madeira que contam a história do município, seria interessante a criação de um acervo pelo município. “É claro que para toda casa linda de Balneário Camboriú, a gente gostaria de ter uma lei de salvaguarda de patrimônio. Esta é uma casa icônica, realmente. Porque é muito singular ela ter resistido na avenida Atlântica, com a mesma volumetria, com a amendoeira na frente”, observa. Lilian diz que há uma lei de tombamento em tramitação na Câmara de Vereadores. “Mas o que temos discutido enquanto ativistas da causa do patrimônio é que uma lei, para ela conseguir dar subsistência, sobrevivência a um bem que é icônico, precisa ser vista a questão econômica deste bem. Que estas casas tenham algum tipo de isenção”, defende. A mais curtida A foto mais mais no Insta do DIARINHO, como era de se esperar, é a da charmosa casa. O clique é de Ghislene “Naná” Koerich e teve mais de 2400 curtidas. Compartilhe suas fotos marcando a hashtag #tonodiarinho. O vídeo mais visto no Instagram foi o da reportagem sobre o incêndio de grandes proporções que atingiu duas famosas lojas de Ilhota, na noite de domingo. O vídeo teve mais de cinco mil visualizações.




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