Os profissionais foram apoiadores da candidatura de Cássia. Segundo o sindicato, os professores tão levando a culpa pelos problemas financeiros da instituição e os cortes revelam suposta perseguição político-ideológica da atual administração. “Me parece que querem calar essas vozes”, comenta Adércia Hostin, presidente do Sinpro.
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O primeiro a ser demitido foi o professor João Luiz Baptista de Carvalho, diretor do centro de Ciência Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar), em 24 de maio. No dia seguinte, foi a vez de Mario Uriarte Neto, diretor do centro de Ciências da Saúde. Os dois apoiaram Cássia Ferri nas eleições pra reitoria e já fizeram a rescisão, mas não assinaram a notificação da Univali por não concordarem com a dispensa. Na segunda-feira, foi a própria Cássia, ex-vice-reitora de Graduação, quem foi demitida por “justa causa”.
João Luiz e Mario Uriarte, que já tiveram o contrato rescindido, contestaram formalmente a saída no ato de homologação. De acordo com Adércia, cada caso tem uma justificativa pras demissões, mas nenhuma convence o sindicato. “Não há razão pra justa causa”, frisa a líder sindical.
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O motivo das demissões seria porque os professores teriam prejudicado a universidade no comando das áreas em que dirigiam o que, para Adércia, não tem cabimento. “Essa gestão que tá demitindo esses trabalhadores também estava trabalhando com eles na gestão anterior. Eles também foram co-responsáveis”, observa a sindicalista.
O advogado do Sinpro, André Neto, informa que o caso será levado à procuradoria Regional do Trabalho em Floripa. A expectativa é que o MPT abra um inquérito pra apurar a situação. “A gente quer entender o que tá acontecendo”, afirma, observando que as acusações contra os professores demitidos são graves. As ações do sindicato estão sendo acompanhadas pela confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee).
“Sentimento de luto”, desabafa Cássia Ferri
Com 24 anos de universidade e uma respeitada docente da instituição, a professora-doutora Cássia Ferri estava dando aula na manhã de segunda-feira quando foi retirada da sala pra receber a demissão, medida que ela considera injusta e de motivação política. “É um procedimento que não combina em nada com a universidade. O sentimento é de luto”, disse ao DIARINHO.
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Na semana anterior, Cássia teve a carga horária reduzida pela metade, o que já prenunciava sua saída. No entanto, não houve qualquer conversa prévia. Os motivos da dispensa envolvem diversas acusações que, segundo Cássia, não tem fundamento.
Uma delas que é teria “dado bolsas demais do Pro-uni”. Pra Cassia, a acusação contraria a própria vocação comunitária da universidade. Ela ainda observa que as decisões eram tomadas em equipe e que as acusações partem de pessoas que também estavam na administração à época em que era vice-reitora de Graduação.
Em fevereiro, o trabalho dela na instituição rendeu uma homenagem na Assembleia Legislativa. “A gente fica numa situação de total constrangimento, sem condições de dialogar”, comenta.
Cassia deixou a vice-reitoria com a chegada da nova gestão. Desde 2000, participava do programa de Pós-Graduação em Educação, como professora e pesquisadora. Atualmente, estava com cinco orientandos, quatro deles de doutorado, e 157 alunos.
Cassia avisa que vai entrar na justiça. Pra ela, não há dúvidas de que a demissão tem motivação política. “Só o grupo que participou da campanha é que tá sendo atingido,” acusa. O discurso de que os cortes são medidas econômicas também não cola. Segundo Cassia, outros tiveram aumento de salários e ganharam mais pessoas na equipe.
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Outros 20 vão trabalhar menos
Aos menos 20 professores procuraram o sindicato dos Professores (Sinpro) pra denunciar a redução de carga horária. Em muitos casos, a jornada foi reduzida de 40 horas pra 12, oito ou até três horas semanais, sob a justificativa de redução de gastos.
Adércia Hostin, presidenta do sindicato, acredita que são mais casos, considerando que muitos educadores estão amedrontados e evitam expor a situação. “Eles estão com receio de serem os próximos na lista de demissões”, avalia.
O sindicato quer abrir uma conversa com a instituição. “Porque, por enquanto, a universidade tá agindo de forma autoritária”, comenta. “Não estão dialogando nem com a comunidade acadêmica”, completa Adércia, destacando que os funcionários não estão a par do processo de reestruturação e redução de cursos na Univali.
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Reitor nega perseguição
Valdir Cechinel Filho, reitor da Univali, afirma que não há perseguição política nem revanchismo nas medidas adotadas pela instituição. Ele explicou que os cortes foram feitos a partir da análise das atividades que os professores exerciam e que evidenciaram uma gestão inadequada e que deixou a universidade no vermelho. “Herdamos uma situação bastante delicada”, comenta, referindo-se à situação financeira da universidade.
A análise, diz, foi embasada numa auditoria que pegou o período de 2014 a 2017. Atraso de salários e falta de pagamentos, entre outros problemas de gestão, segundo o reitor, estão no relatório, aprovado pelo conselho de Administração. “Estamos sendo cobrados por isso”, emenda.
O reitor contesta que as medidas recaiam somente contra quem apoiou Cassia. Ele garante que todos que tiveram fraco desempenho serão responsabilizados. Segundo ele, novas demissões poderão acontecer.
A universidade pretende colocar as contas em dia com o corte de custos e o aumento de receita. “São medidas antipáticas mas necessárias pra sobrevivência da universidade”, argumenta. Valdir Cechinel disse ainda que o sindicato nunca procurou a instituição pra conversar sobre o assunto.