Itajaí
Safra do charuto começa bombando
O peixe preferido do povão promete chegar aos montes nas peixarias e com o preço baratinho
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]




A safra da sardinha, que abriu na quinta-feira da semana passada, começou bombando, pra surpresa do setor pesqueiro. De acordo com o armador Agnaldo Hilton dos Santos, em apenas três dias foram capturadas cerca de duas mil toneladas de charutinho, que é como o povão chama a sardinha. No ano passado, a safra foi um fracasso. Algo perto de 15 mil toneladas. Por isso, o resultado dos primeiros dias de pesca animaram os empresários. “Se essa média se mantiver, chega à média dos últimos anos, que era de 70 a 80 mil toneladas. Mas a gente tá com expectativa boa de, no mínimo, 40 mil toneladas na safra inteira”, estima Agnaldo, que é o coordenador da câmara setorial da pesca de cerco do sindicato dos Armadores e da Indústria de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi). O armador acredita que este bom começo de safra seja influência do fenômeno La Ninã, que acontece no Oceano Pacífico mas, segundo ele, esfria as águas por aqui. “Com isso, os plânctons, que são o alimento da sardinha, ficaram em evidência nessa região”, afirma. Na prática é assim: mais comida, mais peixe e, por consequência, mais captura. Os períodos de captura da sardinha são dois. De 15 de fevereiro a 15 de junho e de 1º de agosto a 31 de outubro. Maior frota Traineira é como se chama o barco que faz a pesca de cerco da sardinha. A região de Itajaí tem, de longe, o maior número delas em todo o Brasil. “Nossa frota é de 65 traineiras. Já a fronta nacional, contando com sul e sudeste do Brasil são 125 barcos”, contabiliza Aguinaldo. Isso faz com que a sardinha seja um principais produtos do setor pesqueiro e tenha importância fundamental para a economia da região. “Sem contar os operários da indústria de enlatados, a pesca da sardinha é responsável direta e indiretamente por cinco mil empregos”, afirma o coordenador da câmara setorial. Só nas traineiras, são cerca de 1,8 mil pescadores. Nessa safra, de acordo ainda com Agnaldo, o peixe está sendo vendido para a indústria a R$ 1,70 o quilo resfriado no gelo e a R$ 1,90 o salmorado (no sal). Na safra passada, mesmo com pouco peixe, foi vendido a R$ 1,67. Grande parte da produção vai para as enlatadoras. A Gomes da Costa (GDC), de Itajaí, tem cerca de dois mil funcionários e é considerada a maior do setor na América Latina. Outras duas fábricas importantes na região são a Camil, com 1,2 mil funcionários, e a SMG, com algo perto de 600 trabalhadores, que ficam em Navegantes Caminhão do peixe já tem No sábado, o programa Caminhão do Peixe, da prefeitura de Itajaí, já tinha sardinha pra oferecer. Vendeu o charutinho por R$ 2,99 o quilo. Esta semana, o peixe mais querido do povão vai continuar sendo oferecido pelo mesmo preço. Veja a programação: Hoje Tarde: Jardim Esperança, na rua Sebastião Soares (em frente a Escola Básica Melvin Jones) Terça–feira Manhã: Fazendinha, rodovia Osvaldo Reis, em frente ao Ginásio deEsportes Ivo Silveira Tarde: Praia Brava, rodovia Osvaldo Reis, pátio do Posto 14 BIS Quarta-feira Manhã: Murta, na rua José Luiz Marcelino, em frente ao Mercado Lúcia Tarde: Salseiros, na rua Cezar Augusto Dalçóquio, pátio do Mercado Venâncio Quinta-feira Manhã: Dom Bosco, rua Brusque, pátio do Parque Dom Bosco Tarde: Vila Operária, avenida José Eugênio Muller, em frente a Igreja Nossa Senhora da Paz Sexta-feira Manhã: São Vivente, rua Estefano José Vanolli, pátio da Igreja São Vicente de Paula Tarde: Costa Cavalcante, avenida Brasília, em frente a Igreja Evangélica Reconciliação Sábado Manhã: Vila Operária, rua Gaspar, na feira do Fiuza Lima Comprou 10 quilos de sardinha e maioria tava ovada O leitor César P. mora no bairro Cordeiros, às margens do rio Itajaí-açu. Na sexta-feira à noite, comprou 10 quilos de charutinho. Pagou R$ 3 o quilo do peixe “sujo”. Na hora, já foi pra cozinha limpar os peixes e se assustou com o que viu. “Eu estranhei, tava um peixe bonito, barrigudo. Aí comecei a cortar a barriga e deu dó. Tava tudo ovado, já prontinho pra soltar as ovas”, contou ao DIARINHO. Pelo menos 70% das sardinhas tavam prenhas. Para o filho dele, Juliano, seria preciso esperar mais um pouco pra começar a capturar a sardinha. “Senão vai acabar com a espécie”, observa. O oceanógrafo Paulo Ricardo Schwingel é professor da Univali, doutor em ciências naturais e integrante do subcomitê científico de pelágicos do Sudeste e Sul do Brasil, um órgão nacional que reúne pesquisadores e representantes de vários setores ligados à pesca. Procurado pelo DIARINHO, o professor explicou que encontrar indivíduos ainda ovados mesmo depois do final do defeso é comum e não representa perigo pra espécie. De acordo com ele, o grosso da reprodução da sardinha acontece entre a primavera e o verão, justamente no período do defeso. Alguns indivíduos da espécie começam antes e outros depois, a maioria fica nesse período que vai de 1º de novembro a 14 de fevereiro. Tá pra pintar promoção no Mercado Hoje pela manhã, a coordenação do centro Municipal de Abastecimento e os donos de boxes do Mercado de Peixe de Itajaí fazem uma reunião só pra tratar da sardinha. Carlos Albano Silva, administrado do Centro de Abastecimento, conta que os comerciantes vão avaliar a possibilidade de começar ainda esta semana uma promoção de charutinho. “Como sardinha é oferta e procura, os primeiros peixes que chegaram estavam com preço mais alto, mas na medida que vai aumentando a captura tende a baixar”, explica. Até sábado, os peixeiros já tinham comprado entre uma e duas toneladas de sardinha fresca. O preço pro consumidor final ainda tava salgado: de R$ 6 a R$ 8 o quilo, com escamas e vísceras. De acordo com Albano, pelo menos 15 dos 26 boxes já têm charutinho. Preferido do povão, o charutinho é considerado o carro-chefe das vendas do mercado e chamariz da clientela. Isso, claro, quando não rola a safra da tainha.