Itajaí
Motoristas do Uber manipulam o preço das corridas pra cima
Artimanha é desligar em massa os celulares, o que faz com que o aplicativo aumente preço das corridas
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]

O s motoristas de Uber que atuam em Balneário Camboriú estariam manipulando o sistema de preço do aplicativo pra levar vantagem e cobrar mais. Eles desligam os celulares em horários de maior demanda, fazendo com que o mecanismo do Uber, chamado de “preço dinâmico”, refaça os cálculos a aumente o preço da corrida. Além disso, também criaram os chamados grupos PFs, que acertam corridas “por fora” do aplicativo. Preço aumenta Quando os motoristas desligam o celular, o aplicativo entende que há poucos parceiros na região. Se for num horário de muita procura, o Uber então recalcula o preço das viagens pra cima, na velha e boa lei da procura e oferta. Quando isso acontece, os motoristas voltam a ligar os celulares para aproveitar o preço mais alto. Um motorista do aplicativo confirmou ao DIARINHO que os parceiros do Uber tão mesmo fazendo a sacanagem em Balneário Camboriú para manipular o “preço dinâmico”. A prática, segundo a fonte, é comum entre os condutores, principalmente em períodos de maior pico. PFs criaram redes Estaria rolando também outra sacanagem dos motoristas. O DIARINHO teve acesso a conversas de parceiros do Uber que negociam e divulgam as viagens chamadas “PF”, sigla de “por fora”. Em grupos de WhatsApp são postados locais onde há pessoas buscando viagens por fora do aplicativo e outros oferecendo o serviço. As solicitações envolvem pedidos em diversas cidades da região, entre Itajaí, Balneário, Itapema, Penha, Piçarras, Barra Velha e Navegantes. “Quem assumir o PF e não cumprir com o parceiro, será excluído do grupo definitivamente”. Essa é a regra de um dos grupos, criado no ano passado. Pelas conversas, os motoristas também têm rejeitado viagens em que o valor indicado pelo aplicativo é considerado muito baixo. O grupo mantém até uma tabela de preços mínima que deve ser praticada na região. Uma corrida entre Balneário e praia Brava não poderia sair menos de R$ 20. “Pegar no App [aplicativo] sem o [preço] dinâmico é uma escolha, mas buscar PF a preço de banana é outra”, bronqueia um motorista numa das conversas. Taxistas na bronca Davi Damasceno, presidente do sindicato dos taxistas de Balneário, avalia que a prática prejudica tanto a categoria quanto o próprio aplicativo. “É ruim para nós porque eles [motoristas do Uber] passam a fazer um preço mais barato no particular, sem cumprir os encargos e respeitar a regulamentação”, observa. O sindicato pretende esperar o desfecho de uma liminar que permite a atuação dos motoristas de Uber de outras cidades em Balneário. A expectativa é que a decisão seja derrubada e os motoristas sejam obrigados a se enquadrar nas regras da legislação municipal. “Os motoristas estão, por uma parte, fazendo um transporte ilegal, e ainda tão burlando o próprio Uber. Queremos que, pelo menos, haja fiscalização”, comenta Davi. Ele diz que o sindicato estuda fazer uma denúncia sobre a manipulação do “preço dinâmico” e os “PFs” ao Ministério Público, depois do Carnaval. Ele afirma que nesta temporada os taxistas tiveram uma queda de quase 50% nas viagens. Parte das perdas é em função dos motoristas que atuam por aplicativos, como o Uber, Cabify e 99, e de outros que oferecem transporte particular clandestinamente. A gestora do fundo Municipal de Trânsito (Fumtran), Maria Cristina Andrade, informou que recebeu denúncias da manipulação de preços. Mas argumenta que, em razão da ação que corre na justiça suspendendo a lei municipal, o município não pode fiscalizar o serviço. “A gente não pode fazer nada por causa deles próprios [motoristas de Uber]”, diz. Uber jura que não dá pra enganar o “preço dinâmico” A assessoria de comunicação do Uber garantiu que é “impossível” ocorrer a manipulação do “preço dinâmico”. A tecnologia empregada no mecanismo impediria tal prática. Sobre a realização de viagens fora do aplicativo, a assessoria entende ser uma questão entre motorista e cliente, não envolvendo a empresa. A política do Uber, no entanto, prevê punição ou mesmo banimento aos motoristas parceiros que não obedeçam às normas da plataforma. A assessoria ainda informou que a empresa monitora os profissionais. Sobre o “preço dinâmico”, o Uber explica que o mecanismo existe para permitir que haja carros disponíveis em qualquer dia e horário numa região. O sistema reajusta os valores para incentivar que mais motoristas se conectem ao aplicativo nos momentos de maior procura. Usuários viram o preço mudar O DJ e produtor musical Tiago Gustavo Brito, de Balneário Camboriú, usuário do Uber, conta que abriu uma reclamação junto à empresa, por causa da diferença de preço cobrada na corrida. “Quando pedi a corrida era um valor e no destino era outro”, relata. “Foi uma diferença grande, entre R$ 10 e R$ 12”, lembra. Ele ressaltou que a bronca é contra o aplicativo. “Os motoristas são muito educados”, diz. Já o advogado Rodrigo Lima, de Itajaí, costuma usar o Uber pro trabalho. “Tem funcionado bem. O preço é acessível em comparação ao táxi”, avalia. Rodrigo explica que, nos horários de pico, quando o preço dinâmico eleva o valor, prefere esperar pra pagar menos. Numa corrida entre Itajaí e Balneário ele tem gasto entre R$ 12 e R$ 15. Não aconteceu com ele, mas Rodrigo conta de casos em que os preços mudaram durante o trajeto devido à demanda ou congestionamento. Nunca ocasião, o motorista avisou que o aplicativo tinha travado. A corrida foi acertada fora do sistema. Jura que não tem sacanagem O presidente da associação dos Motoristas por Aplicativo de Santa Catarina (Amppa), Willian Cardoso, diz que desconhece tanto a prática de manipular o sistema de “preço dinâmico” quanto de profissionais que ofertam viagens por fora do aplicativo. “A associação protege quem trabalha no aplicativo”, considera, destacando que a entidade trabalha pra coibir irregularidades. “Se a gente souber de alguma coisa errada, vai ter fiscalização”, afirma. Ele informa que os próprios usuários podem fazer denúncias pelo site na entidade, em www.amppasc.com/denuncie. Segundo Willian, desligar o aparelho não impacta no mecanismo de reajuste de preço, que é gerado pelo Uber. Ele ainda comenta que os motoristas participam de grupos de WhatsApp, mas como ferramenta de integração entre os profissionais e descontração. “Não são pra corridas particulares”, garante.