Itajaí
Brigam pra se livrar da construtora
Dono e ex-dono da incorporadora Santa Catarina querem se livrar da firma, que tem R$ 12 mil e bens penhorados
Redação DIARINHO [editores@diarinho.com.br]
Enquanto mais de 40 clientes amargam o calote e seguem esperando pelos apartamentos que compraram, o dono e ex-dono da Santa Catarina Incorporações tão em meio a um briga judicial inédita. Nenhum dos dois quer ficar com a construtora, que teria uma dívida de mais de R$ 12 milhões e bens penhorados. O residencial Aquarelle, na rua Onze de Junho, na Fazenda, em Itajaí, é um dos empreendimentos da Santa Catarina Incorporações que tão abandonados desde 2015. Ontem, na 2ª Vara Cível do fórum de Balneário Camboriú, ocorreu a primeira audiência de instrução e julgamento envolvendo o ex-dono da construtora, José Roberto Scuro, e Cláudio Silvestri, que negociou a empresa em 2015. O inusitado da ação é que os dois empresários estão brigando pra não ficar com a empresa. A audiência terminou sem acordo. A empresa foi comprada por R$ 6 milhões. O problema é que Cláudio descobriu, logo depois que o negócio foi fechado, que a construtora tava mal das pernas, com dívidas maiores que o valor da aquisição. A defesa de José Roberto Scuro disse que a transferência da empresa foi finalizada e por isso cobra o pagamento pela venda. Já Claudio Silvestri diz que foi enganado e quer a rescisão do contrato de compra. De acordo com o advogado Roni Kostütchenko da Silva, que representa Cláudio, a compra da empresa tava condicionada à apuração do endividamento da construtora por meio de uma auditoria. Furo nas contas Roni afirma que, na medida em que seu cliente foi fazendo a auditoria, ficou constatado que a situação era pior do que o dono atestava. “Eles maquiaram a situação da empresa”, acusa o advogado. Entre os problemas encontrados, tava a suposta emissão fraudulenta de duplicatas que já haviam sido pagas pelos compradores dos imóveis, dívidas trabalhistas, bens dos sócios em penhora em ações por danos morais e materiais, e apartamentos avaliados acima do valor de mercado. “Eles prestaram informações falsas pro meu cliente. Agora querem nos obrigar a cobrir o rombo”, completa Roni. No início do ano passado, Scuro foi noficado extrajudicialmente para reassumir a empresa e retomar o controle dos bens e não aceitou. Para o advogado Celso Bedin Júnior, defensor de Scuro, a venda da empresa foi um “ato jurídico perfeito”, no jargão judicial. Celso destaca que a empresa já foi repassada para os novos donos e que eles é que têm a obrigação de cumprir o contrato. Ele afirma que a construtora não tinha restrições nem protestos em cartório na época da negociação. O advogado ainda lembrou que a audiência demorou a ser marcada porque a justiça teve dificuldades em encontrar e fazer a citação do empresário Cláudio. Roni rebateu, dizendo que a demora é culpa da lentidão do judiciário. Clientes lesados querem assumir obra No meio da disputa estão clientes que compraram apartamentos da construtora e ainda não receberam os imóveis. Só na vizinha Itajaí, são 42 lesados. A maioria comprou à vista um apê no residencial Aquarelle, há cerca de dois anos. Eles dizem que a empresa lucrou mais de R$ 8 milhões, mas a grana sumiu e as obras pararam. Um grupo de compradores chegou a ir até o fórum ontem, mas não pode participar da audiência que era só sobre o rolo entre os empresários. Um dos clientes da construtora, que não quis se identificar, alega que a maioria dos compradores mora de aluguel ou de favor. “Enquanto os dois picaretas brigam”, completou. Para esse cliente, não há santo nessa briga. “Um quis enganar o outro pra adquirir o imóvel e os compradores ficaram à mercê’”, comenta. Segundo ele, a construtora vendeu apartamentos com metragem inferior à anunciada e que sempre oferecia o imóvel como se fosse o último, fazendo um preço promocional desde que o pagamento fosse à vista. Isso fez muita gente cair no que seria um golpe. Os compradores tem interesse em assumir o prédio. “A gente quer a posse do prédio para, mesmo com prejuízo, tocar a obra por conta própria e ter uma moradia”, disse outro comprador. O advogado Roni afirmou ser favorável à proposta, sugerindo que os compradores criem uma associação para isso.