Dalírio Kalpus, 39 anos, e sua esposa Célia Regina Pereira, 36, vivem de catar materiais pela rua. Todos os dias Dalírio acorda e faz a mesma coisa. Toma café e, antes do sol nascer, pega seu cavalo, o Orelhinha, e sai com sua carroça pelas ruas, catando materiais recicláveis. O seu destino nas ruas segue as rotas montadas pela empresa Engepasa Ambiental. Dalírio corre contra o tempo, tentando recolher o material antes que o caminhão da empresa responsável pela coleta apareça.
Nas quintas-feiras, Dalírio trabalha na localidade de São Cristóvão, no bairro Cordeiros. Começa seu trabalho na rua Odílio Garcia, onde vai parando de casa em casa para pegar os sacos deixados pelos moradores, muitas vezes, na noite anterior. Outros moradores vêm entregar o lixo reciclável nas mãos do catador.
Há 10 anos que Dalírio tira o seu sustento do lixo. Dá só pra comer, pra viver, fala com aquele jeito das pessoas que se acostumaram a viver com pouco. Mesmo sendo pouco, Dalírio sabe que não pode vacilar para conseguir o seu ganha-pão. Ele vai conversando e jogando mais lixo na carroça, que às sete horas da manhã já tem mais da metade ocupada. Enquanto pega os sacos, Dalírio conta que cata os materiais nos bairros Cordeiros, São Vicente, Rio Pequeno e zona rural da cidade. Só não levo orgânico, adianta. O catador comenta que, em alguns dias, chega a fazer mais de duas viagens entre a sua casa, na rua Telêmaco de Oliveira, no loteamento Jardim Esperança, o popular Brejo, e as ruas onde apanha os materiais.
Antes que a conversa se alongue, Dalírio vai logo dando um jeito de seguir adiante sem companhia. Eu tô conversando contigo, mas se eu não apurar eu não consigo pegar mais, fala, meio que se despedindo, seguindo com o Orelhinha pela rua Odílio Garcia. Logo à frente, na rua Fernando Vieira, encontramos a esposa de Dalírio. Acompanhada de seu cavalo Negão, ela anda pelas ruas procurando lixo que não é lixo. Nas ruas, Célia trabalha às quintas-feiras e aos sábados. O restante da semana ela separa o lixo em sua casa e também faz crochê para vender. A mulher, que demonstra ter muita habilidade com o cavalo, diz que estudou pouco e por isso sobrevive dessa maneira. Antes eu trabalhava como doméstica, comenta, explicando que com a antiga profissão ela ganhava menos do que com o reciclável.
Pedro Vieira, 59, tenta viver do lixo reciclável há cinco anos. Comecei a juntar, mas não sei se vai dar certo, explica o senhor, que ainda faz serviço de jardinagem, pintura e outros trabalhos braçais para sobreviver. Morador da Murta, Pedro faz várias viagens entre sua casa e as ruas para recolher o material reciclável. Sem um destino certo, ele pedala sua bicicleta especialmente preparada para catar os sacos deixados no lado de fora das casas. Com os seus bicos e a grana do reciclável, Pedro e mais três pessoas vivem em sua casa.
Equipe pronta para recolher reciclável nas ruas
Enquanto os carroceiros começam de madrugada a juntar lixo nas ruas de Itajaí, o caminhão da Engepasa Ambiental tem dia e hora certa para passar. O motorista Délcio Werner, 50, e os catadores Luíza da Silva, 26, e Paulo César Fogaça, 40, fazem a rota da coleta seletiva do São Cristóvão, Barra do Rio e Imaruí todas as quintas-feiras. Eles chegam na empresa às 8h e começam a jornada, que só vai terminar às 16h, após uma hora de pausa para o almoço.
Para o trio da Engepasa Ambiental, os carroceiros vêm ajudá-los no trabalho. O que seria de nós se não fosse o carroceiro. Tem lixo para todo mundo, diz Luiza, que trabalha há oito meses na coleta. A maior dificuldade de trabalhar com o lixo reciclável, segundo ela, é a falta de consciência da população. Muitos ainda misturam lixo reciclável com o orgânico. Eles misturam panos, roupas com reciclável. Reciclável é reciclável, esbraveja.
O que deixa Luiza mais indignada que a falta de consciência dos moradores é o fato de muitos colocarem vidros quebrados no lixo. O descuido de algumas pessoas já rendeu vários cortes no braço da moça. O vidro é um perigo, já cortei o braço por causa disso, revela.
A catadora, que hoje tem carteira assinada, recolhe INSS e diz que consegue sustentar a filha de quatro anos com os quase mil reais que ganha, já esteve do outro lado. Quando era casada, ela e o marido tinham um galpão que comprava material reciclável em Navegantes. Por conta desse contato com o lixo que não é lixo, Luiza não sentiu dificuldade de se adaptar ao caminhão.
O trabalho no caminhão do reciclável já lhe rendeu até um apelido: rainha do lixo. Um dia por semana, Luiza faz a coleta deste tipo de lixo nos condomínios. Lá, por conta da sua simpatia e de estar sempre com o sorriso no rosto, foi batizada com o carinhoso apelido. Mas, segundo ela, as pessoas que lhe tratam tão bem também lhe dão mais trabalho. Nos condomínios é onde tem mais lixo orgânico, bronqueia a moça.
Paulo César tem a mesma opinião de Luiza. Pra ele, os moradores ainda não dão importância para o benefício de separar o lixo reciclável e também não se preocupam em embrulhar corretamente os vidros quebrados. Já levei oito pontos no braço, por causa de vidro quebrado, lamenta.