A prefeitura tem até quinta-feira, dia 24, para apresentar relatórios ao ministério Público (MP) sobre a situação da feirinha. Há cerca de um mês, o MP recebeu a reclamação de um morador da rua, que pede a retirada dos feirantes da porta do seu prédio. Pra resolver a situação, foi proposto aos feirantes que transfiram as barracas pra praça Higino Pio. A ideia não agradou quem tira o sustento dali, muito menos a clientela, que tem na feira muito mais do que um ponto de vendas.
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De acordo com o cientista social Sérgio Saturnino Januário, muito mais do que comércio, a feira é um elemento comunitário de extrema importância para a preservação da identidade do município. As pessoas que vão ali não vão só pra comprar. Muitas vezes, o produto é um elemento secundário. A feira é um elemento comunitário, porque é onde as pessoas se encontram há anos; representa muito mais do que uma simples relação comercial, explica.
Segundo Saturnino, Balneário Camboriú tem se baseado no turismo anônimo, e a feira é justamente o contraponto disso. O entendido é totalmente contra a retirada da feira de lugar. À medida que muda de local, vai perdendo a identidade, vai dissolvendo os elementos culturais que ficam, explica.
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O corretor de imóveis João Fernandes Filho tem 68 anos e há pelo menos 33 vai à feirinha todo sábado. Ele tá chateado com as tentativas de tirar a feira do local. A feira tem identificação com a cidade, é uma tradição. O que compro na feira não se encontra no mercado, alega.
Outro que não se conforma com a possibilidade da saída da feira do local é o aposentado Leo Pletz, 75, que frequenta a feira desde 1971. Isso está ferindo uma tradição, porque isso aqui não é de ontem nem de hoje; são várias gerações que trabalham aqui e várias gerações que vêm comprar, opina.
Aqui você encontra produtos fresquinhos, além de encontrar pessoas de longa data conversando e trocando ideia. Infelizmente, enxergo que esse valor cultural, tradicional, não está recebendo o devido valor, debulha Leo, que defende que a feira é também uma atração turística pra Balneário Camboriú.
Ninguém sabe a data certa, porém os mais antigos dizem que a feirinha da rua 200 já existe há quase cinco décadas. No começo, as barraquinhas ficavam na praça Bruno Nitz. No início da década de 90, os comerciantes chegaram a ser expulsos da praça pela própria prefa. Na época, o tradicional comércio de rua foi transferido pra um terreno baldio na rua 600, onde funcionou por quase quatro anos. Em 1998, com um acordo feito no fio do bigode com os administradores municipais, os feirantes voltaram pra rua 200, que fica ao lado da praça, onde foi construído o teatro Municipal de Balneário Camboriú.
Vizinho não quer
Há um mês, segundo os feirantes, um morador de um prédio da rua denunciou os feirantes ao MP. No dia 14 de julho, o promotor Rosan da Rocha enviou um ofício à secretaria da Fazenda e da Saúde pedindo explicações quanto à legalidade do funcionamento da feirinha.
Sábado, o fiscal da vigilância Sanitária municipal, Danilo Dumps Santos, esteve no local pra preencher o relatório que deve ser encaminhado ao MP. Vamos atualizar o número de bancas, as atividades, porque muita coisa mudou, limitou-se a dizer.
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Assustados com a possibilidade de ter que vazar da rua 200, os feirantes reuniram quase quatro mil assinaturas e buscaram apoio da câmara de Vereadores na semana passada. Tivemos a garantia de todos os vereadores que a feira vai continuar. É nossa cultura, nossa tradição, e nós não vamos sair daqui, diz o presidente da feira, Paulo Rodrigues de Carvalho. Segundo ele, a feira gera cerca de 150 postos de trabalho diretos e indiretos.
A reportagem tentou contato com o procurador Marcelo Freitas, pra saber qual a posição do município, mas ele não atendeu as ligações no fim de semana.