“Depois eu farei”, numa jogada das tarefas ao futuro, é o retardamento do tempo, como se pudéssemos dominá-lo e adestrá-lo ao nosso imperativo desejo ou necessidade. Não dominamos o tempo, muito embora possamos nos organizar para atuar nas linhas de passagem que percorremos. O tempo nos foge e independe de nossa própria existência. O Planeta tem mais tempo de vida sem nossa presença do que o contrário.
Como esperança não tem um quilo ou um metro, já que sua mensuração se faz por equivalentes abstratos, podemos apenas senti-la como emoções que fluem em nosso semblante. O tempo, como abstração, é registrado pelo transcorrer das coisas e a transformação das formas de existir. O tempo de vida é este tal magnifico que nos opera numa linha cheia de obstáculos e desafios. Viver é o desafio de estar no tempo, jamais enfrentá-lo!
A cada passagem de tempo, como uma alegoria social de transição, como se ali houvesse um portal para a passagem das coisas no tempo, proclamamos a renovação da existência dos seres e das coisas no transcorrer da existência. Mas a vida propriamente não se renova, tampouco haveria portais do tempo. Nossa imaginação sobre o tempo cria derivação sobre o fantástico, o sobre-humano, o super-humano. Para podermos viver essa vida é sempre urgente nos colocarmos como seres fora do tempo.
O que deixamos como marcas de vida precisa ser homologado pelos outros que testemunham nossa existência. Será deles que se fará nossa imagem e identidade. Cada um de nós só pode ser pela terceirização da formação de imagem e identidade. São os outros que dizem quem somos, como somos. A consciência que podemos obter de nós mesmos requer o esforço de se observar como se fosse um terceiro, como se um outro “eu” pudesse se afastar de mim e falar comigo sobre meus passos, meus caminhos, minhas escolhas.
Sempre terceirizado, até mesmo por mim mesmo para poder me enxergar, posso perceber em mim meus “pecados” sociais e pessoais. Por este caminho, ao me perceber como um errante, posso evitar a prepotência, a arrogância, o egoísmo. Posso entender minha formação, as forjas que recebi de meus pais, minhas revoltas e intolerâncias, minhas atitudes de agressividade, violências e necessidade de vingança.
O tempo de viver é o incorrer, o correr para dentro de si, a potência de não poder adiar a forma de se ver no espelho. O tempo de eu viver não pode obter adiamentos e nem poderá esperar por portais mágicos de amadurecimento pessoal. O tempo não está nem aí para mim! Eu é que devo estar atento ao tempo de viver!
Depois, amanhã, jamais poderei ser! É e sempre será um plano feito de hoje e agora! Uma homenagem ao amigo Alexandre, cuja vida percorreu pelo bom tempo!